Foto de um grande aficionado de navios de cruzeiro. |
A "democratização" das viagens de cruzeiro estão a criar nichos de mercado tal como qualquer outro produto. Se antigamente havia um padrão agora temos companhias para os mais diversos bolsos e focados nas características dos clientes que pretendem atingir. Por esta razão, há um consenso, não por qualquer elitismo mas talvez por um saudosismo, em preservar uma certa mística e ela concretiza-se à margem dos maiores, mais tecnológicos, etc, para estar a bordo dos "mid-size ships", alguns com a sua idade. Dentro deles existem vários navios, cada um com as suas características e amores.
Pernoitou de ontem para hoje o ms Prinsedam, navio da Holland America Line (HAL) que vai deixar a companhia a 1 de Julho de 2019. Antes de 3 a 4 de Abril desse ano o navio volta a pernoitar no Funchal, a única no extenso cruzeiro. Alguém repara nestas coisas?
É um navio carismático, sem grandes luxos de outros da mesma companhia mas ainda com muitas madeiras nobres e que transitem a sensação dos bons velhos tempo. É o navio de expedição da HAL, onde se leva mais calças, botas e impermeáveis para explorar destinos do que o smoking. Os navios de cruzeiro "explorers" são muito práticos e pouco têm a ver com a ideia de luxos mas, este foi alcunhado de "Elegant Explorer" porque as circunstâncias da história assim o definiu depois de uma fatalidade, sem vítimas, e que se reporta ao primeiro ms Prinsendam desta companhia.
Em 1973 o ms Prinsendam I era baptizado com pompa e circunstância, eram tempos de maiores festas nos lançamentos, para não comparar, digamos que diferente (no fim poderão ver um filme do lançamento à água). Construído nos estaleiros navais de Merwede, na Holanda, o navio comportava 350 passageiros e 200 tripulantes (observem o rácio de serviço).
Sete anos depois, a 120 milhas náuticas de Yakutat. no Alasca, decorria o final do dia 4 de Outubro de 1980, quando muito perto das 00:00 horas deflagrou um incêndio na casa das máquinas. Durante uma hora e após várias tentativas para dominar a combustão de carburantes e outros elementos, o comandante Cornelis Dirk Wabeke reconhece que o incêndio está fora de controle e comunica a situação aos passageiros e tripulação (avançam com os meios próprios de resgate, baleeiras) e às autoridades.
A Guarda Costeira dos Estados Unidos, o Serviço de Resgate Aéreo da USAF e os helicópteros CH-113 da Força Aérea do Canadá, eram os equipamentos na zona que possuíam maior alcance (recordo que estavam no inóspito Alaska). Navios na zona também auxiliaram e para além da logística de apoio foram fundamentais nas comunicações (era época todavia sem telemóveis e comunicações por satélite). O navio Williamburg era o mais próximo do Prinsendam I e a ele se reportam o maior número de acolhimentos a bordo dos passageiros salvos bem como eixo das comunicações. Entretanto, a marinha dos USA enfrentava dificuldades, seus helis não conseguiam reabastecer no ar e tiveram que aterrar no Sohio Intrepid. A par disso o tempo na zona estava ruim e a piorar. Todo o resgate, agora que a história o narra, pode ser tema para um filme porque tem todos os ingredientes de drama e sucesso, sobretudo devido à distância a que as autoridades tiveram que percorrer para poder socorrer. A coordenação possível na altura, por parte de organizações independentes, quando o resgate oficial também enfrentava problemas de autonomia e mau tempo teve um final feliz. Todos os 520 passageiros e tripulantes foram resgatados vivos e sem ferimentos graves.
Navio onde a garrafa de champagne não parte no baptismo, nomes de navios acidentados ou naufragados revestem-se de um certo estigma tal como antigamente uma mulher a bordo de navio pirata mas, não foi o caso e a HAL que não foi em maus presságios.
Em 2002 adquire o navio de 1988, ex-Seabourn Sun e ex- Royal Viling Sun, para lhe dar o nome de Ms Prinsendam II. Daí para cá, é um navio que poucos dão por ele mas que é uma referência nesta sua permanência na frota pois realizou os maiores cruzeiros (em número de dias) na companhia, ponto de encontro de gente sóbria em busca de aventura aos mais recônditos cantos do planeta e em destinos que poucos escalam, quer entrando pelo Amazónia ou passando pelo temível Drake na Antárctica, entre outros. Naturalmente que a bordo do ms Prinsendam II, durante estes anos, andaram os mais "afortunados" fieis clientes da HAL.
Ele parte daqui a pouco, às 17 horas (25 Out.) do Cais Norte e anda a se despedir dos portos, se bem que no seu caso é repetir o que faz, os cruzeiros são sempre diferentes e sem temporadas específicas. Regressa para a última escala, com nova pernoita, entre 3 e 4 de Abril do próximo ano para sair definitivamente da companhia a 1 de Julho de 2019 em viagem transatlântica que já está toda vendida.
Duas observações, sinceras, o nosso porto perde valor por gente estúpida em busca de bons ordenados que não tem qualquer mística nem romance pelos navios. Olham para um bocado de metal com hélices e não sabem "explorar" a história do nosso porto e de quem nos visita. Uma tristeza.
Segundo, há pouco, o Rui Sousa publicou a importância do resgate e de nos deixarmos de ofender, enquanto ilha, um serviço importantíssimo. Há quem dê valor e não se consiga valer, a história do Prinsendam I é um facto! Os meios não tinham alcance.
Por isso, com conhecimento e cultura, é importante para o porto do Funchal ter o Prinsendam a fazer escalas, justo em frente a um hotel que perigava o uso do cais, por outros que nada respeitam. Precisamos de paixão e vocação para muitos lugares da gestão pública.
omo deve saber, o nosso amado Prinsendam andará em despedidas nos destinos da Holland America Line. A 1 de Julho de 2019, após 17 anos de serviço, deixará a nossa companhia.
O nosso mais intimista navio da frota, é há muito tempo o favorito de muitos hóspedes, conhecido por oferecer experiências únicas de cruzeiro. Temos tempo para nos despedir, ainda há itinerários disponíveis para se juntar a nós, a bordo, pela última vez.
O Prinsendam prossegue as explorações ao Amazónia a partir de Fort Lauderdale em Novembro, depois fará dois cruzeiros pelas Caraíbas na época do Natal. Mais uma vez, vai navegar por 80 dias no "Deep South America e Antarctica Voyage" e fará a sua última circum-navegação que pretendemos que seja memorável. Seguidamente vamos para a Europa onde passaremos os seus últimos dias na família Holland America Line. Uma colecção diversificada de viagens está no menu da Europa, uma homenagem ao navio intrépido e elegante explorador. "Faremos" o Mediterrâneo, a Península Ibérica, as Ilhas Britânicas e a Noruega, e o último adeus será numa expedição de 14 dias ao Cabo Norte.
Tive a sorte de comandar o Prinsendam nos últimos anos e sempre apreciei o tamanho dele. Permitiu-nos explorar os cantos mais remotos do planeta em grande estilo, criando um forte sentimento de camaradagem entre seus convidados, os nossos hóspedes. Também permite que a nossa tripulação encante os nossos hóspedes com o serviço e as comodidades premiadas, apanágio da Holland America Line.
Espero que se junte a nós para celebrar o ms Prinsendam nalguma das suas últimas viagens pela Holland America Line. Estou ansioso por recebê-lo a bordo para celebrar este navio especial.
Atenciosamente,
Comandante Jeroen Schuchmann
À hora que ouço o navio a apitar carrego em publicar, até já ms Prinsendam.
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