O dia mundial dos pobres entre nós foi assinalado com orações, missas, reflexões e todo o palavreado que norteia estas ocasiões. O Papa Francisco em Roma primou pela diferença, após a celebração da Eucaristia na Basílica de São Pedro, almoçou com os pobres na Sala Paulo VI. Foi um sinal de alerta e uma forma de denúncia para o mundo inteiro, que deve pensar e dedicar-se a criar condições para que os pobres possam ver a libertação da condição de indignidade e violência que é a pobreza. A sua denúncia na missa ganhou outra força face a este sinal concreto, “O clamor dos pobres é diariamente cada vez mais forte, mas a cada dia menos escutado, já que é dominado pelo barulho de alguns ricos, que são cada vez menos, mas mais ricos”. Consta que o Santuário de Fátima também organizou um almoço para os pobres.
Face aos sinais positivos de ontem, também fomos assolados com o choque negativo da descoberta macabra de cinco pessoas mortas, três adultos e duas crianças, dentro da sua miserável habitação na freguesia de Fermentões, em Sabrosa, Vila Real. Mais vítimas que a pobreza faz. Porque este país com mais de 2 milhões de pobres não parece importar-se com as pessoas e pouco ou nada faz para que o abismo entre pobreza e riqueza seja menos acentuado. Não esquecer que “A injustiça é a raiz perversa da pobreza” (Papa Francisco).
Na nossa região as estatísticas vão dizendo que estamos um pouco melhor, embora a realidade da pobreza escondida, envergonhada denuncie precisamente o contrário, porque não se sabe que exista emprego para todos e que o trabalho esteja a ser devidamente compensado. Aliás, a degradação das condições do trabalho nos últimos anos denunciam precisamente o inverso.
A pobreza, porque a injustiça brada aos céus, existe e revela o quanto são desprezadas as crianças que tiveram a má sorte de nascer no antro da pobreza, indefesas e desprotegidas por todos; os jovens sem perspectivas de futuro ou entram em depressão ou têm que deixar a nossa terra para que tenham alguma possibilidade de viver independentes e construírem as suas vidas; muitos casais com crianças lutam e labutam por migalhas que os biscates oferecem se a sorte da luz do dia os proporcionar; os idosos com pensões de miséria foram remetidos ao esquecimento, à indiferença e à solidão por esse país inteiro.
A demissão dos que tem responsabilidade sobre esta realidade da pobreza é confrangedora e mais ainda se revela escandaloso notarmos como os governantes têm nojo, medo ou vergonha de falar de pobreza. Valha-nos o presidente da República que não foge às selfies seja lá com quem for.
Este país tem tudo para que a pobreza continue cada vez mais gritante. A justiça deste país virou um reality show, que funciona ao sabor do mediatismo da comunicação social e nunca foi tão visível existir uma justiça para ricos e outra para pobres; a escola não pretende mudar o status quo do passado e muito menos parece estar aberta aos novos ventos da modernidade que passa; a saúde, num momento e para alguns parece ser o melhor dos mundos, mas noutros, falta tudo, prejudicando os mais pobres que não têm alternativas para resolverem as suas mazelas de saúde.
Estamos às portas de um ano decisivo para nossas vidas, dado que vamos entrar em ano de eleições. Já começaram o rol das promessas e de sinais de que por momentos a vida dos pobres pode melhorar um pouco, mas depois não se enganem, tudo volta ao normal. As medidas não são estruturais, mas singelas aspirinas que passado o efeito, volta a dor de cabeça quotidiana. Era tão bom que aqueles que se propõe a eleições não tivessem vergonha de falar da pobreza e quais serão as medidas estruturantes que trazem na manga para minorar ou solução esta desgraça. Não precisam de serem “messias” nem muito menos predestinados milagreiros, mas cidadãos responsáveis, sem vaidades que recorrem à humildade para cumprirem a “missão” do serviço público em função do bem para todos.
Os cidadãos devem estar cientes do seu contributo e fazerem as suas opções bem esclarecidos, porque já é tempo de termos representantes a nos governarem com responsabilidade, isto é, que não descuram o povo, mas que governam em função de uma sociedade inclusiva, fraterna, onde ninguém precisa de estender mão para viver com dignidade.
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