Reunião de três bispos com Nosso Senhor

Vou ensaiar três testemunhos sobre o caso do Padre Martins Júnior e a paróquia da Ribeira Seca, na pessoa dos três principais responsáveis pela situação. Os responsáveis para o caso são o bispo Francisco Santana, o bispo Teodoro de Faria e o bispo António Carrilho. Vamos imaginar o que dirão numa reunião perante Nosso Senhor estes três senhores bispos da santa madre Igreja da Madeira. Qualquer semelhança com a realidade deve ser considerada pura coincidência.

Bispo Francisco Santana (o causante):

Eu, ao chegar à Madeira, terra das flores, vi-me confrontado com um covil de comunas à solta, perseguidores da Igreja e consta que comiam criancinhas ao pequeno almoço. O tempo desenrolou-se em crismas, orações, encontros e tudo o que seria necessário para alimentar o povo na fé ancestral dos vilões e viloas da pobreza madeirense.

Perante este ambiente de pobreza, mas cheio de conflitualidade, estava eu mergulhado nos tempos do nascimento da democracia, os perigos contra a Igreja são enormes, há comunas por todo o lado, investem como cães raivosos as sagradas sotainas dos padres. É preciso queimar uns, para enaltecer e glorificar os verdadeiros amigos da Igreja. Aquela gente de bem, os reputados filhos da meia dúzia de distintas famílias que a Madeira possuía. Ao lado deste quadro salta aquele padre desalinhado, com barbas compridas e cabelos enormes soltos calcorreando cabeços, levadas, lombos e vales para consolar o povo simples oprimido pela miséria. Só podia ser um comuna encartado, eu até sabia o número da sua militância no Partido Comunista Português…

Assim, recusando a minha angelical pastoral, saem-me estes infiltrados comunas de dentro do presbitério, encabeçado pelo Martins Júnior. Um perigoso cabecilha, manobrador de multidão, revolucionário, que em vez de mandar o povo rezar, manda pensar e lutar. Tinha que o abater desse por onde desse.

Este contexto precisava de uma resposta, mesmo que ridícula, admito, mas precisávamos de saná-lo perante os homens de bem que emergiam das entranhas do regime novo, essa madrasta denominada de democracia. Eles sim, eram os garantes da paz entre o tempo e o templo.  

Não importava o Teu Evangelho, a fraternidade sacerdotal, o bom senso, uma população, uma comunidade… Importava o meu poder, a vontade de purificar uma sociedade suja de ”contras” (todos os que não alinhassem pelo status quo político da época. Contras era o mesmo que dizer comunistas) infiltrados por todo o lado. Ele seria o eleito para mostrar à classe quem ordena ou ordenha o rebanho e o que lhes acontece se não mandam rezar ou se tentam fazer pensar o povo… Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Bispo Teodoro de Faria (o continuador):

Meu querido Nosso Senhor, tudo fiz para ser bispo da Madeira. Não faltaram ofertas naquele Vaticano para que a coroa da glória aparecesse e assim foi, graças. Tive que continuar com a mesma situação que o meu antecessor tinha deixado relativamente à Ribeira Seca e ao Padre Martins Júnior. Enquanto rezava, uma ou outra vez o Espírito Santo iluminou-me com a ideia de resolver o caso, mas perante um rol de igrejas, capelas, salões paroquiais, restauros de peças de museu e outros interesses materiais mundanos que não podiam ser menosprezados perante uma situação que envolvia pessoas em situação de postergação. Antes o bem da igreja universal, do que um acidente corriqueiro, mesmo que seja um padre ou uma comunidade a Serena vítimas. Ainda mais depois de perceber que o Padre Martins Júnior ostracizado servia tão bem como exemplo para lembrar aos comunas e outros perseguidores da igreja dos padres.
Não podia resolver e até com ajuda dos meus amigos do poder, os beatificados governantes que o senhor D. Francisco Santa tinha elevado aos altares – embora depois eles me tenham tramado mais tarde com aquela coisa de somenos chamada Frederico Cunha – mas vi e venci, pois nunca visitei como bispo desta diocese a Ribeira Seca e mantive uma ou outra conversa com o Martins para dizer sempre mais do mesmo. Sobre o caso padre Martins Júnior, tudo indicava que era preciso o manter a levitar como tinha deixado o meu anterior antiste, suspenso «a divinis».

Dizem que ele é muito inteligente e culto, mas eu tinha o poder, mandava e pronto, protegido pelas forças vivas da minha diocese, pessoas de bem e de distintas famílias desta terra que eu conhecia desde tenra idade. Não tive medo de mandar a polícia por duas vezes invadir a Igreja da Ribeira Seca para prender o Martins, mas o safado escondia-se ou era protegido por algum traidor da Madeira Nova. Aquele povo levado pelo pensar e movido pela luta que ele incentivava, resistiu, escondia o Martins e mandou humilhada a polícia do espaço que era seu por duas vezes.

Por tudo isto mantive a suspensão e a ostracização de uma comunidade porque era o bem maior, contra os prejuízos que ao contrário provocaria a alguns, que precisavam que se lhes protegesse os seus interesses. Ah, Nosso Senhor, já me esquecia… Sempre nomeei o padre da Igreja de Machico como pároco da Igreja da Ribeira Seca, eles obedientes, aceitaram em Teu nome, esta aberração de estarem nomeados para uma igreja onde nunca puseram os pés. Um fartar de obediência reverente que merece um prémio… Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Bispo António Carrilho (o indeciso):

Não tenho muito para testemunhar. Não gosto de problemas. Não vim para a Madeira para ter problemas. Mas, simplesmente, para orar, mandar orar e manter tudo como encontrei. Não havendo necessidade de mexer no que está quieto, mantém-se tudo como está que para mim tudo está sempre bom. Por isso, o caso do Padre Martins Júnior e a Ribeira Seca, deviam estar assim mesmo, suspensos, a levitar sobre a camada de interesses que o nosso templo e tempo sempre precisam para sobreviverem no bem bom.

Também não visitei aquela Igreja. Encontrei-me várias vezes com o Padre Martins, mas não podia fazer nada que não fosse como a igreja pedia que fosse feito. Tentei ao máximo mostrar que avançava, outras vezes recuava e noutras ocasiões assim assim. Até que ele se cansou, para meu descanso. Sabe Senhor, ele devia obedecer e abandonar a paróquia, entregar as chaves da igreja paroquial. Não fazendo isto, disseram-me que quem manda, não pode ceder, deve mater-se e manter tudo como está.

Nosso Senhor, pelo que me foi dito, o Padre Martins é um teimoso, estuda muito as coisas, pensa sobre elas e pior ainda escreve que nem um danado num blogue que eu nunca li, disseram-me que é «Sensoyconsenso». Ora se devem ser cá um senso e consenso aquelas escrituras!

Nosso Senhor lembra-se daquela primeira visita de Nossa Senhora de Fátima que organizei à Madeira (hoje ninguém fala nisso, mas fui eu que levei Maria a todas as paróquias da Madeira), mas não entrou na Igreja da Ribeira Seca, mesmo depois de estar tudo devidamente combinado, a igreja e o adro engalanados, com uma multidão enorme de gente para receber Maria, no último minuto, pimba, demos ordens para travarem a furgoneta e inverter a marcha da imagem. – Foi uma coisa gira, pelo menos uma vez nestes anos em que estou na Madeira mostrei quem manda e que, o bom senso e consenso não estão do lado do padre Martins Júnior, mas do nosso lado, do lado do bem da igreja dos padres e bispos.

É assim, tudo fica como está e manter-se-á até nosso Senhor quiser, porque os especialistas das leis canónicas que nós temos, felizmente, sabem da coisa e mandam que o Evangelho com o Teu exemplo Senhor possa ser camuflado com belos sermões com apelos à oração e à misericórdia. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo! 

Disse-me o espírito santo de orelhas, que Nosso Senhor, várias vezes adormeceu ao escutar este paleio falacioso como se fosse a causa das alterações climáticas e mais ainda que ameaçava rebentar com a terceira guerra mundial. Nosso Senhor que de tolo não tem nada, no final da reunião, levantou-se de rompante e retirou-se dizendo que tinha mais que fazer do que estar ali aturar babuseiradas.

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1 comentários:

  1. Se o atual Papa tivesse conhecimento deste caso de certeza que já tinha resolvido a situação. já agora Parabéns, o artigo está excelente.

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