1.
A Igreja perdeu o inferno, o céu vai no mesmo caminho, dizem que os jovens não
querem saber da Igreja para nada, os casais mandam às urtigas todas as diretrizes
morais que a Igreja lhes reclama, a sociedade em geral emancipou-se e faz tudo
sem a referência ao religioso, a cultura atual funciona muito bem sem a Igreja,
a vida é possível sem a doutrina da Igreja...
2.
Ninguém deseja uma Igreja apenas zeladora de património, que se preocupa apenas
e quase exclusivamente com a gestão dos bens deste mundo, qual senhor rico que
se gasta com as transações do mercado e com as papeladas burocráticas que ditam
a posse e o domínio da propriedade. O Papa Francisco bem tem alertado para o
perigo da mundanidade.
3.
O poder que a Igreja ter também é um perigo. A hierarquia da Igreja não pode
estar mais preocupada com o poder e nada atenta à sua conversão constante. Por
isso, uma Igreja que se envolve em quizilas internas por causa de títulos e por
causa da autoridade não serve muito. O poder do mundo é ilusório e as mordomias
que ele confere são pecados graves que violentam a justiça de Deus.
4.
Várias vezes encontramos uma Igreja que não sabe conviver com a pluralidade e a
diferença. A maior parte das vezes quando alguém se manifesta contra
determinadas posições e marca a diferença no modo de pensar, é logo conotado
com qualquer rótulo indecente e contrário ao sentido do Evangelho. Para este
nosso tempo onde o confronto das posições e a pluralidade do pensamento é uma
constante, requer-se uma Igreja que não sabe perceber e cultivar essa realidade.
5.
Precisamos encontrar uma Igreja aberta ao mundo, a este mundo concreto da nossa
vida, onde o normal já não é o unanimismo da fé. A Igreja ainda vive convencida
que afinal este mundo tem fé e que se não a tem está, por isso, totalmente
perdido. Esta lógica conduz à inutilidade da Igreja, porque não se encontra a
si mesma e não sai do seu circulo vicioso. Os homens concretos deste mundo
afastam-se da Igreja e divorciam dela, a Igreja ao invés de ir ao seu encontro,
ainda se fecha mais sobre si mesma e regozija-se com aqueles que lhes sobra que
chegam ainda para completar os templos. Tudo isto é pouco. Deve ser urgente
ensaiar modos novos para estes tempos tão rapidamente sempre novos.
6.
A tentação de querer opinar sobre tudo o que é deste mundo e do outro, leva a
Igreja a cair frequentemente no dirigismo e no moralismo. Estes aspetos
provocam sobressaltos enormes no seio da sociedade, que repugna todas as
tentativas dirigistas e moralistas. Produzir mensagens enfadonhas, por vezes
anacrónicas e muito longe da vida deste tempo é tempo perdido.
7.
O acolhimento é o desafio maior para a Igreja. A prática tem contrariado este
valor e desejo tão defendido pelo Papa Francisco. À mínima dificuldade e
problema não se deve impor regras e leis que nada dizem às pessoas. A cegueira
rubricista de que ainda enfermam muitos, conduz por vezes a revoltas terríveis
e afastamentos longos ou definitivos da vida da Igreja. Há uma constante
dicotomia entre aquilo que se diz sobre a consciência de cada um e a ação
diária. Uma Igreja muito regrada ou rubricista não tem futuro nem serve os
homens em nenhum lugar do mundo.
8.
As mentalidades anacrónicas é preciso ultrapassar. Para que todos descubram uma
Igreja companheira de viagem, uma Igreja caminhante com todos os caminhantes. Um
«hospital de campanha»; «uma Igreja acidentada». É para a humanidade que serve
a Igreja, ajudando a procurar a verdade. A Igreja da verdade absoluta não
existe mais. A Igreja deve estar ao lado dos homens e mulheres desta vida,
procurando com eles a verdade que faz a felicidade e conduz à salvação.
9. Nada nos deve impedir de sonhar uma Igreja que reconhece em cada
homem e em cada comunidade o sacramento do amor de Deus. Por isso, nem dentro
nem fora da Igreja, há lugar para o desprezo, para a marginalização e para o
repúdio de ninguém. Todos e cada um é sacramento do amor infinito de Deus Pai.
Este não deve ser o tema principal de toda a pregação.
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