1 – Casualmente, o Novo Banco
Será compreensível que no mesmo momento
que em Portugal milhares de pessoas experimentam uma profunda asfixia
financeira, outros milhares perderam pelo menos um terço do seu salário, a
governação entregue 850 milhões de euros a um banco privado?
Já
a venda do Novo Banco à Lone Star, com a manutenção de 25% na esfera do Fundo
de Resolução, constituiu um vergonhoso momento de assalto aos recursos
públicos. Tendo a Lone Star adquirido 75% do capital do Novo Banco por zero
euros, sob condição de uma injeção de capital de mil milhões de euros na
própria instituição, o Governo PS disponibilizou ainda 3,89 mil milhões de
euros em garantias, para eventuais necessidades de capital.
É evidente que a gestão da dívida do Novo
Banco e dos seus ativos depreciados está a ser levada a cabo de forma a
consumir todo o capital disponibilizado pelo Estado sem qualquer contrapartida.
Se já não era aceitável a entrega de
centenas de milhões de euros ao Novo Banco sem qualquer tipo de contrapartida
na aquisição de capital e controlo do banco, menos aceitável é que um governo
entregue a um banco mais 850 milhões de euros para pagar vendas de imóveis e
outros ativos ao desbarato.
Não é admissível, ainda, que seja
possível à administração do banco aumentar os salários dos administradores e da
gestão de topo, criar prémios de gestão que só serão entregues mais tarde, para
driblar as recomendações do Banco de Portugal.
Tais opções contrastam com as
dificuldades que o povo português enfrenta em face da COVID-19 e dos seus
impactos económicos e sociais.
2 – Uma pergunta impertinente
As perspetivas económicas demonstram a necessidade de maiores apoios à economia. Face aos impactos provocados pela pandemia Covid-19, justificam-se meios financeiros públicos como contributos do Estado para o relançamento do desenvolvimento da economia do País. Mas é preciso que esses apoios, que venham a ser criados a partir de verbas do Orçamento do Estado ou dos Orçamentos das Regiões Autónomas ou com recurso a fundos comunitários, sejam distribuídos de forma justa e adequada às necessidades do País.
Uma pergunta impertinente: seria
admissível que os apoios públicos se dirigissem a entidades que, mesmo
desenvolvendo a sua atividade em Portugal, estivessem sediadas em paraísos
fiscais ou em territórios que promovem o dumping fiscal, com
claro prejuízo para o nosso País?
Países como a Dinamarca, a Polónia ou a Áustria já avançaram no sentido de
proibir quaisquer apoios públicos a entidades sediadas na “lista negra” fiscal
da União Europeia.
Há uma vasta corrente de opinião que se
manifesta contrária ao favorecimento das empresas, através da atribuição de apoios
financeiros públicos, a quem escolheu regimes fiscais mais vantajosos sedeados
fora do nosso País.
Segundo um estudo publicado pelas universidades de Berkeley e Copenhaga, apontam para
que Portugal perca quase 630 milhões de euros por ano (11% do IRC) pela
transferência de lucros de grandes empresas para regimes fiscais mais
favoráveis.
Seria inadmissível que as empresas que
recorreram a esses mecanismos, não pagando os seus impostos em Portugal, sejam
agora beneficiárias dos apoios que são suportados pelos impostos pagos pelo
povo português?
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