"O delírio" de querer manter o "poder a qualquer preço"

Tem dia quase certo na semana para a secretaria regional da Educação tentar dizer que está viva. A imagem que acaba por transmitir é a de um acto de sobrevivência política. Os assuntos que estão na ordem do dia são, intencionalmente, secundarizados e brincam com números estatísticos, que têm muito que se lhe diga, sublinho, para tentar transmitir que o sistema está bem e recomenda-se! Não está e não se recomenda em uma região Autónoma. Mas os outros, os outros, os da oposição política em geral e os que analisam o sistema, esses fazem "declarações sem nexo" "mentem" e caluniam". Os investigadores, os professores universitários, os professores em geral, os autores de livros e de artigos em revistas de pendor científico, coitados, têm posições "delirantes". Só um e apenas um sabe do que fala. Concluo, a que obriga a sobrevivência política!

Sistema Educativo
Não basta, todas as semanas, sem contraditório, político ou não, abastecer a comunicação social com trololós de circunstância. O sistema educativo é muito mais complexo do que um qualquer paleio balofo. O sistema contempla a arquitectura dos edifícios, os professores, os administrativos, os funcionários de acção educativa, o número de alunos por estabelecimento e por turma, os pais e encarregados de educação, os currículos amigáveis ou não, os extensos programas, repetitivos e desesperantes, o processo pedagógico, as razões da indisciplina, os projectos de escola e de vida, os tpc, a cultura, a autonomia administrativa e gestionária, a centralização vs descentralização, o financiamento, a bloqueante burocracia, a liberdade de organização diferenciada dos estabelecimentos, a acção social educativa vs pobreza, as fusões(!), o analfabetismo funcional, a inspecção transformada em "big brother" e quase vocacionada para a perseguição a docentes, as direcções tipo "duracel" que, castradas, encolhem os ombros à inovação, ou as que tentam são excluídas, as políticas de família a montante, o subtil condicionamento dos sindicatos, com veladas ameaças aos destacamentos, a importância das ligações a todos os outros sistemas que gravitam na sociedade, dando e recebendo, tudo isto e muito, muito mais conduz a uma outra conclusão: é que os tais considerados "indicadores positivos" não "animarão o próximo ano lectivo". E porque assim é recuo a Junho de 2018 e ao DN-Madeira, através da Jornalista Ana Luísa Correia, que publicou dados da Pordata:


"(...) 65% da população da Madeira, com 15 ou mais anos, tem apenas até o 9º ano de escolaridade. (...) A Madeira continua a estar pior do que a média nacional, naquela que é a taxa de abandono precoce de educação e formação (jovens dos 18 aos 24 anos que estão fora do sistema de ensino e sem o secundário): 23% na Região e 14% no País"

Alguém acreditará que em um lapso de um ano, a Região, com uma ou outra fragilidade assumida, valha-nos isso, passou do inferno para o céu? Infelizmente, não, e o sistema não sobrevive à manipulação de dados estatísticos. 
O desastre incomoda-me, porque é o futuro que é colocado em causa. E incomoda-me porque o sistema político vive de mensagens que me fazem lembrar um antigo "patrão" da Coca-Cola ao se dirigir aos seus colaboradores: "nunca se esqueçam que estão a vender fumo". De facto, também há políticos com uma enorme habilidade para vender fumo!

Há um livro clássico "Como mentir com a Estatística", escrito por Darrell Huff, onde o autor sublinha: "(...) A linguagem secreta da estatística, tão atraente no quadro de uma cultura baseada em factos, é usada para causar sensacionalismo, para amplificar, para confundir e para simplificar o mais possível. Os métodos e termos estatísticos são necessários para comunicar um grande volume de dados sobre tendências socioeconómicas, condições de mercados, pesquisas de opinião e recenseamentos. Todavia, sem autores que usem as palavras com honestidade e sentido e sem leitores que saibam o que elas querem dizer, o resultado só poderá ser um completo disparate semântico (...) Como se fossem uns pozinhos de perlimpimpim, as estatísticas fazem muitos factos importantes parecerem aquilo que, de facto, não são (...)". 

O problema reside aqui, na ânsia de querer apresentar resultados de uma Legislatura que, de estrutural, nada adiantou, e, por isso, jogam-se uns números para mascarar a inoperância e a claríssima ausência de um projecto político portador de futuro. Foram mais quatro anos a orientar-se pelas estrelas quando existem tantos instrumentos de navegação ao dispor. Perguntem aos professores  se esta escola lhes dá prazer; perguntem aos alunos se esta escola lhes concede o prazer do conhecimento. Perguntem, vão lá, questionem, tentem descobrir se existe o sentimento traduzido pelo Físico português Alexandre Quintanilha: "eu vivo porque sou curioso". Averiguem se é verdade que só 11% dos rapazes e 14% das raparigas de 15 anos dizem gostar muito da escola", por extensão, se a escola "cativa ou é uma seca"; estudem se é ou não aceitável que do 1º ao 9º ano existam cerca de 900 metas curriculares; analisem se "os alunos contam e se têm voz nas aulas"; se o sistema segue ou não a lógica de uma linha de montagem; se os planos curriculares assentam nos interesses e talentos dos alunos; se as escolas são ou não "para inúmeras crianças e adolescentes, verdadeiras catedrais do tédio" - Ilídia Cabral, docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. Perguntem e estudem e aí, se existir inteligência e vontade política, talvez, enquanto leitor, desperte o meu interesse em seguir duas páginas que não sejam de estatística carnavalesca.

Com toda a razão, escreveu o Psicólogo Eduardo Sá: hoje "(...) um adolescente de sucesso é um "tecnocrata de mochila" aos 15 e um "ídolo" antes dos 30. É uma ideia gananciosa e vaidosa de sucesso que não devíamos reclamar para os adolescentes". É esta a mentalidade que existe e que a secretaria da Educação, insustentadamente, persegue. Daí a meritocracia e daí a luta por "cincos" e "vintes"! Daí um sistema de avaliação que, primeiro, radiografa ao pormenor o aluno, decompõe-no às postas, atribuindo-lhe percentagens para tudo e, só depois, se restar tempo, consegue olhar para o conhecimento: "o que resta depois de esquecido tudo o que aprendeu na escola" - Einstein. Deste Físico deixo, ainda, a  assertiva frase: "a imaginação é mais importante que o conhecimento". Saberá o secretário o que isto significa no decorrer da formação?
Ilustração: Google Imagens.
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