Ranking's - Com a sua publicação o ministério desprestigia-se


O Ministério da Educação continua a favorecer uma comparação com aquilo que não deve ser comparado. A aprendizagem não se alicerça em um campeonato entre estabelecimentos de aprendizagem, isto é, os da primeira liga (!)(escolas privadas) e os do campeonato de Portugal (escolas públicas); entre os que dispõem de significativos recursos financeiros e os outros. A aprendizagem não visa, pontual e circunstancialmente, obter uma dada classificação colectiva e, no ano seguinte, encontrar-se de meia tabela para baixo. E tem acontecido, porque depende de muitos factores. Tenhamos presente o facto de, neste último ranking, uma escola que recebeu alunos antes matriculados no sector privado, ter saltado para um lugar mais próximo do topo. Ora, meter no mesmo rol instituições públicas e privadas constitui um erro grosseiro e desonesto. Não é de bom senso e é despido de rigor, directa ou indirectamente, comparar instituições de natureza privada, cujos alunos, normalmente,  têm origem em famílias com outro tipo de formação e bem-estar, com as públicas que abrigam muitos milhares que transportam as históricas consequências das graves assimetrias económicas, sociais e culturais.


Um exemplo: conheço relativamente bem o Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto, um estabelecimento normalmente no topo dos ranking's nacionais. É impossível compará-lo com a escola pública mais próxima daquele colégio privado. Basta assistir aos finais de turno da manhã ou da tarde e olhar para as viaturas dos pais, avós e dos motoristas que ali param para transportar os alunos. Basta ter em atenção os encargos mensais! É óbvio que a opção dos pais é absolutamente legítima, e se trago este aspecto à colação é apenas para dizer quanto errado está comparar o que é incomparável. Não está sequer na qualidade distintiva dos professores, está sobretudo na estratificação social. 

Mas, curiosamente, ninguém se lembra de dizer que há estudos que provam que os alunos oriundos do sector privado, nos primeiros três anos de curso superior universitário, chumbam mais que os alunos vindos do sector público. Interessante, não é? 
Apenas a realidade que nunca é assumida.

Uma coisa é o domínio da acessibilidade a um curso superior; outra, o desempenho dos alunos depois de lá entrarem. No privado, porque estão em causa pesadas mensalidades, qualquer instituição tende a forçar a aprendizagem no que interessa em detrimento de uma formação mais globalizante. Isto para além do recurso aos explicadores; no sector público são sensíveis outras preocupações. E a verdade é que, ao longo do superior, os alunos do sector público conseguem uma melhor adaptabilidade e sucesso, consequência de algumas capacidades que terão sido trabalhadas. Lamento é que muitos fiquem à porta do ensino superior por falta de recursos.

Para o ministério, os níveis ou notas de exame, deveriam assumir uma característica reservada (não publicável) visando um sério estudo (global) sobre o sistema. Nunca para colocar escolas e professores sob suspeita. Os bons e os maus. É disso que se trata. E se assim não é, pergunto, de que valeu a publicação de todos os "ranking's" anteriores? O sistema melhorou? Não. 
Aliás, o ministério ao possibilitar a publicação dos resultados sob a forma de ranking's, desprestigia-se a si próprio e dá um sinal (errado) 
à população de que o privado é melhor que o público.

O que está em causa e nisso o ministério e a secretaria regional da educação deveriam ter um outro olhar, é sobre a escola que os jovens têm e a escola que deveriam ter. Ao contrário de se preocuparem com o perfil do aluno à saída da escola, deveriam preocupar-se com o perfil dos alunos à entrada da escola. Deveriam repensar toda a parte curricular  e programática. Deveriam, sobretudo, abanar todo o sistema organizacional, a verdadeira autonomia dos estabelecimentos, a estúpida burocracia e, sobretudo, repensar o paradigma PEDAGÓGICO. Os jovens desinteressam-se porque a escola é desinteressante!
Ilustração: Google Imagens.
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