Este texto é um alerta e tem um objectivo pedagógico, quem dele se aproveitar para distorcer por objectivo político deverá contar com uma crueza pragmática que dirá o resto, a verdade com nomes.
Antes do acolhimento dos nossos luso-venezuelanos na Madeira, houve um tempo em que também os portugueses passaram um mau bocado (ainda passam), enfrentamos a falência do país e tivemos que nos sujeitar a directrizes exteriores para receber um empréstimo de 78.000 milhões de Euros, essa foi a conjuntura nacional. Na Madeira, também fomos à falência e descobrimos uma enorme dívida escondida, não contabilizada, na ordem dos 6000 milhões de euros, ou seja, madeirenses e porto-santenses receberam a dupla austeridade, a imposta pela República e a das contingências regionais.
Nesse período, muita coisa ruim ocorreu no país, a Madeira não foi excepção mas, era politicamente incorrecto dizer que a austeridade foi a dobrar e a miséria que provocou. Basta ver pelo IRS comparando com os Açores, outra Autonomia em igualdade de circunstâncias. No seio das famílias o ambiente era mau. Unilateralmente, porque o colectivo é o estado (apesar dos Governantes considerarem deles para as safadezas) os rendimentos de todos foram cortados para fazer face à dupla austeridade, para pagar dívidas e empréstimos que as duas Governações fizeram.
Assim, qual escada onde o ónus acaba no degrau do elo mais fraco, apesar de trabalharem, muitas famílias descontrolaram as suas contas pessoais, mesmo levando uma vida contada, ponderada e humilde. A generalização de “viver acima das suas possibilidades” feriu todos para justificar as acções dos poucos que nos endividaram. Naturalmente que, sem emprego, tudo foi ainda pior. Isto levou a que muitos perdessem as suas casas por não conseguirem pagar os empréstimos bancários. Ninguém teve pena deles e até houve uma selvajaria entre bancos, agentes de execução e ricos abutres a querer comprar pechinchas. O fisco foi implacável apesar de organismo do culpado. Os bancos portugueses, na generalidade, revelaram-se uma podridão inimaginável, o que muitos luso-venezuelanos também sentiram na pele. Neste período, também na Madeira, muita gente pôs termo à vida e casais por mau ambiente, emprego ou estratégia desfizeram-se. Gente dinâmica para o comércio, empresários como muitos luso-venezuelanos, viram-se num mercado onde ninguém pagava a ninguém, desde que não fosse em negócios a pronto-pagamento, não conseguiam gerir as suas empresas, elas encerravam e nenhum deles na altura teve direito a qualquer subsídio de desemprego, nenhum apoio, simplesmente ver a sua vida desfeita por erros Governativos. Talvez os luso-venezuelanos com negócios predominantemente a pronto pagamento não sintam uma Governação feita para amigos. Nesse período agudo da dupla-austeridade, muitos madeirenses, nascidos e contribuintes, tiveram que emigrar por não encontrar soluções cá. Propomos que reflictam sobre como se sentem estes madeirenses que não tiveram qualquer ajuda, porque os Governantes não podiam ou não queriam reconhecer a gravidade da situação que os seus actos tresloucados de Governação tiveram na sociedade. Entendem a dualidade?
O voto é livre e deve expressar em consciência a realidade e os anseios a que cada eleição corresponde. As Regionais, no nosso caso, serão da Região Autónoma Madeira. As Legislativa Nacionais da República Portuguesa.
Olhamos para o mundo e o nosso país não é diferente, encontramos políticos sôfregos que pensam em si e não na comunidade. Encontramos populistas, manipuladores e mentirosos. Gerem as suas acções, não convictos da utilidade na sociedade, mas por objectivos pessoais e para salvar a pele de erros cometidos. Defraudaram mas encontram sempre forma de escapulir e manter no poder, seja ele partidário, regional ou nacional, porque a política para estes deixou de ser um contributo momentâneo ao serviço de todos para ser um emprego Ad Aeternum. Uma ditadura … dura, é ver quantos duram no poder e avaliar.
Muitos dos que aqui têm coragem de alertar, se sujeitando à instrumentalização política, têm famílias luso-descendentes, cá e lá, têm gente que sofreu as agruras do regime venezuelano e inclusive membros da família assassinados na Venezuela. O alerta pretende acautelar que a realidade da Madeira não seja completamente arrasada por pessoas condicionadas politicamente pelos acontecimentos na Venezuela, agindo à luz de outra realidade, apesar de estarem na Madeira. Acicatados, instrumentalizados e encaminhados a pensar que a nossa democracia se sujeita às mesmas regras da Venezuela, quando estamos numa União Europeia que, ainda assim, revela-se a zona para onde todos querem fugir.
Porque as eleições regionais indicam que vão ser disputadas ao voto, poderemos ter qualquer pequeno grupo a ter uma influência no desfecho final. O que nos leva a escrever não é o resultado eleitoral mas sim alertar os luso-venezuelanos, de boa fé e capazes de assimilar o que se diz, de que estas eleições poderão determinar a agudização latente de um certo tipo de xenofobia por comparação, resultado da dualidade e provocado por políticos interesseiros. Há políticos e governantes a omitir a realidade madeirense nas crises dos “default” da República e Regional, para voltar a sobreviver politicamente. O encadeamento dos erros encontra aqui a ignição que leva à xenofobia. Não queremos saber quem vai Governar a Região, estamos apenas a alertar para não premiarem gente que conta metade da história (conto do vigário), deturpa a realidade e faz de gente que passou por maus bocados aqui, tal como vocês lá, uns inúteis da economia real mas que aguentaram todas as crises sem emigrar.
Alguns andam a criar um gueto aos luso-venezuelanos, uma redoma mental reconstruindo a realidade Venezuelana na Madeira em vez de permitir a integração com a cultura madeirense, a língua e a realidade. Parecem amigos mas, não são. Querem tomar posse dos luso-venezuelanos tal como têm por acção política comprar pessoas. Esse não foi o problema da Venezuela? Estão a manipular conferindo “apodos” a pessoas de cá para serem como que homónimos da realidade Venezuelana. Estão a enaltecer serviços que estão maus, se comparados com a Europa, maquilhando com estatutos de preferência.
Há candidaturas que exercem sobre os luso-venezuelanos um aproveitamento político asqueroso, ao ponto de espalhar o boato de que a Madeira, com uma governação à esquerda, será uma Venezuela. Já lhe começaram a cortar a liberdade. Com esta lógica, os luso-venezuelanos que preferiram viver no continente devem estar a passar um mau bocado com o Governo da República (Geringonça). Avaliem de onde vem o dinheiro. Seguindo a lógica inflacionista, a esquerda pode afirmar que uma governação à direita é Fascismo ou Nazismo? Há falta de tento na língua.
Os madeirenses desejam que os luso-venezuelanos sejam acolhidos de forma insuperável e que se promova uma verdadeira inclusão, onde todos tenham os mesmos direitos dos que cá vivem, ou seja, acesso à saúde, à educação, à habitação, ao emprego, etc. Quando se lê propaganda politica para os luso-venezuelanos, de que serão criadas linhas de apoio ao empreendedorismo e outras medidas que existem actualmente na Região, aflige-nos. Colocaram um rótulo no que já existe. Porque tratam iguais de forma diferente? Porque se segrega e cria estigma em vez de incluir? Porque dá votos? É abominável a instrumentalização vergonhosa de seres humanos para fins políticos.
Este texto não alerta sobre a tolerância que está associada ao respeito. É sobre respeito, uma das maiores virtudes, aquela que nos torna melhores pessoas. É sobre a capacidade de lidar com diferentes factos e a capacidade de analisar como é que os outros lidam com esses factos.
A Madeira tem longa tradição no turismo, vivem cá muitos estrangeiros, há outras comunidades extensas e o ambiente sempre foi de pacifismo total, sem problemas étnicos, raciais, religiosos, sectários ou xenófobos. Há um capital de garantia nos madeirenses para quem vem de fora. Há respeito mútuo pelas culturas. Não politizemos e que todos saibam respeitar o espaço dos outros.
Os madeirenses conhecem por imagens, notícias ou relatos de familiares a situação dramática pela qual muitos luso-venezuelanos passam. Somam-se à história portuguesa que contém outros relatos sobre o que é deixar tudo para trás para fugir da insegurança, da fome, da violência armada, tendo por objectivo a sobrevivência. O país sabe acolher, sempre acolheu, não há agora seres especiais, é da cultura e do respeito.
Texto de:
Pde José Luís Rodrigues
Filipa Fernandes
Carlos Vares
Diário de Notícias da Madeira
Edição de Sexta-feira, 20 de Setembro de 2019
Página 6
Texto na integra: Liveblog do Diário de NotíciasLINK
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