Quando a invejidade dá cá um jeitão


Diz-se que os madeirenses são, entre outras coisas, invejosos do sucesso alheio. Seja da casa, do carro, do emprego, da herança, de um traço de personalidade ou até mesmo de um sonho. É a bem conhecida invejidade, em madeirense.

Alguma verdade haverá, já que eram comuns os conselhos sobre a imprudência de revelar muito sobre os nossos planos e projetos, não fosse a energia destruidora da invejidade impedir a sua realização. Os madeirenses estão também familiarizados com inúmeras recomendações e superstições para afastar o mau olhado, uma forma bem agressiva de inveja, e de como curar-se, uma vez atingidos. Não será com certeza exclusivo nosso, antes uma característica de meios pequenos, onde historicamente a carência tem sido superior à abundância, seja de bens materiais ou de alimento para a alma.

Mas teorias e explicações à parte, permanece verdade que a nossa proverbial invejidade também dá cá um jeitão. E isto acontece quando é invocada – e é, a toda a hora - pelo que se diz invejado para envergonhar e calar o suposto invejoso, usando o  natural repúdio deste por um defeito que não tem, para que se coíba de falar, de questionar, de expor.

Por exemplo, se criticarmos um empresário  de sucesso, mesmo dos que criam postos de trabalho e pagam certinho, por se comportar de forma predatória para com os seus pares, não é inveja do sucesso e da esperteza daquele, mas repúdio pela sua falta de ética e solidariedade para com todos os lesados por esta conduta.

Se uma empresa privada, das que dá e distribui lucros, é acusada de recorrer desnecessariamente a dinheiros públicos, sejam isenções ou subsídios e comparticipações, não é inveja por essa empresa ter e outra não. É perceber a falcatrua que permite transferir dinheiro nosso para o bolso de sócios de iniciativas que se dizem privadas e empreendedoras mas são uma fraude, pois não prosperam sem as tais isenções e outras comparticipações.

Se um governante diz que a Madeira é um sítio excelente para se viver e trabalhar e um dos muitos de nós que ganham 600 euros se chatear e referir, insultando, os rendimentos do tal governante, não é inveja nem falta de educação. É revolta por trabalhar muito (como aconselha o tal governante) e não dar para viver. E revolta por perceber que quem governa não governa para quem representa nem faz ideia do que é a vida dessas pessoas.

Se alguém é nomeado para um lugarzinho no governo, passando à frente e prejudicando quem lá trabalha, e as pessoas se indignam, não é inveja das costas largas do privilégio e dos privilegiados. É a revolta e o asco que o chico-espertismo provoca quando afasta os competentes para pagar favores.
E se alguém se insurge contra a milésima notícia oca sobre a família do Ronaldo, também não é inveja do clã. É cansaço de tanta baboseira e irritação contra a imprensa que devia formar e informar e deixar o entretenimento bilhardeiro para outras páginas.

Os invejosos existem e ninguém gosta deles, mas deixar calar a verdade que tantas vezes nos entra pelos olhos adentro, não expor o que tem de ser exposto ou não questionar para não ficar mal visto, o que dirá de nós? Será que nos define como encolhidos e medrosos ou como cidadãos informados e participativos que gostamos e tantas vezes afirmamos ser?
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2 comentários:

  1. Para além da inveja os Madeirenses, são uns "agachados" e "lambe botas" salvo claro algumas exceções.
    Na sua grande maioria são enganados por estes governantes ladrões, chulos dos dinheiros públicos e gostam.. assim andamos há 40 anos.

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  2. O capitalismo baseia-se na ambição. A democracia na inveja.

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