Sair, ficar ou transformar?

foto aron-visuals
O desenvolvimento de uma Sociedade é um complexo sistema de factores em interacção permanente onde a Educação e a Saúde, em sentido lato, encontram espaço de acção transformadora, se a matriz social estiver motivada e orientada com objectivos bem definidos, para que a componente Social e Económica possa evoluir. Tudo isto, se existir uma liderança efectiva, reconhecida pela sua competência e valor. 

Podemos ter uma Sociedade com níveis de educação e formação elevados e não observarmos sinais evidentes que nos permitam acreditar que irá evoluir. Este facto é claro nas Sociedades com lideranças fracas. A fragilidade dos líderes está sobejamente estudada, com ênfase nos desfasamentos entre os objectivos e os resultados, com desalinhamento e perturbação na utilização correta dos recursos e com degradação moral e motivacional dos cidadãos, acontece uma perfeita espiral de destruição do bem comum e da livre iniciativa individual. 

As lideranças frágeis ou, pior ainda, a ausência deliberada de qualquer tipo de liderança, provocam retrocesso na capacidade de investimento de empreendedores e criadores de oportunidades, com destruição dos criativos e a saída dos mais competentes. Estes buscam no reconhecimento do seu mérito novas bases de motivação, para voltar a acreditar na mudança, na evolução e no progresso da sociedade onde sejam membros. O problema é que preferem fazer onde o reconhecimento e a recompensa são satisfatórias. O que fazer sair, ficar ou transformar?

Sair. Possivelmente a mais inteligente das soluções quando uma maioria esmaga, mesmo de forma democrática, a mudança que garante a evolução, destrói a esperança depositada numa liderança, que revela dificuldade para fazer diferente ou um pouco melhor. Abandonar o seu lugar na Comunidade, apesar de drástica, é naturalmente para muitas pessoas a melhor opção. Nos casos de descrédito nas instituições que deviam proteger quem tem uma atitude transformadora, investe, acredita e procura soluções de melhoria para a sua vida, e tal não acontece, poucas opções de escolha restam, senão a saída.

Ficar. Revela o aceitar e acreditar, um misto de resignação com a esperança de que a liderança irá provocar a evolução que permita o desenvolvimento, a evolução e o progresso que façam crer num futuro diferente a curto ou médio prazo. Também revela simplesmente abandonar tudo sem sair, desistir das convicções e apostar no empate.

Transformar. É agir na crença que tem as competências e as condições para alterar o ecossistema onde decidiu ficar e assim mudar o rumo da actuação da maioria. É a lealdade às suas convicções e a confiança na existência de uma liderança que permitirá a mudança. Transformar é reformar o construído, é desafiar o instituído e acreditar que o não, é a resposta natural a acomodação ao aceitável e passar a ansiar pelo melhor. É perder o chão e ficar feliz porque levitar é inovador, porque fazer diferente entre iguais é sinónimo de arriscar para progredir.

Dos líderes (a)guardamos, o exemplo, para enfrentar desafíos, com lealdade, companheirismo, alegria da descoberta, vencer os medos, porque estes existem, como existe o prazer de ganhar com próprio esforço, porque o mérito quando reconhecido pela comunidade está na génese e na essência da autoconfiança do ser humano. A confiança, tal como o amor e a amizade alicerçam e estabilizam a evolução da vida, mesmo quando existem menos recursos e a segurança e a natureza têm que ser adaptados.  

Interpretar o contexto social é hoje um desafio colossal para qualquer líder. Vejamos por exemplo o contexto nas redes sociais mais utilizadas, com o imediatismo e avaliação e interpretação “a quente” e “just in time". 

O que nos dizem a realidade física e a realidade infinita da rede, do falso real ao real no contentor digital, onde a mesma pessoa poderá apresentar diferentes interpretações da actuação de um determinado líder, por exemplo, por observar realidades (verdadeiras) e em simultâneo realidades aumentadas dessa actuação? 

foto de rawpixel
Dizem simplesmente que ser melhor já não é suficiente, é necessário fazer acontecer antes, para não ser imitação. Não esquecer que a imitação (Copy) nas redes sociais rapidamente confunde com o Falso (Fake). A imitação pode até ser na verdade uma versão melhorada, mas tem na esmagadora maioria das vezes uma enorme desvantagem. Apareceu depois. Nas redes sociais isso tem um preço elevado, capta menos atenção e é meio caminho para o esquecimento. Só resta ser diferente. Cuidado, porque a solução mais fácil é ser populista. Sim, quando se é oportunista.

Terá alguma influência nas tomadas de decisão cada uma das interpretações que se faz das diferentes realidades, a verdadeira e as virtuais? 

Certamente que sim. Nunca saberemos a decisão final dos eleitores que, pode ser alterada centenas de vezes, tantas quantas as incertezas criadas pelas diferentes realidades mesmo quando está já a ser comunicada. A (nova) memória das redes de multidões que, mesmo sendo selectiva é segmentada, múltipla e virtual. Não deixa espaço a respostas lentas e elaboradas e é muito cruel à respostas de índole reactivo. Tudo tem de ser antecipado, porque depois, é sempre muito, muito tarde.

Que liderança terá oportunidade de existir, quando a realidade é assim interpretada e aumentada artificialmente? 

Terão hipóteses as lideranças mais adaptáveis, inteligentes (por saberem interpretar e aprender com ecossistemas complexos), que sejam humildes na atitude e ambiciosas na vontade de aprender num mundo em mutação, que compreendam os fenómenos multidimensionais da Sociedade e a sua interpretação aconteça em formato de decisões justas, para serem compreendidas pelas diferentes comunidades que compõem a Sociedade.

O desafio colocado ao pretendente à líder parece simples. Simples, quando existem os verdadeiros líderes. Os visionários que antecipam realidades, constroem cenários e conduzem as suas comunidades, transformando de forma positiva as sociedades onde estão inseridos.

foto parker-johnson
Um cenário plausível no futuro próximo, é a existência de uma governação partilhada. É natural pensar que nenhum dos líderes que hoje se dirigem para a linha de partida eleitoral reúne a condição suficiente para permitir que a confiança da Comunidade cresça em seu redor, ao ponto de baixar a abstenção e dar-lhe a maioria absoluta. A incerteza e a menor confiança nas lideranças contribuem para maior distribuição do poder através do voto. O contrário disto é o populismo e as opções extremas. Algo, felizmente, ainda distante no pensamento de brandos costumes.

Será um desafio enorme para os que tenham a ambição de liderar um governo desta natureza, pois terão de trabalhar com uma construção emocional e mental diferente do que é habitual. Partilhar e saber ceder. 

Terão que demonstrar que conseguem construir um discurso e ter uma prática correspondente. Dar provas reais e num tempo curto, para poderem atrair a atenção e cativar através de um modelo de liderança, com recurso ao estímulo permanente da confiança através da valorização do conhecimento e do mérito, onde as competências individuais tenham a oportunidade de se expressar a par com a valorização da justiça, da saúde, da segurança e da protecção, sem esquecer a realidade nua e crua do naturalmente bem estimado poder de compra. 

Mais do que nunca serão necessários excelentes líderes em todos os níveis da governação, com visão mais ampla e ambiciosa, para contarmos com pessoas que defendem valores e princípios com base na equidade e na justiça social alicerçados na inovação, sustentabilidade e dinâmica produtiva, que permitam criar um estatuto mais evoluído de autonomia, modernidade e progresso, sustentada financeiramente numa identidade sócio-geográfica, ambiental e cultural de região ultra-periférica, num mundo ultra-competitivo.

Aguardemos.

Foto de kyle-glenn
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3 comentários:

  1. Ponto de vista excelente texto .
    Parabéns ..

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  2. Convido o sr Carlos de Andrade a tentar mudar alguma instituição. Descobrirá que terá muito poucos apoiantes mesmo que prometa o Ceu a quem o apoiar e o Inferno a quem estiver do outro lado. Sendo assim é impossível as situações não piorarem.

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