Corrupção, coletes amarelos e populismos fáceis.


     A corrupção, como todos os fenómenos humanos, é uma ocorrência complexa; começa dentro de nós, manifesta-se nos nossos instintos oportunistas mais corriqueiros (meter cunhas, furar filas, violar regras de transito, etc., etc…) e nos nossos desejos mais grosseiros (raiva, ódio, inveja, desconfiança do outro, competição, prazer de mandar e ter vantagem sobre os demais, etc…), envolvendo todos os nossos pequenos e grande preconceitos pessoais e sociais…
     É desta corrupção basilar que advêm as corrupções política e financeira. Estas não nascem num vácuo, nem partem de entidades puramente maléficas, à parte das nossas comunidades. As corrupções política e financeira acontecem quando "um de nós" consegue chegar a uma posição hierárquica de Poder, através da qual pode expandir os seus oportunismos e preconceitos grosseiros a uma outra escala, que não a privada ou familiar.
    A corrupção é também um fenómeno eminentemente moral, primeiro interior a nós, e, só depois, exteriorizado socialmente. Portanto, combater a corrupção deverá ser primeiro combater em nós próprios, e nos nossos próximos, os tais instintos, desejos e preconceitos, através da educação, esclarecimento, aceitação do outro, amor e compaixão. Aliás, Com-paixão (Syn-Pathos, em grego) significa precisamente confluência de caminhos, a percepção de que todos partilhamos a mesma natureza humana, sujeita às mesmas fragilidades e grandezas…
     Combater a corrupção não é vir para as ruas cheios de raiva e ódio contra um "outro alienígena", munidos dos proverbiais archotes, bastões, forquilhas e foices, com as cordas já preparadas para as forcas, uniformizados com camisas negras, castanhas, vermelhas, ou coletes amarelos…
    Acabar com a corrupção consiste numa tarefa de longo prazo, exigente e não facilitista, de aprendermos a dominar em nós próprios os desejos subtractivos de raiva, demonização do diferente, de sectarismos de "nós contra eles", rejeitando a violência e o culto viril da força e da acção pela acção, e soluções autoritárias e nacionalistas; e, depois, através de meios congruentes com o triunfo interior sobre tais instintos e desejos oportunistas, isto é de forma ética, pacifista, cosmopolita, justa e construtiva, sermos todos e cada um de nós a mudança que queremos ser e ver no mundo, organizando as nossas sociedades em torno dos valores construtivos e participativos da Paz, união, justiça, inclusão e benevolência em relação a todos os seres, transcendendo e sublimando todos os instintos e desejos destrutivos.
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