O despertar do Leslie


Para aqueles que já viveram o fenómeno dos furacões, tufões, monções, das tempestades tropicais ou tão só o ribombar potente da trovoada seca em algumas regiões, apercebe-se de como estamos inconscientes (Madeira) sobre a gravidade que alguns fenómenos meteorológicos podem assumir, mesmo tendo passado pelo 20 de Fevereiro.

Ainda o Leslie vinha à distância, a ludibriar modelos e a colocar na mente das pessoas um perigo desconhecido mas iminente, alguns já vividos no estrangeiro sabiam integralmente o que significava "furacão". Não importa se é de nível 1, furacão é uma escala de "péssimo". Sem termos, até ao momento desses fenómenos por cá, conheço pessoas que sofrem por familiares emigrados quando são anunciados furações e tufões nos países de acolhimento. Alguns deles, que passaram por maus bocados no passado, fogem para países vizinhos ou até mesmo para junto dos familiares.

Quem já viu aviões virados ao contrário, pessoas a voar (sem equipamentos), prédios a vergar, etc, sabe avaliar mas sobretudo quantificar a força da natureza. E, assiste-lhes a responsabilidade de avisar que tudo é mais sério do que a "insensível" TV onde se faz zapping. A denominação do fenómeno parece dizer pouco aos Governantes e Meteorologistas tendo já conhecido um "20 de Fevereiro", única designação que temos para um fenómeno que nem teve nome.

Enquanto os sábios do clima e da meteorologia ainda estudam para perceber que "ave rara" é esta que se produziu à conta das alterações climáticas, e se as condições se voltam a repetir, temos responsáveis que suspiraram de alívio ... já passou. Mesmo com as notícias de desgraças provocadas pelo Leslie, esse que passou a poucos quilómetros a norte da Madeira, não creio que entendam a necessidade de actuar como se fossemos um local de passagem de furacões porque basta um para a Madeira se tornar irreconhecível. Temo que o estão a interpretar como singularidade, uma excepção, por desconhecimento ou até por uma política que proteja o turismo de mais um mau factor inibidor do destino Madeira. Mas e se um dia se produzir vítimas? A história muda de figura, por incúria.

Para além do desconhecimento ou profundidade sobre o que significa ou implica um furacão, temos maus hábitos, fruto desta zona que até agora foi aprazível para vender férias mas onde o seu aeroporto vai dando sinais de que algo está a mudar.

Um furacão é um caos temível, se nos seguramos bem, um objecto vem pelo ar e mata-nos. Se nos fechamos bem vem a água e inunda. No momento do desespero os nossos bens, que tanto custaram a adquirir, por vezes cegam-nos e perdemos a vida ... sem nunca avaliar o bem maior. No caos é bom ter o discernimento da prioridade e isso só com informação. Tudo isto parece simples, até alguém se ver envolvido para verificar como tudo falha com a violência do fenómeno. Ainda há gente no continente sem energia eléctrica.

Na Madeira, para além de dizerem às pessoas para se meterem em casa, nem uma fita cola foram capazes de aconselhar nos vidros mais extensos e expostos. Não é caricato, só o itinerário de deslocação do Leslie nos poupou. E não é quando está a acontecer que todos se devem mexer. Volto a dizer, estamos com maus hábitos. Repare, pela TV vimos uma roulote de 3 toneladas a ser levada pelo ar pelo Leslie de força 1, agora pense num monte de lenha, numa cobertura improvisada de zinco para não molhar, num cão amarrado à casota, nos baldes de lixo cheios, várias cenas do nosso quotidiano. Agora misture-os no ar. Nós amarramos o nosso heli dos incêndios e depois vem pelo ar um pedaço de lenha? Temos um kit para estes casos em casa ou ainda vamos sair todos para comprar na iminência de um furacão? As questões vão se somando mas não me quero alongar.

Não estou a ser alarmista, só quero que entendam que podemos estar no início de um novo clima na Madeira, só a frequência dos fenómenos vão determinar, talvez já para o ano numa nova época de furacões com algum a se desviar de novo. Se for como a frequência dos ventos que encerram o aeroporto ... até parece que foi de um ano para outro. Alguém já indagou sobre quanto tempo levaram algumas ilhas turísticas das Caraíbas a recuperar dos furacões e quais os principais motivos?

Esta exposição é uma chamada de atenção para o facto de estarmos à mercê de novos fenómenos meteorológicos acentuados pelas alterações climáticas e que basta um para termos um novo 20 de Fevereiro. Para além dos maus hábitos, depois temos as habilidades construtivas, de uma dei conta no DN no texto intitulado de "Rolling Stones". É preciso contar com o que não está bem pensado.


Uma sugestão de leitura: Furacão apaga ilha remota

Nesta madrugada, dormíamos descansados com o gostoso tilintar da chuva, ela aumentou de intensidade e atingiu os níveis de alerta vermelho no Monte e laranja no Pico do Areeiro (e chão circundante) para além do Pico Alto. Temos um radar meteorológico para nos avisar com antecedência mas, e como se avisa? Creio que nos falta uma estratégia de aviso, por ventura com aplicações no telemóvel capazes de inibir o silêncio e tocar, caso algo de grave suceda. Necessitamos de reactivar os sinais sonoros de alerta nos centros populacionais. Estamos a entender tudo como singularidades, o Leslie, a tromba de água em frente ao concelho de Santa Cruz, as intensidades dos elementos meteorológicos a aumentar. Parece que estamos à espera de um historial em folha de excell para ficarmos convencidos ou então da "primeira" catástrofe quando já tivemos um 20 de Fevereiro.
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