Anda meio mundo na Madeira numa roda vida por causa do novo bispo para a
Diocese do Funchal. Uns por causa de um nome ou dos nomes apontados. Outros
porque o atraso faz-se sentir com estrondo. Mas, diga-se abono da verdade que
perante as duas razões para o rebuliço, a mais rave é a do atraso, ou revela-se
grave incompetência e fraca sensibilidade de que em devia tomar uma decisão a
tempo e horas razoáveis. Porque não se dá conta da confusão que o seu atraso
isto gera. Daà que os problemas arrastam-se e agravam-se, a credibilidade da
Igreja da Madeira agoniza sobre a enxerga da tristeza que os
incompetentes ergueram durante estes trágicos últimos 40 anos.
Na confusão geral, apontam um nome para liderar a Igreja do Funchal, que
segundo dizem foi recusado em duas dioceses do Continente pelo clero
(faltam provas sobre este dado). Vai daà alguns no Funchal também se inquietam
com a possibilidade deste bispo «mal amado» venha a tomar posse dos
destinos da Igreja da madeira. As razões que apontam para a recusa, a meu ver,
são medÃocres e passam ao lado do essencial. Não basta dizer, que não queremos,
porque é soberbo, conservador ou que não tem sensibilidade pastoral e que é um
carreirista (qual é o carreirista a sério que aceita vir para uma singela
freguesia de 270 mil almas como é a Diocese do Funchal? - Ambição pequena, a
meu ver!). Porém, estas caraterÃsticas estou farto de encontrar em tanta gente
com altos e baixos cargos na Igreja Católica e não são essas as razões
invocadas quando prejudicaram e prejudicam ainda com as suas ações os fiéis em
geral.
Vamos a um desafio, gostaria que me apontassem uma lista de 50 bispos que
sejam totalmente limpos, isto é, que não sejam conservadores, já que esta
razão, é a principal para recusar o nome de Nuno Brás para bispo da Madeira…
Muitos contra argumentam dizendo, o bispo de Roma não é conservador. Sim,
não é em algumas coisas, embora seja noutras. Por exemplo, é aberto, criativo e
inovador na questão social, na luta contra o clericalismo, a hipocrisia na
Igreja, nas questões sobre a distribuição da riqueza, a vida polÃtica que deve
ser um serviço aos povos e os problemas ecológicos que assolam o planeta…
Embora nada disto seja totalmente novo, o Papa João Paulo II nestas questões
produziu doutrina brilhante que quase ninguém hoje se lembra. Mas, é verdade
que o Papa Francisco é um Papa livre, um profeta dos tempos modernos, sem freio
na lÃngua, corajoso na pregação, um homem bom e abraça o mundo inteiro…
Admirável a sua ação.
Porém, em tantas outras questões quando mexem diretamente com a tradição da
vida da Igreja internamente falando, este Papa é conservador. Este Papa, bispo
de Roma, como alguns gostam de dizer, é sim senhor muito aberto numa
determinada vertente. Mas em questões institucionais não é. Por
exemplo, a promoção de tÃtulos honorÃficos na hierarquia continua a
bom rÃtimo, a «fabricação» de santos também não abrandou e a questão do papel
da mulher (quanto à entrada da mulher na estrutura hierárquica da Igreja e
acesso ao Sacramento da Ordem, nada de monta que se veja). Estas entre tantas
outras questões intocáveis…
Mas vamos ao nosso assunto. Na fase em que já me encontro perante a vida e
com a meia dúzia de anos que levo disto, sou levado a perguntar o seguinte, que
legitimidade assiste à Igreja da Madeira, liderado por um clero abúlico, com
pouco ou nenhum pensamento próprio, entretido quase exclusivamente estes anos
todos com festas e festinhas com procissões votivas a santos, santinhos e
Nossas Senhoras a perder de vista, avesso à cultura e ao pulsar do mundo que
pula e avança, vir agora exigir um bispo assim ou assado, quando carregamos
mais de 50 anos a tolerar três bispos profundamente conservadores e em tantas
questões totalmente inábeis para as enfrentar. Por exemplo, a Ribeira Seca, com
o padre Martins Júnior e o seu povo a serem claramente ostracizados. Uma chaga
cravada na Igreja da Madeira, que a maioria foi deixando andar,
pela indiferença e encolhendo os ombros. O caso do padre Frederico,
que foi o maior escândalo em 600 anos de história da vida madeirense. O maior
responsável por este caso está bem identificado e a maioria dos padres/leigos
ouviram e viram, mas onde está o seu questionamento face à posição do antÃstite
e a inabilidade como foi tratado o caso?
Também não é verdade que foram raros a verem os bispos à cabeça da
promiscuidade entre o poder polÃtico e o poder religioso, os favores mútuos, os
silêncios deliberadamente coniventes, a cegueira por causa de
interesses e a surdez perante o grito das injustiças que o cimento armado
alicerçou na Madeira? - Muitos se calaram, toleraram e se falaram foi apenas
nas esquinas da «bilhardice».
E não deixando de parte a atualidade, temos agora o caso do padre Giselo
que foi escorraçado da Paróquia do Monte, jogado para canto, sem solução Ã
vista... Quem fala, quem questiona, quem perdoa ou quem acolhe integrando e não
excluindo como continua a ser apanágio desta igreja sem soluções humanas e
muito menos cristãs para as situações que a incomodam? - Enfim, apenas estes
casos para ilustrar quanto tem legitimidade zero, um clero e uma Igreja inteira
para reclamar e muito menos exigir um bispo com determinado perfil.
Quem andou estes anos todos surdo, cego e mudo, cale agora a boca e aceite
o que vier, não pode ter melhor daquilo que alimentou durante estes anos todos.
E não andam a encher a boca pregando e colocando o povo a rezar que quem
escolhe estas pessoas é o Divino EspÃrito Santo? - Se assim é, quem vier tenha
as caracterÃsticas que tiver, é sempre uma escolha perfeita.
Portanto, não pode ser o conservadorismo e o carreirismo a serem as razões
para recusar um bispo, porque, conservadores, todos os bispos têm que ser por
força do modus vivendi da Igreja Católica. Lá de tempos a tempos um destaca-se,
mas é um em cem. Por isso, seja Nuno, Miguel, Francisco, Manuel, António, João
ou qualquer outro nome de bispo para a Madeira, ninguém que conte com
aberturas, milagres e mudanças radicais. Mais ainda, tendo em conta o clero e o
modo de ser católico na Madeira não auguro em ninguém terreno propÃcio para
grandes laivos de aberturas e diferenças significativas além daquilo que temos
tido.
Excelente texto. A igreja deveria ser bem mais conscienciosa e nós católicos, mais abertos e independentes á razão e socialmente mais activos e independentes. É de lamentar, que o Funchal tenha tido Bispos, algo afastados da realidade que se vive na Madeira e que têm de ter forçosamente ter conhecimento, dado as inúmeras IPSS´s e Misericórdias que a Igreja tem ao serviço dos mais carenciados ( deveria ser assim, mas não é, como todos sabemos ). Ou então está manietada pelo poder politico e esse será oprincipal problema.
ResponderEliminarColocar o dedo na ferida faz doer, sobretudo quando apenas se pretende uma "anestesia" e não uma firme e sincera vontade de curar!...
ResponderEliminarParabéns, Padre José LuÃs!
No dia em que a Ignorância e o Medo forem erradicados da sociedade, as diferentes hierarquias religiosas terão de rever os respectivos cânones...Até lá...
ResponderEliminarMuito, bem respondi um sacerdote sem muitas papás na lÃngua !
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