Chico Buarque


É com redobrada alegria que recebemos a notícia que músico e escritor Chico Buarque foi o vencedor do Prémio Camões 2019. Tanto a pessoa merece, a música merece e a escrita também. Disseram que a eleição de Bolsonaro fez chorar Chico Buarque, mas ao mundo que nos rodeia sem vergonha, há muito que perdeu a antiga nobreza de corar (de vergonha).

Os prémios, mesmo que se apresentem sem conotação política nenhuma. O deste ano está cheio dela e arrasta uma mensagem política muito grande, leva uma mensagem ao pre
sidente do Brasil, Bolsonaro e todos os que o rodeiam com o rol de disparates que andam a fazer contra os valores democráticos, a cultura e a educação.

Não vamos com esta leitura desmerecer o mérito de Chico Buarque, a sua elevada escrita e beleza da sua música. É um senhor que sabe estar, um apaixonado pelo seu Brasil, pela música e pela escrita que deixa ao mundo. Vale o seu cantar. Mas valem igualmente o pensar o mundo e a vida traduzidos no «dom da palavra» que anuncia o amor, a felicidade e o bem estar para a humanidade inteira. Vejamos o desejo mesmo que muitas das mudanças tragam às vezes o pior da humanidade: «As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem», disse.

Nisto deve estar a mensagem crucial para a política, não só a do Brasil, mas do mundo inteiro, por isso, deixo aqui: a «homenagem ao Malandro» (o album «A ópera do Malandro» também deve ser ouvido com atenção):
«Eu fui fazer um samba em homenagem
À nata da malandragem, que conheço de outros carnavais
Eu fui à Lapa e perdi a viagem
Que aquela tal malandragem não existe mais
Agora já não é normal, o que dá de malandro
Regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal
Mas o malandro para valer, não espalha
Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal
Dizem as más línguas que ele até trabalha
Mora lá longe chacoalha, no trem da central».

Fiquei contente com este prémio para o Chico Buarque (Francisco Buarque de Hollanda), não só por ele e pela sua obra, mas também pela mensagem que envia ao Brasil e ao desarranjo do mundo inteiro que presenciamos neste tempo que nos é dado viver.
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