De fio dental



E necessário que não haja nem paixões nem preconceito nos negócios do Estado; a única paixão permitida é a do bem público, Frederico II

Vivem-se, vão viver-se tempos difíceis na Madeira. Como em todo o lado, diga-se. A diferença, é que na Madeira tem-se escondido números e o governo apresenta à população um quadro "arco-íris" que tenta esconder a realidade. Até agora.  Porque já não é possível fechar os olhos ao aumento da pobreza, aos aumento dos pedidos de auxilio pelas famílias, ao aumento brutal do pessimismo do povo perante a realidade que lhes bate à porta, à desconfiança que este demonstrou a Marcelo sobre a inoperância do GR, porque o GR já não convence, porque os restaurantes da zona velha do Funchal estão a fechar, porque os taxistas lamentam-se, porque, porque, porque…. A pobreza envergonhada voltou em força.

Açores e Lisboa estão mais bem preparadas para esta crise vinda da China, que a Madeira. Porque, estavam a sair bem da crise antiga, porque usaram estes últimos 4 a 5 anos, para se renovarem e pensarem em alternativas. Pensaram diferente, agiram diferente. O “betão” foi esquecido e o tecido empresarial foi renovado, criando riqueza pelas exportações, mas sobretudo fazendo e trazendo mais valias.  Os sistemas de saúde, estão mais bem apetrechados que a Madeira ( veja-se por exemplo que os Açores possuem mais pontos de recolha e laboratórios de testagem deste vírus que a Madeira: 9 para 2 ) e a desigualdade social e económica, suavizou-se. A taxa de pobreza diminuiu e a escolaridade aumentou, em termos qualitativos e quantitativos.

Mas na Madeira nada foi alterado. As apostas do costume mantiveram-se, menos porque dinheiro existia pouco. Na Madeira, nada foi reestruturado, nada foi estudado, alternativas foram esquecidas e nada foi preparado para uma mudança que se exigia na economia: eliminar o betão, as obras públicas inúteis e as ajudas, também empregos, aos dependentes, fosssem indivíduos ou empresas.

O discurso do regime, fruto da realidade actual que ninguém pode esconder, começa a mudar. Pouco, mas começa-se aqui e ali nas entrelinhas, a tentar dizer que as coisas não vão, não estão bem. Apesar de "a culpa ser de Lisboa" se manter, existe uma pequena nuance no mesmo: a ausência de optimismo. Nenhuma mensagem positiva é passada. Apenas negativa. Nem o "vamos conseguir" ou o "todos juntos seremos mais fortes", ou o "apesar de Lisboa nós ..." se ouve. Nada. Pedir mais dinheiro, " tentar escapar", mas nenhum vestígio do que fazer durante e pós Covid 19. A Madeira está “sentada” à espera de dinheiro, venha de onde vier, para fazer exactamente o mesmo que fez até aqui. Gastar, gastar, gastar….

É conformista. Um discurso reactivo, pobre nas ideias, rico nas falsidades. As "boutades" estão lá, como Pedro Calado esta semana na ALRM a dizer que a economia continua a crescer há 81 meses, passando por cima dos meses de Abril, Maio e Junho deste ano, onde a actividade económica da Região se reduziu drasticamente, como o próprio GR diz. Penso aliás, que esta, só não parou quase totalmente, porque a função pública, algumas (más) obras se mantiveram, tal como os apoios aos dependentes do regime ( empresas privadas, empresas públicas, .... ). Mas Pedro Calado também JÁ diz que o "ferry" não foi promessa do psd-M ou deste GR, o que é outro sinal de desnorte. Como também o foi a tentativa "anedótica" de passar a “Invest madeira”, para a presidência do GR, numa manobra "blitzkrieg" sobre o cds-M. ( honra seja feita, ninguém faz a mínima ideia do que a Invest -Madeira, faz ou traz à Madeira, excepto ser mais uma estrutura de maus gastos para a região e para boys/girls do sistema ganharem algum.

O GR navega à vista, sem rumo. Com apenas uma prioridade: que nos tempos mais próximos não sejam apeados, para não poderem serem responsabilizados e terem de prestar (más)contas pelo que fizeram.

O regime psd-M\cds-M, tem sido ajudado pelo estado central, no estado de "lay-off" que atinge cerca de metade da população activa na Madeira, como os Açores, Algarve, .... A Madeira, já não tem recursos próprios, como os Açores por exemplo, para poder ser "acreditada" no mercado financeiro. Todos eles estão demasiado alocados a inutilidades e a ajudar uns poucos. Estão dispersos e mal. É por isso que quando pede à banca, esta exige-lhe mais juros e paga por maiores seguros de risco. Contrariamente aos Açores, a Madeira já não pode ir à banca só. Tem que ter o OK de Lisboa. Uma vergonha. O tal "aval", que dizem prescindir. A RAM atingiu o seu limite de endividamento. Está de “tanga”. Pior, nem “fio dental” já usa. Está nua. Uma autonomia dependente financeiramente de Lisboa.
O melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis, Voltaire
Este regime continua a fazer flores, com dinheiro alheio. A usar os apoios que Lisboa concede, como se fossem seus. Por isso é com alguma expectativa que vejo o próximo mês de Agosto. Aquele em que o regime de lay-off termina. E quero ver quantas empresas na Madeira, receberam e vão ter de devolver apoios, porque os postos de trabalho não foram mantidos. Em Agosto, como diz MA, o GR estenderá com recursos próprios o regime de lay-off ? Mas onde estão estes recursos próprios. o dinheiro, para isso ? OU será que Lisboa, fruto do que se passa no continente vai estender o lay-off e portanto MA terá mais uma ajuda para a Madeira ?

As asneiras sucedem-se. Note-se. O GR já disse que é necessário outro navio com outras características, para fazer o trajecto Funchal – Porto Santo, a ser construído com os novos fundos comunitários. O problema é como pode um novo "player" ir a concurso, apesar do Grupo Sousa ter uma concessão DADA e PAGA pelo GR, por mais quase 8/10 anos, concessão essa automaticamente renovada. Em resumo, o GR não tem dinheiro, mas fruto de circunstâncias devidamente preparadas, já fala em dar mais outro navio grátis ao Grupo Sousa. Aliás, pagar por concessões que dá, é um must deste GR. Não têm, dão e pagam por darem. Mais vale trabalhar para o "bronze".


MA já disse que vai manter, apoios às empresas. O que MA não disse, é que não tem dinheiro para o fazer. É que o limite de endividamento da Madeira, já foi atingido, com estes quase 500 milhões em que a RAM se vai endividar, com o OK do governo de Lisboa. Esta situação é tanto mais perturbadora, quanto é notório, isto não diz MA, que a banca exige juros mais altos e prémios de seguro elevadíssimos à maioria das entidades regionais que tentam empréstimos. Como aconteceu agora com o GR. E que os incumprimentos na banca aumentaram na Madeira, mais do que em qualquer outra região do país. E MA, PC também nada dizem sobre isso. Não escondem, mentem por omissão.

O que MA também não diz, é que Lisboa só permitiu a RAM endividar-se em 500 milhões de euros, também porque é o limite que Lisboa tem para assegurar o risco de não pagamento desta dívida à banca pelo GR. Por miúdos, se a RAM não pagar, paga o estado português. . 
Os governos são para fazer bem com o pão próprio, e não para acrescentar os bens com o pão alheio, Padre António Vieira
Se o pagamento de ordenados pelo GR à função pública já não é seguro na RAM, nomeadamente na maioria das entidades públicas que directa ou indirectamente controla, tendo sido já estudadas hipóteses de parcelamento destes valores ou mesmo de pagamentos com títulos da dívida regional, tipo títulos de "tesouro regional" que podem ser trocados ( qual o valor ?), por outro lado o GR não fez ainda nenhum exercício de contenção em projectos e apoios inúteis e inconsequentes às dependentes da região.
É que o GR depende dos dependentes do regime, para manter a dependência da Região no GR, que é dependente dos fundos de Lisboa, mas não quer ver-se depender, porque a dependência que existe, é ocultada pela dependência que o regime tem de uma central de (des)informação ao serviço do GR e psd-M.

Felizmente, as pensões ( e a Madeira é a região do país onde as pensões são mais elevadas "per capita" ), são asseguradas pelo estado central, Lisboa. Mais "duas" coisas que o GR não diz. Como é que a RAM tem as pensões mais elevadas, mas também é das mais pobres do país. Os números explicam-se: se alguém receber, por exemplo AJJ, 3 000 € de pensão e mais duas pessoas 500 € ( tudo pago por Lisboa ), a média per capita será de 1 334 € por pessoa. Está explicado. Também por isso é que a Madeira nos livros, ainda é considerada pela UE, pelo estado português das mais ricas do País, pouco abaixo de Lisboa.  Outro exemplo, o rendimento anual real de poucos membros da família Ramos. Apostaria que paga o rendimento de mais de 20 000 madeirenses, ficando todos com uma média de cerca 1 000 € mensais. E os exemplos continuariam....


O GR não sabe fazer contas. E faz-nos crer que com mais 500 milhões de euros, os seus  assuntos ficarão resolvidos ( e espera pela UE). Nada de mais errado. 500 milhões de euros, são cerca de 1\7 do PIB da região, valores de 2019 e quero crer, cerca de 1\5 ou mesmo 1\4 do de 2020, 2021. São mais 500 milhões de euros, que se juntam a uma dívida, já impagável. A RAM vai atingir o final de 2020, com uma dívida total “oficial” de cerca de 5 a 5,5 mil milhões de euros, no mínimo, quase 130% do seu PIB, isto se o PIB da Região não descer dos 4 mil milhões, o que tudo leva a crer.

Mais, as agências de rating, apesar de considerarem "positiva" a posição da RAM, ainda não a tiraram do lixo, mas avisam que é devido ao estado português que ela não cai. Situação que Lisboa também não quererá ver alterada, porque um "jogo do dominó" pode acontecer, com a dívida soberana do estado português. cair, por causa da dívida da Madeira. Receber mais 5,5 mil milhões de euros de dívida, seria talvez um golpe determinante para as finanças portuguesas. 
O governo, mesmo quando perfeito, não passa de um mal necessário; quando imperfeito, é um mal insuportável, Thomas Paine
Pior, 500 milhões de euros, como MA sabe e (não) diz, não são nada. Entre pagar divida, adiar pagamentos, pagar juros, e manter toda a grande rede de apoios indecorosos a pessoas , empresas, organismos disfuncionais, que nada produzem e que tudo gastam, não vai sobrar nada para o necessário: o apoio às populações. O apoio às empresas válidas, aquelas que geram mais valias. Porque são poucas, mas ainda existem algumas na RAM. Veja-se o caso da saúde na Madeira, que dizem vai receber mais 115 milhões de euros. Este GR, mais uma vez demonstra o que só sabe fazer. Gastar. Pensa que é com mais dinheiro que a Saúde da região melhora, em vez de culpar o "pantagruélico" sistema criado de sorvedouro de dinheiros, de ineficiências, de irresponsabilidades.

O GR podia usar algum desse dinheiro para começar a construir o novo Hospital. Uma obra que “poderia” ajudar muito a economia da Região, criando temporariamente recursos. Mas lá está, as empresas do regime não querem que esta obra pública se faça, a não ser ao seu preço. Por isso o concurso ficou vazio, mesmo com um preço base abissal, comparativamente a outras obras idênticas a serem lançadas por Lisboa em 2021. Existiu cartelização em não fazer.

Este GR começa a tropeçar em si próprio e nas suas palavras. Por mais que os números sejam maquilhados, o que salta à vista é a desgraça que impera na Região.  Por muito que o GR diga que distribui por casas do povo, por IPSS´s, por juntas de freguesia afectas ao regime, o que se vê mais uma vez, é a distribuição igual da miséria por cada vez mais gente e de riqueza pelos poucos do costume. 
A arte de governar consiste em não deixar envelhecer os homens nos seus postos, Napoleão Bonaparte
Mesmo os números da população activa da Madeira são "trabalhados". Se em 2019 eram cerca 138 900 pessoas, com uma taxa de desemprego de 7% a descer, segundo dados "oficiais" do GR, o próprio GR admite agora cerca de 45% em regime de lay-off, cerca de 43,700 pessoas. Mas o que o GR não diz, é que existem mais cerca de 17 900 pessoas nos centros de desemprego, mais as que não são contadas, como aqueles que têm desemprego de longa duração, aqueles que por receberem um programa de apoio também não contam para esses números e os sócios das cerca 5 000 empresas que pediram protecção. A verdade dura e crua é que com os dados "oficiais", incluindo os que estão em regime de lay-off, mais de 85 000 madeirenses não têm trabalho, Sobram cerca de 50 000 que estão empregados pelo GR, pelas dependentes, os pequenos empresários, os que possuem contabilidade não organizada ( só na educação existem cerca de 20 000 funcionários, não contando com outros tantos na saúde ).

Este é um GR inerte e de inertes. De trapalhadas. O objectivo deste GR resume-se hoje apenas a um. Dinheiro. Não só para pagar contas, mas sobretudo para pagar àqueles que o mantém no poder. Este GR não tem ideia nenhuma para o durante e pós-covid 19. Apenas gastar o que não têm. Como não têm, o GR anda de fio dental, talvez nu. Anda à solta e está à venda.  
O governo não é estabelecido para vantagem dos governantes, mas sim dos governados, Sydney Smith
Porque este GR não tem futuro, não tem ideias, já não tem argumentos, talvez por isso MA o queira abandonar. As teorias dizem que está a ser empurrado pelo psd-M, Eu acredito que queira sair de forma mais "honrosa" possível,  dada a actuação catastrófica que fez nestes últimos anos no GR. Estará à espera de um bom resultado nas autárquicas ? De ter a certeza que vem aí dinheiro, de qualquer forma e feitio ? Será que está à espera de um convite da UMA para se tornar professor catedrático ?

Ou será apenas como um condenado à morte, ou como Nero, está apenas à espera que o Apocalipse,  o grande incêndio se despolete na Madeira ? 

O GR da Madeira, não é mais do que um conjunto de cegos, a guiar uma carroça puxada por um conjunto de burros cegos em direcção a um abismo, querendo levar com eles quem está na carroça.. Mas, o que ainda não se aperceberam, é que quem vai na carroça, não se quer suicidar. São os tais 80 000 membros  da população activa da Madeira e mais uns tantos da função pública madeirense não dependentes. Mais os familiares.

Porque a culpa, é de Miguel.


OBSERVAÇÃO
A CMF coloca, descerra placas para enunciar obras. Está correcto. Também têm o direito de fazer tontices. Afinal estão bem acompanhados por quem reinaugura cabeleireiros, cafés, WC´s de praia, lojas de pipocas .... . É anedótico e são todos umas anedotas. 

 Porque vamos viver muitos silêncios, porque estamos  viver um grande silêncio
Simon & Garfinkel: The Sound of Silence

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