Onde, como, quando, com quem, para quem, por quem ?
(Parte I – a ideia da festa)
Nos últimos tempos, anteriores, muito anteriores e muitíssimo mais anteriores, as noticias sobre o novo hospital, têm, dia sim e dia não, nos jornais e TV (Madeira) e nos meios de informação que contam (as redes sociais), sido constantes, diversas, palermas, tontas, mais ou menos escrupulosas, tendenciosas, falsas, verdadeiras, informativas, não informativas, más, boas, menos boas, estúpidas, menos estúpidas, eleitoralistas, ... e um aí fora de adjectivos, ao sabor de cada cabeça (ou falta dela ), tornando-se na Madeira (que fala), quase um case study de paranóia.
Concordemos que “constantes”, “diversas”, serão os adjectivos mais qualificados e verdadeiros, para definir a coisa.
Concordemos também, que esta obra é “pensada”, “discutida”, “trabalhada”, “estudada”, “projectada”, “prevista”, ... desde os tempos de antanho (poder-se-á chamar já o tempo de AJJ de antanho ?), tendo sido mais ou menos usada para fins eleitoralistas, ou como arma de arremesso em relação aos governos de Lisboa (qualquer que tenha sido o primeiro-ministro, Sr. Silva incluído). Faz sempre bem arranjar um culpado. Foi assim, é assim e veremos que talvez seja assim.
Assumamos também, que os sucessivos governos da Madeira (todos PSD e oposição !!! Qual ? Não esqueçamos desta) quiseram tomar e administrar um conjunto de serviços, sendo um deles o Serviço Regional de Saúde. A lógica, que imperou nessa tomada de posição, numa altura em que na RAM o dinheiro entrava a rodos (e absolutamente descontrolado, mas essa é outra história) foi única: tornar a Madeira senhora dos seus destinos, não querendo a “colonização” de Lisboa. Quantos mais serviços regionais melhor, mostrando a necessidade de ser-se um País dentro de outro País, porque afinal ... não se precisa de ninguém, somos superiores, e temos aquilo que faz girar o mundo, ou como se diz, "a coisa com que se compram os melões". Aqui entre nós, nunca nos explicaram que aquilo não era de graça e que a factura, mais cedo ou mais tarde, seria recebida.
Senhores do nosso destino e autistas, ou não percebendo o essencial de história ou economia (às malvas o que Keynes, Friedman, Galbraight ... defendem ou diziam ), o discurso de sermos bons, sermos os melhores, de sermos o umbigo do universo, de termos educação próprias e melhor (com uma história Madeirense mais apropriada aos objectivos do “estado regional”, caso dos livros retirados e director demitido) foi o discurso da altura (junte-se os ingleses q.b., a esquerda q.b., Lisboa q.b., cubanos q.b., Madeira Livre q.b. ...) que se mantém. Por todos os autores e fautores da politica regional, sem uma única e honrosa excepção.
O pensamento de curto prazo, primou, as consequências das decisões não foram previstas ou se previstas, a lógica do “ultimo fechar a porta e desligar a luz” foi a usada. Faça-se, logo se vê.
Allan Greenspan dizia que “o papel da Reserva Federal é de retirar a taça do ponche, quando a festa está a começar”. Infelizmente na Madeira (Continente também, mas lá iremos noutra conversa), ninguém retirou a taça de ponche e a festa e o regabofe continuaram, continuaram, ... até chegar-se ao ponto de os convivas, chefe de sala, orquestra, apesar de serem outros (?) começarem a perceber da necessidade de trocar as bebidas de rótulo preto (ou verde, conforme o convidado) por outras, primeiro misturando, depois começando a comprar no alambique do vizinho. Porque, nestas histórias, existe sempre um vizinho. O que cobra? Não sabemos ainda, ou talvez já vislumbremos, mas podemos perceber que é mais qualquer coisa, do que o simples convívio.
Vamos abreviar, sabemos que a festa na Madeira (chegou-se à conclusão) tem bailarinos com recursos limitados, chegou-se também à conclusão, que não existe dinheiro para pagar (talvez) nem o espaço onde a festa é feita, a taça do ponche, secou e quando tem alguma coisa, ... volta a secar, o(s) vizinho(s) já começaram a ficar com alguns instrumentos e mesas de baile (até o snooker do canto e o bowling da esquina que davam uns trocos, foram para eles), restando a slot-machine, portanto, a ideia é, como continuar a festa? Mas agora como uma pequena nuance: como fazer a festa, fazendo de conta que os sapatos não estão rotos e as roupas são das melhores, a orquestra é de top, o espaço é bonito, o barman e as bebidas têm rótulos bons ( mesmo vazias as garrafas ou com conteúdos maus ) mas ... tudo lustroso.
Continuemos então no Hospital, depois desta história da festa/baile (que nos estão a dar ?).
Concorde-se que é necessário e urgente, ter a Madeira um hospital novo. Mas, atenção, não é com um hospital novo, que os problemas na Saúde da Madeira desaparecerão. E porquê? Porque, como na história do baile de cima, os bailarinos, chefe de orquestra, chefe de sala e ademais ajudantes, são os mesmos, estão a uma "caterva" de tempo a pensar e fazer o mesmo, com as mesmas soluções tontas e curtas e os problemas de financiamento (quem paga a entrada para o baile e o mantém, neste caso o hospital) irão continuar.
Concorde-se com uma simples coisa: ninguém, mesmo ninguém, está de acordo com coisa alguma sobre o hospital. Nem pelo base, que é como que dizer, quanto custa e quem paga ? Olhemos, para os putativos partidos que poderão liderar um futuro Governo Regional:
- No PSD-M, são “mais as vozes, do que as nozes”. Muitas opiniões, muitas discussões (públicas ou privadas) e mais nada. O actual governo, só sabe que tem de fazer o hospital e ... mais nada. O resto, ... um plano, um protejo, uma forma de gestão, uma ideia para a gestão ... nada. Silêncio absoluto. Em resumo: tem que se fazer, custe o que custar, preocupe-mo-nos em arranjar 200, 250, 300 , 350 milhões de euros ( o Costa mau dá, 20, 30, 40, 50, quer asfixiar, os madeirenses estão por conta própria, novo neocolonialismo de Lisboa ...) e depois de se ter o financiamento (onde, como, em que condições, com recursos próprios ou alheios) logo se pensará em como manter a nova obra de fim do ultimo regime? Ou do velho fim do ultimo regime? Ter-se um hospital moderno (é o que se diz) que está a uma distância máxima de 30/40 minutos de qualquer ponto da ilha, o questionar da necessidade de 10 centros de saúde e demais ( não incluo Porto Santo ), a optimização necessária dos recursos humanos e materiais existentes, são um não problema. Como manter em funcionamento esta obra, maior e mais complexa, quando não se consegue "funcionalizar" a existente? Construa-se e logo se vê, é a resposta.
- No PS-M, está-se à espera do Costa, não o do Castelo, mas aquele de São Bento em Lisboa. Não se percebe muito bem se será um Costa intervencionista, com um Centeno de esguelha, ou se será um Costa tipo Guterres, onde existe tempo para tudo e recursos para todos. Depois, o mesmo silêncio do PSD-M sobre uma ideia, um projecto, qualquer coisa que não o construa-se. Nada, zero. Noves vezes fora, zero.
- CDS-M, umas ideias soltas aqui e ali, mas muito, muitíssimos leves. De tão leves que o vento as leva e desaparecem, tão rápido, como apareceram.
- JPP, Lá está, aquilo parece “colado pelo cuspe”. E a cola e o que cola ? Onde está ?
- Confesso que pela esquerda, não me tenho apercebido de nada. Vale pelo todo e o todo não vale nenhum.
O aborrecido nisto tudo, lá está, existe sempre um aborrecimento, é que ninguém faz mesmo, mas mesmo, ideia alguma do que diz, pretende fazer, o que fazer, como fazer e depois, muito importante, mas mesmo muito importante, como manter, desenvolver, melhorar, transformar, enquadrar, ... Construa-se e logo se vê. Elefante branco à vista ? Ou uma baleia branca na costa ?
Nós, pobres bailarinos nesta festa tramada, perguntamos, depois das espetadas comidas, dos foguetes lançados e dos discursos repetidos e repetitivos: “quem paga, estúpido?” (1) . Mas nessa altura, apenas saberemos que a orquestra, o chefe de sala e os ajudantes saíram, os novos nada sabem do que os outros fizeram e chegamos à conclusão que seremos nós a pagar (de novo ) o baile (2)
(1) (James Carvile, 1992, estratega na campanha presidencial Bill Clinton, que venceu, dizia “é a economia, estúpido” )
(2) Galbraight “A única função das previsões económicas, é tornar a astrologia mais respeitável”
Observação 1
Um agradecimento aos autores da GNOSE que me permitem a expressão das minhas ideias neste blogue, aumentando e aprimorando o meu conhecimento.
Estive a trabalhar na RAM durante cerca 20 anos, onde muito da minha vida profissional se fez e onde mantenho belíssimos amigos. Estando hoje fora de Portugal, a distância permite-me ter uma visão diferente sobre o Continente e a Região, mais afastada, mais equilibrada, mas nunca de menor interesse. Um obrigado a esta belíssima região, que, mais importante de tudo, viu os meus filhos serem criados e onde um deles ... apareceu.
Nesta minha colaboração com a Gnose, tentarei, dado ocupar funções executivas e operacionais em diferentes áreas de negócio, incluindo a gestão administrativa na área da saúde, colocar a minha experiência e vivência, nas opiniões escritas. O facto de profissionalmente ter que me deslocar a outras regiões e países, permite-me observar, o que se faz, em idênticas situações. Espero poder transmitir e passar estas experiências
Observação 2
O tema do hospital será tratado de novo numa outra publicação brevemente. Espero que até lá, um raio de luz apareça e nos ilumine a todos e possa responder já a algumas questões aqui colocadas. Haja, esperança.
Leitura recomendada de artigos posteriores:
Hospital II: Novo Hospital: sinais de alarme à vista?
Hospital III: Novo Hospital (parte III): Também tu, Einstein?
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