O medo assume nos nossos dias uma função de princípio estruturante da sociedade, impregnado no imaginário colectivo e nos valores sociais. Nestes dias de pandemia, assiste-se à disseminação do medo. Nos dias do "Corona Vírus", do que se tem medo? De quem temos medo?
Como escreveu Jean Delumeau, na sua história do medo no ocidente, hoje, como no passado, o medo estava ao lado ou estava à frente, estava no vizinho, no forasteiro, no medo de si mesmo. Na "História do medo no ocidente: 1300 - 1800, uma cidade sitiada", «o distante, a novidade e a alteridade provocavam medo. Mas temia-se do mesmo modo o próximo, isto é, o vizinho» (pg. 22).
Os estudos de J. Delumeau sobre o medo apontam para uma compreensão da diversidade de sentidos que o conceito adquire ao longo da história: não só tem sido objecto de alterações das formas pelas quais o medo se apresenta, como também os conteúdos e as conceções de medo experimentaram transformações.
Face a acontecimentos mais impactantes o exacerbar do medo, há séculos, amedrontou as consciências, adestrou consciências atónitas e apavoradas. E quando assim é os humanos são capazes do melhor e do pior.
Oxalá, tal como em "A Peste" de Albert Camus, se possa dizer que «...o que se aprende no meio dos flagelos: que há nos homens mais coisas a admirar que coisas a desprezar.»
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