Um crescente número de cidadãos experimenta o dever de intervir em relação à decisão do Governo Regional da Madeira de asfaltar o Caminho das Ginjas, em plena Floresta Laurissilva, na ilha da Madeira. Por isso, está em movimento uma mobilização da cidadania ativa contra o que a dita «Madeira Nova» quer desfigurar de único e precioso no património natural. Os governantes pretendem manchar a Laurissilva das Ginjas, Caramujo – Bica da Cana, na ilha da Madeira.
A intenção da governação se apropriar
da floresta, que é património mundial a preservar, mais não é do que a lógica
predatória da apropriação acrítica da natureza, em nome do mito do progresso,
que quase tudo tenta legitimar.
Entretanto,
emerge o absurdo da destruição, a prepotência do poder político. Na governação
afirma-se o boçal violento, sem olhar a meios, em nome de um alegado progresso.
Qual a personagem que melhor
poderia representar uma governança do absurdo, grotesco, cínico e brutal? –
O Rei Ubu!
A figura do Rei Ubu integra a lista dos textos clássicos sobre a representação das prepotências do poder, dos absurdos do absolutismo, dos desmandos da obstinação dos senhorios deste mundo. Também é parte de um clamor da resistência contra o absurdo e o abuso daqueles que se consideram, à maneira do Rei Ubu, como os novos senhorios desta terra.
O que está em causa na teimosa
decisão do Governo Regional da Madeira, muito para além dos interesses que pretende
saciar, é uma prática do poder à maneira de Ubu Rei, sobre o qual e contra o
qual importa se posicionar. Porque não se pode ficar indiferente ante “o
ubesco” (um outro nome para antigo e renovado “jardinismo”).
Tal como o Rei Ubu tinha um
fascínio pela violência, o governante que é mandante “das Ginjas à força” faz o
que quer, coloca-se acima da Ciência e da Lei. Tal como na obra teatral de
Alfred Jarry, Ubu é (torna-se) rei. O poder passa a ser exercido sem
limites. O governante ubuesco, na sua arrogância, não respeita instituições
por pressupor que tudo lhe pertence. Para ele, o essencial é exercer o poder e
demonstrar que o faz, expondo o seu gozo de fazer, de agir, de ser grotesco.
Sempre ao longo da história se tornou incontornável enfrentar o Rei Ubu. Desde sempre se desenhou o dever ético e político, da gramática do contra-poder. Há muito que é imperioso se posicionar criticamente e consequentemente contra o “ubesco”. E lutar, e resistir.
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