1.
Também vi como uma larga maioria dos madeirenses a reportagem (ver aqui) e o debate da
Alexandra Borges na TVI sobre os negócios incompreensíveis da unidade nuclear
do nosso Hospital Dr. Nélio Mendonça. Obviamente que fiquei ainda mais preocupado e confuso. Mais
preocupado porque há muito que tremo de medo de algum dia ter que passar algum
tempo no hospital por causa de alguma situação de doença. Confuso, porque não se
compreende como pode alguém ter um Mercedes estacionado à porta, mas anda de
carro alugado, movido pela ideia de que o carro alugado é melhor e mais barato.
Sinceramente não entendo. A investigação em causa consiste nisto, o Hospital do
Funchal está a encaminhar os pacientes para fazerem exames de medicina nuclear
numa clínica privada, a quem paga milhões de euros. Enquanto isso, a sua
própria unidade de medicina nuclear, que foi construída e equipada com
dinheiros públicos e financiamento comunitário, está praticamente parada.
2.
Já várias vezes refleti tomado pelas imensas notícias negativas sobre o
nosso Sistema Regional de Saúde. A 3 de Junho de 2016 escrevi um texto que
replico dele adiante algumas ideias, para vermos como a saúde há muito tempo
anda a decair a pique, e mais agora que se descobre o quanto anda apanhada a
saúde na Madeira pelos negócios e os interesses de grupos económicos privados, que sugam quanto mais podem os nossos impostos. Tudo muito bem legitimado pelos governantes. É intolerável. E a única atitude que se esperaria devia ser
corar de vergonha quem nunca soube ou simplesmente não quer acabar com estas negociatas
prejudiciais aos madeirenses.
3.
Estamos mesmo doentes. O governo Regional anda doente. O nosso sistema de saúde
está doente. A sociedade madeirense ficou doente ou quem sabe se essa doença
não veio com as caravelas, que deixaram por cá uma doença crónica que nunca
mais nos libertou deste estado de doença fatal. Ou não haverá também alguma
loucura pelo meio? – Certo, é que este trapiche constante na saúde não pode
continuar.
4.
Nada do que se tem passado se tratará tanto de doença. Antes devemos considerar
que se trata mais de irresponsabilidade, falta de vontade política, arrogância,
prepotência, interesses privados, desrespeito pelos doentes e uma serie de
situações inadmissíveis que vão contribuindo, não tanto para uma doença
incurável nos hospitais, mas para um circo de que ninguém gosta da brincadeira.
5. Por isso, não nos fazem rir saber que faltam materiais necessários nos hospitais para
cuidar convenientemente dos doentes. Não nos fazem rir saber que as pessoas
entram na porta do hospital com uma determinada maleita e saem pela porta da
morgue dentro de quatro tábuas. Não nos fazem rir as várias politiquices à volta
da saúde. Não nos fazem rir que alguns se sirvam da saúde para fazer política
partidária. Não nos faz rir quando sentimos medo de visitar os nossos
familiares e amigos quando estão internados no hospital. Não nos fazem rir os
negócios com privados a valores elevadíssimos sacados ao Orçamento Regional,
quando tudo o que se faz no privado pode ser feito no
público de forma mais barata e quiçá em melhores condições. Não nos fazem rir
todas as situações esquisitas relatadas pelo médico Dr. Rafael Macedo. Um homem
que merece o nosso respeito e aplauso pela sua atitude tão corajosa, numa terra
de frouxos que tremem de medo todos os dias e deixam as situações se
arrastarem por cobardia e interesses pessoais. Eu sinto-me grato ao Dr. Rafael pelo
seu sentido de missão, amor ao serviço público de saúde e entrega à causa do
bem estar dos madeirenses.
6.
Tudo isto semeia mais desconfiança em relação a uma realidade tão importante
para a nossa qualidade de vida, o nosso sistema regional de saúde. Não pode ser
assim, precisamos que o Governo Regional se dedique à saúde e deixe de
andar entretido com a sua imagem e a propaganda.
7.
Por isso, devemos exigir responsabilidade em primeiro lugar à entidade que
tutela a saúde e que tudo faça para que tenhamos os melhores profissionais
empenhados e dedicados ao bem estar das pessoas quando estão doentes. A saúde é
o bem mais precioso que temos, não deve fazer parte de joguetes malévolos que
semeiam anarquia e medo. Muito menos devem as chefias serem escolhidas pelo
cartão de militância partidária, mas pela qualidade, formação que apresentam e sentido de missão.
Pensemos todos nisto, porque isto diz respeito a todos nós.
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