O "Fascismo" ainda mora entre nós ...

Comemora-se hoje mais um aniversário da revolução do 25 de Abril de 1974. Herdámos na sequência desse acto revolucionário uma constituição que consagra direitos sociais, liberdade de expressão, organização, associação, reunião e manifestação, que consagra vitais direitos liberdades e garantias individuais, e um estado de direito que teoricamente garante que ninguém pode ser prejudicado, sancionado ou perseguido por expressar publicamente a sua opinião, e que teoricamente nos resguarda de abusos de autoridade e de quaisquer poderes discricionários por parte do Estado…

Nestes tempos 'covidianos' estamos a assistir a um perigoso retrocesso dos valores e liberdades que Abril nos permitiu.

O regime inaugurado por Benito Mussolini, na Itália, em 1922, ficou conhecido como 'fascista', porque esse era o nome do seu partido único, sendo que a palavra latina 'fasces' denominava um feixe de varas fortemente amarradas em conjunto com uma lâmina emergindo que os guardas dos cônsules romanos usavam para intimidar e punir os que não se submetiam ao seu poder. O fascismo mussoliniano definia um Estado totalitário onde o conformismo aos seus ditames era obrigatório e onde uma visão ultra-colectivista da sociedade esperava dos cidadãos uma obediência cega e muda, uma submissão e conformismo totais, em nome do 'bem' e da 'segurança' de um todo abstracto e genérico, o Estado e a Nação, neste caso, e empregando, para tal, a violência, a censura, a denúncia, o medo e a intimidação, a pressão social…

(Na realidade o "ultra-colectivismo" dos fascismos configura um 'pseudo-colectivismo', uma farsa, onde os constrangimentos ficam para as massas enquanto as elites partidárias que dominam se auto-isentam de tais exigências. O 'bem' que é defendido é o da elites e não o comum).

Assim a palavra fascismo define na perfeição todos as ideologias e todos/as os que sonham e exigem esse estado de conformismo e obediência sociais irrestritos em nome de 'todos' abstractos. Tais todos podem ir do 'Estado' e da 'Nação' passando pela 'Raça', até ao 'Povo', à 'Classe', terminando na 'Sociedade'. Sempre em nome de um falso 'bem' de 'todos', da 'segurança' de todos.

Podemos nomear de 'fascismo societal' um sentimento insidioso que existe às claras ou sub-repticiamente no seio da própria sociedade e que partilha a essência da visão totalitária e autoritária do fascismo político. Policiar os concidadãos, apontar o dedo, denunciar e censurar o inconformismo dos que pensam diferente do convencionalmente dominante, desejar punições e vigilância mais estritas, leis e regras mais autoritárias, exigir a obediência total e uma homogeneidade sem vozes dissonantes, eis exemplos de fascismo societal que permeiam o nosso dia a dia 'covidiano', nas redes sociais e não só… O fascismo ainda mora entre nós.

Como se já não bastasse o agigantar do neofascismo político nacionalista, este fascismo societal corrói os valores de Abril, corrói a noção de democracia pluralista de Direito, corrói a verdadeira noção de ética, e corrói o mais profundo da espiritualidade humana que radica experiencialmente no valor subtil e não mensurável da Liberdade.

Temos que continuar a lutar todos os dias, em todos os patamares, actos e circunstâncias sociais e individuais pelos valores de Abril, pelo valor supremo da Liberdade, hoje tão desvalorizado, secundarizado e espezinhado!

25 de Abril sempre, Fascismo nunca mais!

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