Novo hospital: sinais de alarme à vista


Novo hospital ? Onde, como, quando, com quem, para quem, por quem?
(parte II – Sinais de alarme à vista)

Notas Prévias

Nota 1 - Este artigo, vem na sequência de um outro que foi publicado a 13 de Novembro sobre o Novo Hospital da Madeira. Faço desde já uma declaração de interesses: usufrui ( e não paguei ) de muitas obras de “fachada” feitas na Região, nomeadamente as praias, especialmente  da Ribeira Brava. Segui atentamente (estive lá na inauguração) a grande partida de xadrez, entre a teimosia do Governo Regional e a teimosia do mar, na marina do  Lugar de Baixo. Xeque-mate em três lances a favor do mar.  À pergunta que na altura fazia de como se pagava aquelas obras e o parque desportivo , disseram-se os amigos e “insiders da estrutura governativa”, em “terrenos do campo de futebol”, no parque de estacionamento e lojas para aluguer junto à praia, … que a sociedade de desenvolvimento do Oeste tinha tudo OK, que a câmara …, que aquilo traria empresas e portanto mais impostos !!!! os estudos financeiros estavam lá (na Sociedade de Desenvolvimento da Ponta Oeste)  e não mentiam, as folhas de excel estavam afiadas … um sem numero de "ok´s" e nenhum "atenção que ..."  Cheguei depressa à conclusão, não foi difícil, que a Oeste, nada de novo. Havia era que desfrutar.

Nota 2 - O que se passa na RAM é “ipsis verbis” o mesmo que se passou no continente português. Aos anos de desvario do Sr. Silva, apareceu-nos o Guterres do queijo limiano e dos perdões, o Durão fugitivo da tanga ( que nos deu também comissariado ), o Sócrates das trapalhadas e agora um Costa sortudo, porque nada fazendo (esperem as cativações, a nova invenção ) faz-nos acreditar que o País está bom (será ?). Esqueci-me de referir um tal de Santana, mas esse, enfim …… não contava, excepto para a Conceição (não a das boîtes) . Claro que antes do Sr Silva, a desgraça já estava instalada no Continente, com a ópera bufa dada pelos militares e esquerda, pelas operetas de Soares e por um Carneiro morto prematuramente, mas que já tinha um Silva no governo, a tentar fazer aquilo que fez quando se tornou chefe (mas com a diferença de lhe deram uma taça de dinheiro sem fim). Depois do Sócrates e antes do Costa, veio um Passos, sem espinha, que isto de tanto andar e pôr-se de joelhos, custa. Depois coitado  apercebeu-se (ou deixou ?) que os vizinhos não estavam lá para o convívio e levaram uma série de jóias, certo que até pareciam bugigangas, mas os convivas tiveram olho na escolha (e que olho).

Nota 3 - Aquilo que chamo por regime na RAM, é um conjunto de interesses ( pessoais económicos ) que viram a entrada para a estrutura governativa regional ( e que estrutura …… directa ou indirecta ) com um único fim: assegurar um emprego, se possível com pouco a fazer, pouco complicado, sem responsabilidades, dando ou escrevendo uns "bitaites" vulgo memorandos, pareceres ....., tentando pular de gabinete em gabinete, sabendo de nada e  muito pouco de tudo, mas sempre assegurando uma remuneração o mais alto possível. Umas milhas em avião, eram sempre bem vindas. Houve honrosas e poucas excepções.  O Governo Regional, tal como a Hydra, tinha socialistas, sociais-democratas, centristas, outros "istas" e "ismos" ali á volta ( uns mais próximos, outros mais distantes ) mas que se uniam quando sentiam o seu “oficio” em risco. Se faz favor, veja-se então, este artigo como apartidário, tout court.
Vamos então à vaca fria ...
Novo Hospital ?

“O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustrar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza” – Drummond de Andrade

“O orçamento deve ser equilibrado, o Tesouro Público deve ser reposto, a dívida pública deve ser reduzida, a arrogância dos funcionários públicos deve ser moderada e controlada, a ajuda a outros países deve ser eliminada, para que Roma não vá à falência. As pessoas devem aprender novamente a trabalhar, em vez de viver à custa do Estado” – Senador Marco Túlio Cícero, ano 55 AC

Como referi no post/artigo anterior (13/11/2018) a construção de um novo hospital central na Madeira, é urgente e necessária. Acrescento mais: poderá ser a obra com maior impacto social, económico, financeiro (não é a mesma coisa) dos últimos anos na RAM. Na minha opinião, outra, com impacto idêntico, foi a expansão do aeroporto de Sta Catarina (desculpem, ainda escrevo na anterior ortografia) ou aeroporto internacional do Funchal e as infraestruturas rodoviárias necessárias (não, não são todas, muitas outras existiram e fizeram-se para nada).

Esta última, projectada e criada pelos governos do Dr. Alberto João Jardim (parabéns), veio trazer maiores e melhores facilidades de acesso na Madeira e para a Madeira. A criação da via rápida, ligou os centros urbanos com maior densidade populacional e permitiu um aumento apreciável na actividade económica ligada ao turismo, interno e externo e no comércio e industrias regionais.

Enquanto se realizava e se construía o novo ( ou a melhoria do antigo ) aeroporto da Madeira, tinha-se já entrado e acentuou-se na RAM um período obscurantista para a economia,  o chamado período Megalómano (nada de parabéns, Dr. Alberto João Jardim e sucessor).

Este período é caracterizado pela construção de redes viárias desnecessárias, de marinas em excesso, de parques industriais para poucos, de um sem fim de piscinas, parques de jogos, salas multiusos, pavilhões, praias perenes,  …… e muito outros exemplos poderiam ser dados. 

Mais importante, ao dinheiro resultante dos fundos comunitários (sem controle), juntou-se os empréstimos (mais ou menos, na altura, pouco plasmados nas contas da Região) contraídos pelas denominadas sociedades de desenvolvimento (cujas dividas não contavam para as contas), as tais SA's de tudo e para todos ( do regime ) , e onde imperou o “jobs for the boys “. 

Dinheiro fácil, tão fácil que teve consequências funestas: a criação artificial de emprego (pleno emprego !!!! ), o aumento de rendimento (fictício) das famílias, o aumento, por via de impostos (fictícios), das receitas da Região (particulares ou empresariais). 

A Região, entrou numa orgia de excessos despesistas, como se um poço de petróleo tivesse sido descoberto ao largo. Mais, a continuação e exagero nas obras publicas, criaram durante décadas, volto a repetir, uma economia artificial, sustentada em …..nada. O aumento exagerado do funcionalismo público, as benesses sem fim, a não racionalização das despesas e receitas e a não existência de uma iniciativa privada autêntica, não dependente do governo regional, finalizaram a vida económica da Região num binómio : Estado Regional – Estado Regional.

A politica dos sucessivos Governos regionais (a oposição se havia, ou abençoou ou queixou-se qb) foi tornar a economia da Madeira, estatizante. Vemos isso na actual Venezuela…. Os exemplos são muitos e as consequências devastadoras.

As empresas tornaram-se subsídio-dependentes (imagine-se que a AFA foi considerada a maior empresa Portuguesa de obras públicas !!!!!! em 2004), o povo tornou-se subsídio-dependente, o estado regional tornou-se viciado numa politica de curto prazo, alavancando dívidas enormes, para fazer-se obras públicas ou “parcerias” sem nexo ou critérios válidos, que mais cedo ou mais tarde, teriam de ser pagas. 

Pior, criou-se uma “massa falida” de dirigentes, ex-dirigentes, ex-funcionários, reformados (sabia que a RAM é a zona do país, percentualmente com reformas mais elevadas ?) que numa dança de cadeiras se perpetuam a fazer ….nada, com um grau zero de rentabilidade, eficiência ou outro, nas tarefas que lhes são pedidas para fazer (todos conhecemos alguém, que foi ex-presidente e que agora é assessor do consultor do assessor …). Numa linguagem entendível por todos: “estão a encher pneus”. Estas pessoas, alternando-se nos cargos,  ou por limite de idade reformados (e com muito boas reformas) foram sendo substituídos por “yes-man”, formados nas escolinhas partidárias e que de trabalho, só conhecem a palavra. Para aumentar o nosso desespero, foram formados e mal formados (de pequenino torce-se o pepino) nas mesmas e velhas politicas, vamos repetir de novo: do curto prazo, da inconsequência, da ausência de visão, para não falar-se no desleixo ou mesmo, incompetência. Um conjunto de bem falantes, com uma ausência total de visão da realidade da RAM.

E a realidade da RAM é esta: um território pequeno, com uma dimensão de um dos maiores concelhos do Continente, Sintra, com um aeroporto excelente, com uma mancha hoteleira excessiva (turismo de qualidade x turismo de massas), um parque escolar bom mas excessivo ( escolas novas sem alunos), quartéis de bombeiros voluntários (só em nome ) na maior parte dos concelhos (quem os paga ?), centros de saúde um pouco por todo o lado , caminhos para poucos ou nenhuns, empresas municipais e regionais de rentabilidade nula, obras sem fim em ribeiras.... e poderíamos continuar. E tudo isto acontece, numa região onde a vantagem de poder estar-se perto de tudo, foi menosprezada. Incrível !!!!

Uma região onde a industria do Turismo é fulcral, mas que está perder-se para novos destinos e nada fazendo para contrariar o óbvio, excepto o mesmo de sempre ( ou á espera de um milagre ). Uma região onde o dinheiro investido não criou uma única obra auto-sustentável (se estiver errado digam-me qual).

Não existiram regras, não existiram critérios, nunca existiu um rumo ou uma acção, para criar na Região, um conjunto de serviços, empregos, estruturas, que poderiam num médio e longo prazo sustentar e manter a vida económica da RAM, diminuindo a dependência no Turismo,  depois da “torneira” fechada dos fundos europeus ( lembram-se da asneira de nos tornarmos região classe I, como Lisboa ou Porto? com a consequência de perdas de fundos europeus do segundo pacote ?).

A propósito, fala-se numa Ribeira Valley, que de valley nada tem, mas uma ou duas empresas que precisam do governo, adormecem e acordam pelo Governo, dependem em muito do que vem lá de fora  ( vulgo dinheiro europeu ) e empregam ( veja-se isto ) técnicos das Áfricas quando em Lisboa as grandes multinacionais (Google, Microsoft, Siemens, …) vão buscar e lutam pelos nossos engenheiros. Compreende-se, a politica do salário baixo e rotativo impera. (Ahhhh, entendi, estes técnicos já são madeirenses. Está-se a dar emprego aos madeirenses, “entendi-te”, de outras paragens). 

Reconhecem na citação de Túlio Cícero, algo nesta conversa toda, de familiar ? Não, como é óbvio. E o senador, só disse o que qualquer dona de casa poderia explicar em vários “think-thanks” promovidos na RAM: sem omeletes não se fazem ovos, e a conta do merceeiro tem que ser paga, caso contrário, passar-se-á a comer apenas massa e feijão. 

Em resumo, o despesismo reinou. A questão que se coloca é se, quem dirigia sabia o que fazia ou não fazia ideia nenhuma da trapalhada onde estariam a meter a RAM (e a nós claro). Se, achavam que o dinheiro (o crédito do merceeiro) teria de ser pago, ou se, achavam que o merceeiro estava ali apenas para convívio.

Caso acreditemos que quem dirigia, sabia que mais tarde tinha de se pagar, devíamos levá-los de novo á escola básica e pespegar-lhes um chapéu a dizer EU NÃO FALO VERDADE e obrigá-los a escrever 100 páginas de 100 linhas a frase “eu nunca mais vou ocultar ou mentir” ; se fôr o ultimo caso, se achavam que nunca se pagaria,  é coloca-los ao fundo da sala, com um chapéu a dizer EU SOU BURRO ( e depois relembrar os conceitos de adição e subtracção ).

O problema do novo hospital, é que, exactamente as mesmas pessoas, tipos de pessoas, ou outras que tais, que nos levaram a esta situação, pretendem gerir e pôr em pé, uma obra cujo impacto, vai para além da mera construção e funcionamento. Será, que se apercebem(os) disso ? É preocupante, não é ? E o histórico, não abona nada em favor.

A mesma inconsequência, ausência de rumo e desvario, vamos lá focar-nos, que criou e geriu um Serviço Regional de Saúde, que ao longo de décadas geriu infraestruturas hospitalares e de saúde, com os resultados medíocres que estão á vista, é a mesma que vai criar, funcionalizar e gerir esta nova obra. È como mandar o dono de uma taberna fechada pela ASAE, gerir um restaurante novo. Alguém aposta no resultado final ?

Em termos comparativos, o novo hospital da Madeira, servirá uma área geográfica e populacional, menor que o Hospital Fernando da Fonseca, vulgo Amadora-Sintra. Menos gente, menos território, maior proximidade portanto, implicando maior vantagem ( no mínimo, maior rapidez da população da RAM ao hospital ). Mas, estão a ser criadas condições para optimizar esta vantagem única ?

Pelas noticias que se ouvem na rádio, lêem-se nos jornais e redes sociais e vêm-se na TV-Madeira , existem um conjunto de questões que, ou por ser cedo , falta de interesse ou ainda por falta de tempo, não têm sido faladas (exceto uma entrevista, de um out-sider, onde defendia 700/750 camas !!!!!! para o novo hospital, valha-nos Deus).


Aqui chegados e quem lê isto, já diz, mais um que escreve, fala no óbvio e nada diz. Por isso, se faz favor, deixem-me ajudar e assim sendo coloco já algumas questões (na expectativa de que esta infraestrutura será inovadora na pratica e objectivos) que julgo pertinentes:


1) Como enquadrar esta estrutura no espaço geográfico da RAM?

2) Como funcionalizar esta estrutura?

3) Que tipo de relacionamento se fará com a rede de centros de saúde existentes?

4) faz sentido existirem estes centros de saúde, ainda por cima alguns deles abertos 24h e com camas ? se não, o que fazer e aos seus profissionais ?

5) Como preparar profissionais altamente desmoralizados, para serem enquadrados em algo, tecnicamente mais exigente?

6) Que tipo de relacionamento existirá com os privados? fará sentido haver tantas unidades privadas de saúde, que farão concorrência a este hospital ? como se comportarão e os seus sócios ou accionistas ? (um exemplo, se medicina nuclear for criada, a empresa que na região faz isto, será afetada ?) ; serão absorvidas ou prestarão cuidados de apoio (camas ?)

7) Que tipo de valências serão criadas ? e se criadas, terão capacidade em recursos humanos e materiais?

8) Quer-se um hospital com idoneidade e em quais serviços para receberem formandos ? implicando um numero de técnicos de qualidade e quantidade para tal, onde iremos encontra-los?

9) Sendo que em média entre 70  a 80% das cirurgias, implicam uma estadia média de 3 dias no hospital, pelo utente, que a maior parte destes poderá fazer em casa a sua recuperação, existirão ou foram pensadas equipes de apoio domiciliárias ? ou serão usados os actuais centros de saúde ? faz sentido criar estas equipas e ter estes centros abertos?

10) Qual será o ponto de equilíbrio a ser criado, por forma a qualidade de tratamento no utente (que se obtém com melhores e mais qualificados profissionais de saúde e equipamentos) se conjugar com o custo do mesmo? (vá lá, aquela desculpa de se dizer que a vida não tem preço é velha).

11) Que relacionamento com a Escola de saúde? hospital escola?

12) No caso de cima, existem profissionais de saúde suficientes e habilitados, para a criação deste hospital escola, ou ter-se-á de os trazer do Continente ou espaço europeu?

13) Que transparência existirá com os profissionais de saúde com pequenas participações (societárias ou de trabalho) em clínicas e laboratórios privados na RAM, e que trabalharão nesta nova infraestrutura?

14) Qual a aposta nas novas tecnologias e num hospital limpo de papel? 

15) Esta infraestrutura apostará em energias limpas e meio ambiente?

16) Que tipo de certificação prevista? quem a fará?

17) Que tipo de novo interface surgirá entre os profissionais deste hospital e os utentes?

18) que tipo de gestão se pretende? que controle vai existir? uma gestão privada ? uma gestão publica? Um mix? Qual a autoridade? de quem a responsabilidade ? a gestão de hotelaria será distinta e á parte da gestão técnica ? Fará sentido a gestão modular de valências? 

19) Quais as projecções económicas e financeira a 1, 3 , 5, 10, 15 anos …..? 

20) Quando começa o serviço de divida, a amortização do investimento e o inicio do retorno do investimento?

21) Qual o valor previsto para manutenção funcional, técnica e material do hospital?

22) Que modelo logístico se pretende?

23) Como pode o novo Hospital, ser uma excepção à regra geral das empresas regionais, de contratação de pessoas menos habilitadas e não aquelas de que "gostando-se" menos, serão as mais qualificadas?

24) Como premiar os profissionais de saúde, aqueles com melhores e mais eficientes práticas, daqueles piores ? Ou vale tudo pelo mesmo?

25) Terá este hospital laboratórios e técnicos com capacidade de fazer análises em períodos curtos (equipamentos mais modernos)? ou vai-se continuar a utilizar os privados por falta de resposta?

Outras questões existem  (são tantas), mas deixem-me colocar aquela que será, na minha opinião a mais importante: qual o grau de eficiência, autonomia (técnica, financeira e operacional) que será dada à gestão do novo hospital, como será efectuada a sua escolha (de fora ou de dentro da RAM !!!! ) quais os objectivos tangíveis e intangíveis, que lhes serão entregues e quando, mas quando o Hospital começará a pagar-se a si próprio ? Será um elefante branco ? mais uma infraestrutura a pedir sempre mais e mais  recursos, que a Madeira não possui, ou será a primeira obra regional a autofinanciar-se?

Um governo do povo, pelo povo e para o povo, (discurso de Gettysburg, Abraham Lincoln) . Esta simples frase resume tudo o que deve ser um Governo e quem o dirige. Infelizmente nunca foi praticada, aqui na RAM (ou Continente), com todas as consequências funestas  inerentes. 

“Não sei se sou meio burro ou inocente. Só agora percebi, depois de tanto tempo, o real significado da frase“, ”nunca antes na história deste país, alguém tirou tantos milhões da pobreza", "Achava que por , milhões,  se referia á pobreza” – Anónimo brasileiro

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Leitura recomendada de artigos, anterior e posterior:
Hospital I: Novo Hospital?
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