1 - A “Capital Europeia da
Cultura” é uma iniciativa da União Europeia que tem como finalidade promover a
riqueza e a diversidade das culturas na Europa. Esta iniciativa tem
possibilitado a regeneração das cidades premiadas, elevando a sua identidade e
reconhecimento internacional, permitindo
identificar a área cultural como um dos pilares de desenvolvimento humano e
social, correspondendo, também, a uma oportunidade para o envolvimento da
Cidade no diálogo com agentes culturais de várias áreas, desde artistas a
agentes e associações culturais.
2 - Uma candidatura em tempos de
pandemia a “Capital Europeia da Cultura” não poderá esquivar-se ao dever de
promover, num contexto invulgar e repleto de complexidades, cidades futuras
assentes na centralidade da cultura e das políticas culturais, da diversidade
criativa, cidades atrativas e distintas pela efetiva democratização da criação
e fruição culturais.
Em momentos como este, de crise,
de pandemia, com fortíssimos apelos ao isolamento, onde tendemos a fechar-nos e
onde a cultura tem sido tão afetada, coloca-se-nos o desafio de redescobrir os
contornos de cidades futuras tendo como denominador comum a cultura, integrando
as diferentes dimensões do que é a vida e a cultura de um território.
Neste contexto, esta é uma
oportunidade para repensar o papel que queremos para a cultura, neste
contexto de pandemia. Para tal, importará projetar a reflexão e o agir coletivo
na Cidade reunindo e catalisando os meios imprescindíveis para superar a
cultura do medo, implantada nos dias da ameaça sanitária.
3 - A Câmara Municipal do Funchal
lançou a sua candidatura a “Capital Europeia da Cultura” em 2027. O objetivo deveria
congregar vontades, mobilizar para o mais amplo diálogo participativo, reunir
competências, potenciar a pluralidade das interações à volta daquela
candidatura que, ao longo dos próximos meses, deveria dar passos importantes.
4 - Todas as candidaturas têm objetivos próprios e estratégias específicas na edificação de credibilidade e razoabilidade dos seus projetos. Contudo, a fase preparatória de cada candidatura a “Capital Europeia da Cultura” corresponderá a uma etapa crucial. Desde logo, pelas dinâmicas agregadoras que se possam constituir, pela inovação dos discursos e pela força apelativa que se consiga desenhar. Por isso, o processo é muito importante, pois é o que permite afirmar um trabalho fundamental de diálogos e parcerias construtivas com os territórios e com as instituições.
5 – Lamentavelmente, a Câmara
Municipal do Funchal tem implementado uma desastrosa candidatura do Funchal a
“Cidade Europeia da Cultura”. Salta à vista a ausência de proposta estratégica.
Em vez do processo de diálogo e do aglutinar de movimentos e instituições à
volta de um projeto coletivo, parece prevalecer o negócio dos interesses mais
mesquinhos e mais rasteiros. Em lugar da cooperação estratégica capaz de
incluir entidades tão importantes como a Universidade da Madeira, o Museu de
Arte Sacra, as organizações culturais, a Autarquia preferiu a lógica da exclusão,
como se tornou evidente, entre outros aspetos, na forma como foi destratado o artista
plástico RIGO, anunciado para Comissário da Candidatura.
Estaremos ainda a tempo de operar uma revisão de todo este desastroso processo? Estarão reunidas condições para que seja reposta alguma visão estratégica? Ou já estará tudo de tal forma viciado e sem outro remédio que não seja o fracasso da candidatura?
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