A maioria do nosso povo tem vivido há décadas em sérias
dificuldades. Para ajudar na desgraça vieram as crises e as intempéries que
foram contribuindo para hipotecar a vida de várias gerações. Alguns nunca
souberam o que é isso, porque estavam lá à mesa do festim da distribuição das
riquezas, souberam fazer e dizer ao sabor do vento que corria, mesmo tivessem
que engolir o carácter, a dignidade e a liberdade.
Os tempos foram e estão a ser muito difíceis para a maioria dos
madeirenses e para mais ajudas as governações sucessivas foram sendo marcadas
por algum egoísmo e indiferença, onde a pequena percentagem de privilegiados
esquece ou finge que não vê a dor que as dificuldades recorrentemente têm
provocado na maioria do nosso povo. O deficit de amor tem sido a epidemia
constante que consome a maioria da nossa região há muitos séculos. E não parece
haver madeira de nos livrarmos desta terrível doença…
Todas as culpas atribuídas a Lisboa quando os governos de lá são
de cor diferente do de cá, têm servido para adormecer e entreter alguma
Madeira. A esperança tantas vezes sai gorada face ao estardalhaço de alguns que
não se compadecem em combater o que resta de ânimo face ao futuro que se almeja
para construir ou reconstruir uma Madeira mais igual nas oportunidades para
todos.
A construção da Madeira está feita, é verdade, e muito foi feito
em prol da qualidade de vida do nosso povo. Coisa mais que relevada por tanta
gente com a graça da inteligência que a nossa terra tem, mas o seu custo foi
tanto que provavelmente daria para reconstruir a Madeira duas vezes. E é certo
que nunca incluiu no banquete da distribuição da riqueza todos os filhos da
Madeira. Aliás, as riquezas foram distribuídas para os de sempre, os
privilegiados com sorte, porém, os prejuízos é que foram zelosamente aplicados
para a maioria que vive do seu suor e dos seus cansaços honestos, vividos
corajosamente todos os dias na labuta do seu trabalho.
Falta fazer a Madeira que o povo simples sonha. Por isso, é
preciso deixar que seja o povo a tomar conta dos seus destinos e nunca ninguém
achar que pode legitimamente gorar os seus anseios e desejos. A desigualdade
continua e está associada à passividade, à baixa confiança e pior ainda ao
desempenho baixíssimo da felicidade, notoriamente manifesto na falta de
esperança (aqui inclui-se o suicídio e alguns crimes violentos que de vez
enquanto vamos tomando conta), na saúde mental cada vez mais deteriorada (onde
se deve incluir o consumo de drogas e de alcoolismo, realidade bem visível nas
ruas da nossa cidade), a perversão dos adolescentes, a obesidade, a ignorância
geral cada vez mais destacada na demissão bem vincada na inconsciência da
injustiça, a insensibilidade para os valores ambientais e no desleixo pelo bem
comum.
A Madeira está por fazer socialmente falando. Por isso, não
esquecer neste dia em que se lembram as glórias do passado, que é preciso
pensar com coragem um futuro cheio de incertezas que temos pela frente.
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