A dialéctica das obras errantes

Recorte do Miguel Sá
Vou confessar algo que costumo provocar para ver o jeito das pessoas. Publico situações de sucesso claro noutras paragens que ferem de morte as convicções errantes na Madeira. Não escrevo nada e fico a ver o resultado que, normalmente, é péssimo, ninguém liga nem lhe chama a atenção. Por 3 razões: bairrismo, orgulho e convencimento. Também fico a saber de que é muito cedo, apesar de ser tarde e pertinente, para focar o assunto. É um problema mental dos madeirenses que o maldito "Povo Superior" incutiu. Só a humilde faz crescer caso contrário viveremos isolados no estigma, a Madeira é um grão de areia no mundo e os outros não têm pachorra de aturar. Clarinho como água. Somos nós que morremos com as nossas opções sem culpa de ninguém.

Na Madeira existe o problema da dialéctica das obras errantes. Concebe-se mal, constrói-se barato mas factura-se caro, o tempo útil de vida é baixo e a manutenção mais do que frequente. Muitas vezes as obras tornam-se inúteis por erros cometidos. A cereja no topo do bolo, a consumação da dialéctica das obras errantes, surge quando uma obra serve para cobrir o erro da outra para não "materializar" um erro político e de construção. É o caso do Cais 8 no nosso porto. Melhor solução destruí-lo ou, prosseguindo a dialéctica, aumentar o molhe da Pontinha com custos elevados para a batimétrica que tem.
Neste momento, era bom consultarem o que diziam os antigos sobre como expandir a área de cais e verão o respeito pela natureza, não havia Povo Superior.

Quando trocaram uma praia onde a ondulação morria no calhau natural, obra inteligente e paciente da natureza e se substituiu por uma parede de cais, a ondulação vinda de frente (energia cinética) deixou de morrer para divergir para o interior da Pontinha. Foi assim que, com um Cais que nos venderam para receber um mamute da Royal Caribbean, inviabilizamos pelo menos 2 espaços de cais em áreas que estavam abrigadas e eram seguras, o do próprio Cais 8 exposto e as duas posições a contar da cabeceira da Pontinha para o interior. Ainda assim, toda a área interior do nosso porto se tornou muito mais insegura. Até o Lobo Marinho ao fundo, fim definitivo das correntes enfiadas para dentro do porto podem fazer sentar o Lobo Marinho na rampa. Tudo isto pode ser observado pelo crescente número de cabos de amarração partidos e até pelo arrancar completo dos cabeços de amarração (que também se deve pela falta de substituição por outros que dêem resposta ao aumento do tamanho dos navios). É por esta razão e na opção pelo local mais seguro num porto que se tornou turbulento que o espaço de acostagem predilecto é aquele entre o Molhe e início da área suspensa de embarque e desembarque (outra inutilidade). Se puxarem pela cabeça verão que é o mais ocupado de há uns tempos para cá ... a partir da existência do Cais 8.
O respeito pela natureza e a programação faz-nos ser bem sucedidos se acompanhados por estudos sérios e não os que mandam facturar na dialéctica das obras errantes.
Na Holanda, país entregue às vicissitudes da água de mar e rios, quando querem conquistar mais um bocado ao Ijsselmeer, fazem um teste hiper simples para constatar se a natureza concede autorização para se criar mais terra seca. Enfiam um pilar no lago, amontoam um pouco de areia à volta e deixam estar e vão à sua vida. Durante 10 anos vão observando, não têm pressa porque está programado e porque são precedidos de outros 10 anos antes e desses mais 10 e mais 10 ... Portanto, é um método antigo apesar de toda a tecnologia. Se durante 10 anos o monte de areia crescer e formar uma ilha e se começar a crescer vegetação espontânea é bom para se iniciar um processo de consolidação por etapas. Desenvolvem-se várias tipos de exploração até que finalmente chega o momento da construção. Nenhuma campanha eleitoral condiciona. Se nunca se amontoar areia, desistem e tiram o pilar.

Ainda temos presente a capacidade da natureza de, em poucas horas, "produzir" inertes na quantidade que todos se lembram estar no aterro do Funchal. Também têm presente como a junção das ribeiras de João Gomes e Santa Luzia criou uma solução que acumula inertes devido ao rebaixamento e deu a facturar por manutenção permanente. É outro erro da dialéctica que vai enriquecendo alguns. Na ribeira de São João, neste preciso momento, há nova necessidade de desassoreamento, enche rápido porque a natureza insiste em fazer praia. É um pouco o pilar de Ijsselmeer, o humano enfia e a natureza concorda mas, o problema é que nós queremos livre, com as correntes das ribeiras a funcionar e a área interior para navegar e acostar em segurança. Justamente o contrário! Na dialéctica das obras errantes, a natureza concede tempo às maroscas do homem. Dá tempo para limpar e facturar levando o material quiçá de borla. Mas se um dia sucede um 20 de Fevereiro todos estes "pilares de Ijsselmeer" poderão nos dar um imenso aterro em vez de um porto.

Temos precedentes de obras "muito bem estudadas" e é difícil não pensar que o aumento do cais da marina não é outra na boca de uma ribeira.

A Madeira, na arrogância dos seus governantes, está a perigar gravemente a indústria dos cruzeiros. As seguradoras estão a anotar tudo e avaliam os portos. Os navios reportam às companhias que reportam às seguradoras. As companhias só desenham itinerários com portos seguros, a todos os níveis. Se há indústria que se adapta rapidamente é a dos cruzeiros, se fazem confusão aqui ... vão para outro lado. Agora decidam-se, é pela dialéctica das obras errantes? É pela facturação? É a pedido dos lóbis da hotelaria, é pela inserção de actividades alheias aos portos? É pela exiguidade de manobras em terra e mar? É pela potenciação de norovírus? É o quê? Que políticas? Como diria um senhor deputado ... ZERO!

Não acham que o acrescento do cais da marina vai levar a natureza a dizer que é muito boa para encher com tudo o que vier na ribeira?

Uma curiosidade:

Kreupel (nova ilha no Ijsselmeer): nasceu com um pilar há muitos anos, aprovado o nascimento de uma ilha pela natureza, toda a areia da escavação de um canal foi aqui depositado. Depois sucedeu-se algo para se continuar a aprender, as aves disseram que gostariam de ficar aqui, os "lobos marinhos" vieram atrás e como o bicho homem, mais educado por estas paragens, disse que sim porque outras vezes cometem erros que levam áreas das aves. Chegaram a acordo. Abandonaram a ideia de explorar, ficou para a natureza.


Respeitar a natureza ajuda ao sucesso.
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2 comentários:

  1. Tudo dito, é que nesta ilha fazem a mer@a, a obra é paga, na maioria das vezes pelo dobro,o empreiteiro manda um envelope com notas "rochas"e depois o mar encarrega-se de Destruir,porque os responsáveis só enxergam o dinheiro fácil.
    o resto o povo paga e fica sem a obra. Neste caso é para dar de mamar a empresa que vai ter de fazer dragagem a entrada da marina duas vezes por ano porque não vai poder entrar barcos. nem sair. em terra de burros chulos é assim...

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  2. O povo "superior" que engana há décadas os Madeirenses para comprar votos e destruir o Turismo.
    São todos uns iluminados que acham se importantes,mas se o povo acordar as coisas irão mudar, correr com esta cambada de Sanesugas parasitas do sistema viciado.

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