A indiferença


A indiferença é um cancro que corrói a sociedade. Não raras vezes, é a retribuição que se dá pela falta de valorização pessoal, o círculo vicioso de quem não recebe nem dá elogios ou atenções.

Tudo começa pela saturação que se mantém por muito tempo, chega-se à desmoralização, à insensibilidade, ao desprezo e alguns à depressão.

Alguns políticos provocam-na para que, as maiores barbaridades na gestão da coisa pública, sejam praticadas com a sua anuência tácita, a dos indiferentes. A apatia obtém inércia. O político é supostamente castigado com a abstenção, situação que o deixa feliz por dentro com teatro por fora.

Lembre-se que quando a sua indignação e intervenção não estiverem presentes, os maus ocupam o lugar e corroem os pilares da sociedade com uma nova ordem. Assente na mentira que persegue e assedia.

Chegamos a um ponto onde, quem se manifesta com razão, vê-se envolvido pelo surrealismo dos beneficiários dos caminhos errantes, donos do sucesso falso, orquestrado, à medida e em total desrespeito pelo seu semelhante. Até se esquecem que são patifes porque ostentam ser gente de bem, com neo-moral, neo-ética, neo-justiça. A alucinação é tal que se indignam em defesa da honra e substituem-se à Justiça, o seu estatuto de impunidade é tal, ao fim de muito tempo, que se cristaliza uma ideia de que ali está um poderoso intocável, medida de toda a ética, moralismo e lei. O sucesso na trapaça institui-se como modelo, diria uma nova ordem regional que determina até o que é talento coadjuvado por interesses.

Na actualidade, ocorre um fenómeno onde o mais corrupto, falso e abusador tende a falar e a escrever mais e de forma compulsiva, é sintoma de uma aflição que pretende corrigir erros e se justificar diplomaticamente, bloqueando o pensamento com descaramento.


Vivemos muito para lá da era da informação, já estamos no lixo com a actual profusão de textos em bicos de pés, sintoma de ego que ninguém atura e que gera a indiferença em muitas pessoas, cansadas de apostar em leituras que não levam a nada.

Para piorar a situação, temos os caçadores de pageviews que visam ganhar dinheiro com a publicidade. O sucesso está num título e uma fotografia apelativa. Outros que se preocupam com o conteúdo, com excelentes textos que informam de facto, ficam ultrapassados pela viciação no sucesso da pageview, uma mão cheia de nada mas com todo potencial para atingir o clique que factura.

Noutros casos, o título e a imagem apetecíveis são um verdadeiro embuste para estar sempre a passar páginas para marcar publicidade e gerar lucro. Engano após engano, o leitor entra em zapping, títulos e imagem. Estes manipuladores "factureiros" vão ao encontro das massas incapazes de ler um texto completo, benéfico para a sua vida e provocam outra forma de apatia e inércia mas sempre indiferente.

No fundo, passa-se com os textos aquilo que se passa nos cinemas, se não tiver acção, explosões e ritmo alucinante, o filme "não presta". De novo, bons filmes duram pouco porque têm escassa audiência, ou então, por experiências passadas, nem chegam a algumas salas de cinema. O cinema serve para facturar, não para exibir bons filmes. E voltamos ao mesmo, a formula em que a qualidade é desprezada e se deseja um actor barato, como qualquer profissional, depois os efeitos especiais fazem o resto.


Com estes exemplos chegamos aos jornais, eles são feitos com a vida do Jet7, catapultando trivialidades ao estrelato que, até ofende verdadeiros heróis anónimos com pulso na vida. São curiosidades requentadas de várias maneiras porque já deram sucesso, exageros, informação impactante ou publicidades feitas notícias. O sucesso está nos acessos à leitura. Por essa razão, mais depressa se dá oportunidade a uma besta, um bobo ou um asneirão do que a alguém que sabe o que diz. Desceu-se tanto que, a luta a este nível, também se vai situando nos medíocres. Os artigos ou crónicas tornam-se entretenimento, ou de quem escreve ou de quem lê, a Gnose (conhecimento) é enviada às urtigas. As pessoas estão seduzidas, sobretudo viciadas, em festa e ignorância para viverem felizes.

Até com lojas há zapping. Se abriu uma nova, temos um mês em que ninguém se mexe, enquanto é novidade, depois é votada ao esquecimento, é mais uma.

Da maneira como se leva a formação da larga maioria, lúdica e graciosa, criamos gente sem pachorra para pensar, analisar e participar, temos seres indiferentes em zapping. O ambiente cimenta o problema. A par da indiferença e a inércia, as pessoas viciam-se no sucesso de serem falsas, antes parecer do que ser, antes cair em graça do que ser engraçado, é a era do falso de sucesso premiado por líderes sem categoria. A amizade está sob a mesma sátira do amor e o interesse, "deve ser amor, porque não têm interesse nenhum". Na verdade, o amor pelo interesse comanda muitas amizades. Com as relações humanas retornamos à indiferença. Liga e desliga, uma intermitência por interesse.

Falta o cinismo, até podem reconhecer o que é muito bom mas se for inconveniente por fazer sombra, se não der jeito estar junto ou tiver influência negativa na vida pessoal, por abuso de terceiros. Se a qualidade dos outros puder ser aproveitada e escravizada para que ineptos brilhem, também é opção, desde que se tenha poder. As restantes pessoas cedem porque não têm coragem nem têm coluna, acobardam-se e fazem o jogo dos mauzinhos, sempre a medir a distância de segurança. É assim que vemos a popularidade de autênticos vermes do sistema e a ostracização dos que poderiam elevar a categoria do ambiente em que se vive.

Estamos num tempo em que o ambiente exige mudanças drásticas mas, as relações humanas, não estão longe do mesmo, principalmente na Madeira. É preciso começar a saborear e respeitar, ter prazer genuíno de estar para acabar com todo tipo de "descartáveis" por indiferença. A sociedade está doente.

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