1. Ando a pensar e algumas vezes já expressei que
seria muito importante para as populações que os políticos eleitos após o sufrágio
universal, pelo poder do voto, deviam despir-se da roupagem partidária e se
possível entregarem os seus cartões de militantes aos seus respetivos partidos.
Não descuro que devem cumprir os seus programas eleitorais, que trazem os
ingredientes da ideologia partidária por onde militam e que os ajudou a elaborar
os tais programas. Perante uma série de disputadas partidárias que se vão
sucedendo nos últimos tempos, com claro menosprezo pelo bem geral das
populações, poderia ser muito interessante que as cabeças dos governantes em
qualquer instância de governo, pudessem exercer o seu poder legitimado pelo
voto, só e unicamente pelo bem geral dos cidadãos.
2. Estamos a assistir a um desgoverno geral por
causa das lutas partidárias, os amuos e as vinganças entre eleitos, tudo
alimentado pelas tricas e laricas do partido que os manipula. O que se passou
por estes dias no Funchal, é bem revelador desta desgraça. Tudo tão revelador
de irresponsabilidade! Tudo tão inacreditável! Tudo com o maior desinteresse
pelas pessoas, pelo bem comum da sociedade!
3. Apenas como referência, vamos àquela dança das
barracas na denominada Placa Central no Funchal, que se segundo consta e que
tanto se está a falar por aí, derivou de ajustes de contas entre partidos
políticos, na Câmara Municipal e no Governo regional. Uma vergonha, numa terra
com tantos forasteiros, que devem levar de nós o pior da pouco ou nada saudável
convivência democrática, que tanto tem sido apregoada quanto ao bem em ser
diversificada, mas que nada estar a ser praticada.
4. Depois veio a cereja no topo do bolo. Na Câmara
Municipal, disseram os partidos políticos que a Câmara podia fazer obras (Plano
de Obras aprovado). Mas, depois os mesmos partidos disseram que «não senhor», a
Câmara não pode fazer obras porque não lhe aprovamos o respetivo dinheiro para
fazer as ditas obras (chumbado o Orçamento da Câmara para o ano de 2020).
Achamos estapafúrdio, mas nesta terra tudo é possível. Fica então esta pérola, que parece resultar de
pequenos que desejam converter na nossa terra numa «disneylandmadeira».
5. Assim, andamos nesta disputa e numa discussão
estéril que não serve para nada e para ninguém. Um caminho de acentuada
vingança, carregado de jogos partidários que revelam um mau exemplo para a
sociedade, cada vez mais esfrangalhadas quanto aos valores da concórdia democrática
e da solidariedade social.
6. O Governo Regional tem tido um comportamento altivo,
«quer queiram quer não», perante a Câmara do Funchal. Por aqui faz contra a
Câmara do Funchal, pior daquilo que critica ao Governo de Lisboa no que diz
respeito ao comportamento contra si. Um mau exemplo também e que o desautoriza
perante os eleitores. Assim, os cidadãos esperavam mais responsabilidade e que do
Governo Regional viesse o principal respeito pelos órgãos eleitos para a
Câmara Municipal. É claro que se esperava que os eleitos da Câmara e do Governo
Regional, pertencentes à mesma cor partidária tivessem uma atitude colaborante.
Bastava que percebêssemos que pensavam alguma coisa na vida concreta dos
cidadãos.
7. Por outro lado, a Câmara Municipal do Funchal,
devia precaver-se e entrar no jogo democrático com outra humildade. Tem maioria
de Vereadores, mas tem a «chatice» da Assembleia com minoria de deputados. Por
isso, deve contar com esse detalhe e antes de se apresentar a votos com
orçamento ou outra medida de relevância para vida da cidade, entrar em diálogo
com os partidos necessários para assegurar uma maioria a seu favor. Aqui não
percebo a displicência e a forma tão descontraída como se apresenta na
Assembleia, sabendo logo à partida que vai passar pela humilhação do chumbo. O
descarte de elementos e de partidos acarreta dissabores e faz colher o que se
meia. É a vida.
8. Neste sentido, entendo que esta situação de
minorias aqui ou ali, devia trazer uma série de vantagens para as nossas
populações. Os ovos estão todos no mesmo saco, daí se perceber que os eleitores
foram sábios e que não querem o exercício do poder em sentido único e com o
absolutismo monocolor. Por isso, os eleitos nestas circunstâncias têm a
obrigação de perceber estas nuances e exercerem o poder com responsabilidade,
espírito aberto e com disposição para o diálogo permanente. Tudo isto implica
trabalho, sentido de estado e que se gaste o tempo todo a ver olhos nos olhos o
diferente, o adversário como um elemento não para abater, mas para receber de
braços abertos como colaborador.
9. Os tempos são de concertação de ideais e de
valores. Os governantes têm um papel crucial neste desafio que as sociedades de
hoje lançam. Daí que deles se espera uma abertura incomensurável para o diálogo
fraterno, uma competência irrepreensível para as negociações permanentes, uma
consciência séria sobre o sentido do bem comum e da justiça, uma vontade férrea
de darem respostas concertadas e concretas às transformações sociais, que acontecem
com uma rapidez estonteante…
10. Enfim, que a competência de quem mereceu ser eleito
seja a melhor de todas. Deve revelar-se numa prática de frequente abertura para
a governação num jogo de equilíbrios. E resulte em benefícios para todos os
cidadãos, em detrimento dos jogos de vinganças que os interesses partidários
sobejamente estão a obrigar pessoas que antes se conhecia serem pessoas de bem
e cidadãos empenhados na realização do sonho do bem para todos. A criatividade
democrática é um valor e cada vez mais tem sido posta à prova por todo o lado.
Por isso, não o descuremos entre nós.
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