A luxúria é um dos sete pecados capitais, elencados no
Ocidente pelo Papa Gregório I. Precisamente sobre esta temática, realizou-se
ontem, dia 23 de Outubro, de 2019, no Bar Regiões, na Rua Direita, Funchal, uma
tertúlia muito viva e interessante.
A conclusão que se chega é que vivemos um tempo onde
se confunde tudo. Tinha por base este debate o livro «Luxúria» de Emmiliano
Fittipaldi, que conta a história de luxúria, o pecado mortal, cometido por
padres, bispos e cardeais protegidos pela carapaça do poder. Foram palestrantes
o Ricardo Miguel Oliveira, Diretor do Diário de Notícias do Funchal, A
professora e historiadora Cristina Trindade e o professor de música Carlos
Gonçalves. Evento promovido pela biblioteca da Câmara Municipal do Funchal.
O livro em causa não é nada inovador, está na linha de
uma série de livros que têm vindo a público sobre a mesma temática, talvez o
mais famoso seja o recente «Armário do Vaticano», de Fredéric Martel. Todos
eles resumem-se a relatórios de escapadas sexuais. À cabeça a prostituição e a
pedofilia de clérigos próximos do Vaticano. Para mim muitas das situações
relatadas, além de vê-las como pecados capitais, são crimes que, muitos deles
já foram julgados e outros estão em vias de o serem. Para todas as situações
está determinado veemente pelo Papa Francisco «tolerância zero» e também creio
que é urgente purificar as instituições de todas as perversões sexuais.
Mas vamos ao tema da luxúria. O nosso tempo é pródigo
em confundir tudo. Mete-se facilmente tudo e todos no mesmo saco ou então se mistura
tudo com tudo. As generalizações são outro veneno que prejudicam muito toda a
gente. Para a maioria luxúria é sexo e muitos consideram ser
unicamente pedofilia. Logo depois também se mistura prostituição e
homossexualidade. É inaceitável tudo isto. E precisamos clarificar os conceitos
para nos livramos das injustiças.
Assim, para que nos entendamos, a luxúria não é só o
pecado da carne e tem um sentido muito mais lato do que aquele que nos nossos
tempos lhe damos. Muitos dos pecados da carne, não são pecados, são crimes e
devem ser julgados nessa base. E todos os crimes que fazem vítimas e causam
sofrimentos, quem os comete deve ser chamado à responsabilidade e se for caso
deve pagar bem por isso.
No livro «A Ciência do Pecado» de Jack Lewis,
cientista inglês, analisando cada um dos capítulos foi explicado que os pecados
capitais só são prejudiciais à humanidade quando cometidos por excesso e todos
resultam de explicações neurológicas bem determinadas no funcionamento do
cérebro. Perante as incontornáveis tentações, pergunta o autor, «porque
escolhemos fazer o que não devemos?»
- Não deve ser por acaso que muitas vezes se ouve as
pessoas afirmarem perante as atitudes excessivas, serem elas resultado da falta
de juízo e que a nossa cabeça é um relógio. Por isso, a meu ver seria útil
retirar a palavra «pecado» do meio disto tudo e chamar cada uma das situações
pelo seu repetivo nome. Tudo que sejam excessos de luxúria e outros excessos
são crimes. Alguns devem ser julgados pela justiça humana e os outros, se
implicam só a saúde e o bem estar do próprio que o comete, que aguarde
descansado pela justiça divina.
Por isso, deve querer Deus que alguns dos pecados
capitais tragam prazer para todos nós se não nos fazem mal, se não fazem mal
aos outros e ao mundo. Que mal haverá numa dose consciente e bem medida de
orgulho, de gula, de luxúria e preguiça? – Mas, que nos livremos sempre da
avareza, da ira e da inveja.
Mas melhor que tudo para vencer as tentações, pode
ainda servir justapor com virtudes os pecados capitais. Penso que tal fará bem
à saúde corporal, espiritual e social. Vejamos. Em vez da soberba (orgulho)
venha a humildade; avareza dê lugar à generosidade; a luxúria traga
respeito e contenção; a ira conjugue-se com a paciência, o perdão e a
tolerância; a gula seja substituída pela temperança e moderação; a inveja se
revista de amor e, finalmente, que a preguiça nunca se canse da diligência e
não se vergue à lerdeza.
A luxúria junto com os 7 pecados capitais, devem
servir para aprendemos a lidar com as tentações e os excessos, não pelo medo de
Deus ou de regras proibitivas, mas sim pela consciência que não fazemos o bem a
nós mesmos e aos outros se não procurarmos ser equilibrados com os nossos
desejos e ações. Quem perde o juízo, o bom senso e abdica da capacidade pensar,
faz todo o mal a si mesmo, aos outros e ao mundo inteiro. A escravidão que daí
resulta, havendo pecados a sério, é este o maior dos pecado.
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