As Câncias


Existem umas Câncias sempre prontas a se sentirem ofendidas e a manifestarem a plenos pulmões esse sentimento - o de gravemente ofendidas. As Câncias indignam-se por fases. Primeiro, as Câncias bebem muito champagne e gostam que lhes comprem jóias e vestidos belos, feitos com raros tecidos, que arrematam "amandando" umas tapinhas com caviar.

As Câncias distinguem-se pelos seus gostos caros e invulgares e têm sempre um ar de fastio que elas juram que as favorece e as torna inalcançáveis ao comum dos mortais - Se não conseguires furtar-me a este fastio, resultado da falta de novidade (porque eu conheço tudo), então nem te aproximes. Não sem que, paralelamente, gritem a plenos pulmões que são "de esquerda". Com isto, querem dizer que são umas rebeldes, fora do formato, insatisfeitas, uns espíritos livres. São uma quase parte do ventre e cordão umbilical de tudo o que possa significar, para os mais acérrimos defensores da esquerda, "ser de Esquerda". Mas não. As Câncias não são "de esquerda". As Câncias são mimadas, são de dispendiosa manutenção e não perdoam nem se esquecem de nada. Estão sempre atentas. Apenas abrem uma pequena e conveniente fresta neste constante estado de alerta, uma couraça,  e é quando não conseguem perceber, quando não entendem, não vêem, não ouvem nem dizem, quando algo não lhes convém.

As Câncias indignam-se se um pai porventura insiste para que um neto dê um beijinho no avô. Porque dizem que é condicionar as crianças pela violência. Mas as Câncias esquecem-se que praticam e publicitam a "bondage" - um pormenor para elas sem importância. As Câncias indignam-se com uma apresentadora que diz "Até amanhã se Deus quiser" e esquecem-se que se calhar aceitaram viver e se servir do dinheiro de alguém que significa simplesmente a maior vergonha de toda uma nação - um primeiro-ministro corrupto. As Câncias insurgem-se indignadíssimas contra a eleição dum Bolsonaro no país irmão Brasil, ignorando que essa foi a vontade da maioria desse povo. Ignoram também que os que lá estavam (alegadamente para as Câncias - os bons) desviaram dos cofres públicos, nos últimos quase 15 anos, mais do que todos os outros políticos nos últimos 50. Mas as Câncias enchem a boca para defender a Democracia.

As Câncias querem apenas uma coisa. Têm um objectivo - manter e aumentar os seus privilégios. Mas, felizmente, as Câncias são uma minoria e, pelos princípios da tão amada Democracia, quem decide são as maiorias. Claro que sempre em respeito pelas minorias, conferindo-lhes igualdade no tratamento. Mas as Câncias tendem a olvidar que as minorias também devem o mesmo respeito no sentido inverso.

E é aí exactamente que as Câncias entram a sério e com tudo no jogo. As Câncias são divas, especialistas na dança do varão. Mas especialistas como deve de ser. O seu desejo secreto era andar de lar em lar,  a ensinarem às conservadoras e antiquadas donas de casa (que já poucas existem nessa forma), como se dança na vara e se ganha tudo com a sedução. Pintem as unhas. As Câncias não perdem uma oportunidade para pintar as unhas. Woman power. Como se fosse isso o poder das mulheres. Uma espécie de enredo de telenovela mexicana. Isto sem Câncias não tinha a mesma piada. Mas é esse exactamente o papel que temos que reservar cuidadosamente às Câncias e nenhum outro. Engraçadas elas. Na casa dos outros.
Share on Google Plus

1 comentários:

  1. Ainda bem que existe liberdade de expressão, ou nunca leríamos tanta tontice em tão pouco espaço. 'Parabéns'...

    ResponderEliminar

Pedimos que seja educado e responsável no seu comentário. Está sujeito a moderação.