É verdade que ouvimos da boca de muitos atores
políticos da nossa praça regional (desde ex-governantes a atuais autarcas) e
nacional, atestarem que o exercício da política (e esta é um agir mas simultaneamente uma “arte”, a arte
de saber, de “intuir” aquilo que aqui e agora é possível realizar em
benefício do bem comum dos cidadãos, ou melhor, da comunidade) não deve ser
distinta da vivência quotidiana pessoal (vida privada), e que não pode ter
códigos de conduta distintos, isto é, ela deve ser regulada por princípios,
valores e modos de ser e de agir.
Ora, se “não vale tudo na política”, se deve de haver
ética na política (e há ética na nossa Constituição), então, talvez seja útil à própria classe política pensar,
expor e cultivar publicamente valores que entendemos fundamentais como, por
exemplo, o respeito pela dignidade da pessoa humana que está bem
presente na nossa Constituição, e que muitas vezes parece subtraído em decisões
políticas tomadas.
Mas, queria ainda, e dando um primeiro passo em frente
(naturalmente, com o risco de deslizar em prováveis incorreções), falar sobre
valores e a sua importância na atividade (práxis)
política nacional e regional.
Primeiro, faz todo o sentido responder à pergunta o
que são os valores?
Ora, os valores não são coisas, objetos, mas antes a importância que se atribui ou reconhece a algo ou alguém. Um valor é sempre o resultado de uma relação entre um
objeto e um padrão utilizado
pela nossa consciência que
avalia uma ação realizada ou a realizar. Por outras palavras, empregamos a
palavra valor para nos referirmos a algo que não nos deixa indiferentes e, por
isso, nos provoca estima ou repulsa, amor ou ódio. Os valores são assim uma
espécie de “mais-valia” que acrescentamos a alguma coisa ou a um facto, isto é,
são qualidades que lhes atribuímos em função de sentimentos e, por isso mesmo,
considera-se que os valores são
subjetivos, relativos, ou seja, o resultado de uma escolha que depende
da atitude, educação, cultura, etc., de cada pessoa.
A título de exemplo, temos valores
como os da amizade, bondade, o belo, a harmonia, saúde, justiça, e o primário
valor da Vida.
Segundo, agora surge a importante questão: que valores
deve a prática política respeitar e cultivar?
Considerada (ou não) como arte, ciência, filosofia ou mesmo
como ideologia, a política enquanto atividade humana de conquista e exercício
do poder, nunca deverá prescindir da dimensão moral, isto é, de valores. A
política não pode apresentar-se alheia, pior, indiferente, ao universo ético. O
seu exercício reivindica e impõe, como o desempenho de qualquer outra atividade
consciente, “valores fundamentais”, tais como a honestidade, integridade, responsabilidade,
confiança, humildade, lealdade, cooperação, respeito, justiça, transparência, igualdade,
bondade, tolerância, solidariedade, equidade, etc. e, obviamente não podia esquecer
a liberdade e uma radical exigência de Verdade!
Apesar de no século XX e no presente, a sociedade
considerar que existe uma crise de valores, ou pelo menos se apontar a falência
dos valores tradicionais, pois a globalização económica, o neoliberalismo,
relativismo e o crescente individualismo proliferam a par do crescente
desenvolvimento científico e tecnológico, ainda assim, na política será sempre
perigoso os seus agentes comportarem-se como se a Verdade não existisse.
Hoje, mais do que em qualquer tempo do passado, o
grande perigo que ameaça a atuação política nas nossas democracias altamente
técnicas, burocratizadas e mediatizadas é, sem dúvida, a manipulação (alguns chamam-lhe “retórica negra”), ou seja, a
tentação de domesticação dos cidadãos (das grandes massas) para fins que um
determinado poder (muitas vezes oculto) tem em vista, e o mediatismo exagerado
fabricado pelos media também muito
tem contribuído para as profundas alterações que têm ocorrido no mundo da
política e para a diminuição ou mesmo extinção da ética política.
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