O fracasso total de Deus (atenção à letra maiúscula), como entidade do amor
total que liberta de todas as formas de escravidão está à vista de todos nós.
As novas lideranças políticas que por esse mundo fora estão à assumir o
poder governativo dos povos, farta-se de falar de deus (atenção à letra
minúscula). No discurso de tomada de posse de Jair Bolsonaro, a palavra mais
ouvida foi a palavra deus.
Mas de quem se trata este deus? - Não será seguramente o Deus bíblico da
libertação dos escravos, mas o deus exclusivista que parece proteger apenas os
iluminados e despreza todos os outros quando pensa em sentido contrário, porque
pautam a sua vida pela diferença de qualquer género. Não é o Deus universal da
paz, do direito e da Constituição.
Os tempos são perigosos e tudo o que se dizia dos grupos fundamentalistas
islâmicos quando instrumentalizavam o nome de um deus, para infligirem
atentados terroristas contra as sociedades ocidentais e semearem o ódio contra
o diferente, serve agora para avaliarmos esta forma de governação, que se
baseia na proteção divina para intentar políticas contrárias aos princípios e
valores democráticos.
O Deus cristão-judaíco é um Deus pacificador, que liberta da escravidão da
pobreza e incentiva à luta contra todas as injustiças, não é um Deus vingativo,
carregado de violência desprovido da beleza incontestável das bem-aventuranças.
O deus dos populismos inspirados nos novos movimentos religiosos (as seitas),
tipo Bolsonaro, Trump e Erdogan entre outros, é o deus dos privilégios, que não
se compadece dos que sofrem por serem diferentes. É o deus dos excluídos das
benesses que a vida injusta deste mundo sempre confere a alguns
contra o sofrimento das maiorias. Este deus infunde medo naqueles a quem
deveria oferecer proteção. É um deus que fala pelas armas, pelas palavras duras
que impelem à vingança castigadora exemplar. Fala do ódio com as suas regras
apertadas que se não forem ouvidas devem fazer imperar os gritos ensurdecedores,
porque na perpetiva destes mandantes quem fala mais alto tem razão.
O Deus que fala no silêncio do coração em busca de paz e de diálogo não
cabe no poder dominador sobre os demais dominados. Eis a vingança de um deus
tomado pelas ideias mercantilistas das seitas religiosas que as leis
democráticas permitiram que se organizassem e funcionem desregradamente com
serviços manipuladores dos cérebros das pessoas simples, sob a capa de
religião.
Em nome da laicidade e da equidistância dos Estados, permitiu-se
a instalação de movimentos religiosos, que fabricaram uma ideia de deus totalmente
desfazada da realidade da vida e totalmente fora da mensagem da tradição
bíblica.
Este deus da cabeça dos «pastores» que inspira os Bolsonaros, os Trumps e
os Erdogans, que no maior desprezo pelas regras democráticas, vinga-se do Deus
da paz, da inclusão de todos na mesa do amor, porque não deseja para ninguém
senão que tenha medo de ter medo.
Porém, ao mesmo tempo cabe-nos lutar para que o deus da escravidão não
volte a ser inspiração de ninguém, mas que Deus tome o seu lugar no coração da
humanidade, que não deve desejar para nenhum dos seus semelhantes a paz podre
de nenhuma forma de escravatura.
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