Perguntar pela pior pobreza supõe o reconhecimento de que o profundo e extenso universo da pobreza não é uniforme, tem diferentes nexos causais, expressões sociais diversas e impactos multiformes nas sociedades.
É de destacar a afirmação recente do Papa
Francisco, na encíclica Fratelli Tutti: «Não há pobreza pior do que a
que priva do trabalho e da dignidade do trabalho» (nº162). Esta declaração nasce
do reconhecimento de como o trabalho é uma dimensão essencial da vida social, não
só pelo que deveria garantir às pessoas os recursos para o seu desenvolvimento,
porque o trabalho com direitos é uma das condições fundamentais para a
superação das desigualdades sociais, mas também porque um povo não vive como
povo quando é menosprezado o trabalho como aspecto fundamental da realidade
social.
«A grande questão é o trabalho.» Por esta razão,
e por consequência, a pior das formas de pobreza é, como diz o Papa, a que
priva alguém do trabalho e da dignidade do trabalho.
A centralidade do factor trabalho como chave da
questão social assume maior significado quando ganha espaço político e social
um determinado discurso perverso face ao agravamento da situação económica e
social, que consiste em derramar subsídios para responder à crescente pobreza.
Pelo contrário, importará afirmar que o combate à pobreza não se faz através de
subsídios que, como afirma o Papa Francisco na sua última encíclica, devem ser
sempre provisórios para enfrentar emergências, porque o que é decisivo é o
conseguir uma vida digna através do trabalho.
Quero, deste modo, publicamente sublinhar estas palavras
do Papa Francisco na encíclica Fratelli Tutti onde o direito ao trabalho
com direitos se coloca como a questão chave da questão social nos nossos dias. E
raros são os responsáveis políticos capazes de consequentemente reconhecer a
importância da afirmação do Papa Francisco sobre a questão essencial do factor
trabalho.
É, pois, muito relevante que o Papa proclame que «o trabalho é uma dimensão essencial da vida social, porque não é só um modo de ganhar o pão, mas também um meio para o crescimento pessoal, para estabelecer relações sadias, expressar-se a si próprio, partilhar dons, sentir-se co-responsável do mundo e, finalmente, viver como povo».
Tanto mais é de um vasto alcance significativo esta
centralidade do trabalho e dos direitos laborais quando se regista o
alastramento de uma "cultura do descarte", em especial, nas suas
incidências em tempo de crise económica e social. Quando alastra uma prática de
desvalorização do trabalho e dos trabalhadores e, em relação ao mundo do
trabalho, quando se vulgariza a ideia de que existem sectores da sociedade
que podem ser descartados, como está a acontecer com os milhares de
desempregados, então colocam-se enormes desafios éticos e políticos para os
quais a recente encíclica nos traz profundos vectores para a reflexão e para um
novo agir transformador.
Para responder à problemática da pobreza, «a
melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna», como é
proclamado na Fratelli Tutti, «deve ser sempre consentir-lhes uma vida
digna através do trabalho». E é este o rumo incontornável para uma Humanidade
diferente.
Como anuncia o Papa Francisco nesta encíclica, naquela base «é possível desejar um planeta que garanta terra, tecto e trabalho para todos». É possível erradicar a pobreza!
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