A quarentena decretada pela governação comporta, para
tanta gente, uma atitude de recuo perante a realidade. O sitiar da cidade
alimenta ideias sobre a anulação da participação política.
Apesar das limitações e condicionamentos colocados à
vida em sociedade ou com acrescidas motivações ampliadas pelos constrangimentos
impostos ao exercício das liberdades, as preocupações sociais e o empenhamento
político ganham ainda maior sentido. Mais ainda aos indivíduos e às
organizações se coloca a necessidade de encontrar outras formas de exprimir a
sua força, de abrir brechas e ir fazendo coisas com algum impacto, que permitam
mudar a vida.
Quanto mais se tornam espessos os muros desenhados
pela governação, maior urgência se coloca à intervenção na história, não só
pela tentativa de outra ordem de coisas, mas também na descoberta de momentos
de mudar a vida.
A atualidade e a pertinência do ato político emerge
como a necessária acutilância, como o dever da palavra para denunciar o tipo de
sociedade em que vivemos; para dizer que é imperativa uma outra ordem de
coisas.
O ato político adquire força inadiável, não tanto ao
nível do exercício do poder que regula a vida coletiva, mas como a iniciativa
vocacionada para promover o agir transformador, para transfigurar a vida.
No meio desta quarentena a intervenção política é um
imperativo, a política, entendida como um instrumento, uma mediação, uma esfera
de mudança da vida e de criação de uma sociedade outra.
Quanto mais crescem as condições adversas ao
relacionamento social e quanto mais conduzem à repressão, a ação política, como
manifestação da liberdade humana e como sinal da sua possibilidade de intervenção,
mais se justifica.
Sitiar a cidade não pode cercear a política!
Mais ainda agora se requer uma ação continuada para comprovar
que os direitos não estão de quarentena, suspensos ou liquidados. Esta é a hora
de os defender!
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