Existe um indesmentível medo da memória do que foi a dimensão da repressão política durante o fascismo, do receio de que se conheçam os seus responsáveis, o pavor de que se saiba das vítimas do fascismo, o medo de que sejam nomeados os rostos dos assassinados pelo regime, o medo de sejam conhecidas as actividades de perseguição por parte da polícia política e a vaga de prisões verificada na Madeira durante o regime de Salazar e Caetano.
Dos mais evidentes indicadores desses medos são os esforços que foram realizados por pessoas e instituições do regime de Salazar e Caetano para um apagamento de memória histórica. Comprovadamente, é possível identificar uma linha de acção implacável para que fosse garantida uma queima de arquivo.
Há uma pergunta incontornável: que é feito da documentação sobre as actividades da repressão policial nestas ilhas durante o fascismo?
Se parte dos arquivos da PIDE/DGS estão no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e se lá estão processos e diversos documentos organizados centralmente em relação a acontecimentos, processos, entidades, actividades e pessoas da Madeira, então, onde estão os arquivos da PIDE/DGS no Funchal?
Segundo foi publicamente afirmado pelo Brigadeiro Carlos Azeredo (o então General Azeredo, que presidiu à Junta Geral da Madeira e, antes, tinha sido Governador Civil, entre os anos de 1974 e 1975), este, ao contrário do que sucedeu no resto do País, terá mandado destruir em parte ou totalmente os arquivos da PIDE do Funchal.
No Arquivo Regional da Madeira existe apenas uma pasta com documentos burocráticos do arquivo da polícia política na Madeira. No Serviço de Estrangeiros e Fronteiras existirão pequenas parcelas desses arquivos. Mas, as dimensões e os correspondentes conteúdos documentais sobre as variadas actividades desenvolvidas nestas ilhas pela polícia política do fascismo desapareceram. Ou seja, desapareceu uma parte da História desta Região e diversas parcelas da História do País.
Será pouco provável que tivesse existido uma tamanha destruição ou queima de arquivo unicamente originada por uma decisão individual. Se é relevante termos a indicação sobre quem terá assumido responsabilidades directas pelo apagamento de memória do que se verificou antes do 25 de Abril na Madeira, porém, algumas questões se colocam: quem teve medo dos arquivos da PIDE/DGS no Funchal? O General Azeredo mandou destruir os arquivos a mando de quem ou para responder à urgência de quem? Que mãos se cruzaram para garantir aquela queima de arquivo? E por acaso não estarão por aí ( bem guardadas !) algumas das pastas dos arquivos da PIDE/DGS no Funchal?
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