Já lá vai o tempo em que o sector
da saúde era “a joia da coroa”. Em tempos idos, na Região Autónoma da Madeira, os
governantes não se cansavam de propagandear as vantagens do Serviço Regional de
Saúde. E as populações sentiram, nos primeiros anos da implantação da Autonomia
e do Serviço Regional de Saúde, a partir de 1976, os benefícios da
regionalização do serviço de saúde. Agora, só se registam pedidos do Governo
Regional para mais dinheiro da República também para a saúde e da parte das
populações agudizam-se as reclamações face às insuficiências e os protestos
perante as incapacidades na resposta às necessidades de cuidados de saúde.
A saúde transformou-se em
gravíssimo problema regional.
Engana-se quem possa pensar que
se criou um problema de desenvolvimento humano e social na medida em que chegou
a epidemia Covid-19. É que as insuficiências e as incapacidades do Serviço
Regional de Saúde apenas ganharam agora novos contornos. Mas, o problema é bem anterior
aos “dias Covid”.
Vejamos o caso da longuíssima
lista de espera para cuidados hospitalares. Em 2017, segundo os números
oficiais, estavam em lista de espera 35.258 pessoas para uma primeira consulta.
São números escandalosos sobre as incapacidades do Serviço Regional de Saúde.
Em 2019, ainda antes de se iniciaram “os dias Covid”, os números oficiais
diziam que tinham aumentado para 36.048 o número de pessoas que desesperavam
pelo agendamento de consulta ou outra resolução. São números vergonhosos! Em
2020, já com o problema da pandemia Covid passaram para 41.337 pessoas em lista
de espera… e na lista de espera para uma cirurgia estavam mais de 20 mil pessoas.
Coloca-se, pois, a necessidade de repensar e reforçar o Serviço Regional de Saúde para garantir o acesso de toda a população aos cuidados de saúde, para um progresso quanto à qualidade de vida dos madeirenses e portossantenses.
Se os números oficiais publicados
confirmam a gravidade dos problemas no sector da saúde na Região Autónoma da
Madeira, tudo se torna ainda mais inquietante quando se sabe que o Governo Regional
da Madeira está a falsear dados sobre a realidade do déficit no acesso a
cuidados de saúde.
Na Região está a ser
exponencialmente mais elevado o problema das listas de espera para consultas,
exames auxiliares de diagnóstico e cirurgias do que nos dão conta os números
divulgados. Como sabemos, os números
oficiais estão falseados quanto à informação pública sobre as reais
necessidades de acesso a cuidados de saúde. Uma coisa é a realidade, em alguns
dos casos dramática, de listas de espera para cuidados de saúde, outra bem
diferente são os números oficialmente divulgados pela governação. Ou seja, não
só os números acerca da realidade da saúde estão a ser objeto de tratamento
político, estão a ser "martelados", numa ocultação premeditada por
parte do Governo Regional, procurando assim disfarçar a realidade das
dificuldades de resposta e de acesso aos cuidados de saúde a que as pessoas
deveriam ter direito, como também estamos perante um processo de batota
política onde o Governo Regional joga com os problemas da saúde pública como se
as pessoas e os seus problemas de saúde fossem manipuláveis através da retórica
política, ao sabor dos interesses mais mesquinhos da agenda da governação.
Nesta Região coloca-se, então, a
necessidade de haver rigor e de ser garantida transparência na
apresentação dos números reais quanto às incapacidades atuais do Serviço
Regional de Saúde em dar pronta resposta às necessidades de cuidados de saúde
da população. É tempo de o Governo Regional proceder com verdade quanto ao
estado da saúde na Região. É que, falsear os números oficiais sobre listas de
espera para consultas, exames e cirurgias, para além de fraude política, a
médio prazo, estaremos perante uma enorme ameaça para a saúde pública.
Estamos perante um imenso prejuízo para o interesse público e para o
desenvolvimento humano e social.
O gravíssimo problema da saúde nesta Região Autónoma só será devidamente atendido caso seja reforçado o Serviço Regional de Saúde nos seus meios financeiros, humanos e técnicos, com os vários níveis de cuidados articulados entre si, com uma direção coesa e determinada na defesa do interesse público. Só assim será possível recuperar dos atrasos verificados no acesso aos cuidados de saúde, para além das respostas aos "problemas Covid”.
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