Oh Gedeão, ilumina-os com a "Pedra Filosofal"

Li, com enorme interesse o Psicólogo Eduardo Sá, mentor da "Escola Amiga da Criança". Uma entrevista importante, fundamentalmente na esteira de "água mole em pedra dura (...)", porque, no essencial, não trouxe nada de novo. Repetiu, e muito bem, aquilo que muitos, de investigadores a autores, passando por professores, há muito dizem da estrutura e mentalidade reinante no sistema educativo. No essencial, de forma inteligente, falou, apenas, da escola no quadro organizacional e dos efeitos perniciosos que ela tem nas crianças. Deixou a questão pedagógica para outros. Mais um que vem à Região, permitam-me, "malhar no ferro frio", porque tantos já tentaram e ninguém, do vértice estratégico, para aí está virado. Talvez porque dê menos trabalho manter o pensamento de há duas centenas de anos!

Eduardo Sá, aliás, na sua área profissional, tem sido um dos lutadores por uma ruptura do sistema. Tem tido acesso aos grandes meios de comunicação social, divulgando mensagens objectivas e muito claras, tem sentido um retorno das suas posições, porém, a teimosia dos sucessivos governos, agarrados ao absurdo princípio da centralização, tem imposto um travão a fundo naquilo que os dados provam que a escola é, de facto, "inimiga das crianças". 

É a disparatada carga horária semanal, superior a 50 horas, dividida entre o estabelecimento de aprendizagem e todas as outras actividades fora da escola, onde se incluem os tpc; são os efeitos dos desinteressantes e nada motivadores currículos; é a extensão dos programas por disciplina, plenos de tralha, como diz Eduardo Sá, para "marrar, vomitar e esquecer"; é a manutenção da tendência para um desajustado conceito de "aula" em que raras vezes as crianças podem "meter a mão na massa", porque, sendo expositivas, acabam por as remeter para a condição de espectadoras e não de actoras; é a febre das altas classificações, em uma confusão entre notas (aproveitamento... o que é isso?) e CONHECIMENTO; é a loucura da meritocracia, ao ponto de entregarem cheques a crianças e jovens; é a presença do adulto, governante, que assume, do alto da sua pressuposta "cátedra", mesmo que desfasado da realidade, o que é importante na aprendizagem; é a parvoíce do ranking das escolas desrespeitando todas as proveniências culturais, económicas e sociais, eu sei lá, bem pode o citado psicólogo esperar sentado porque as necessárias mudanças acontecerão, mas de uma forma lenta, muita lenta, mais pela pressão externa do que pelo convencimento científico de quem governa da necessidade de cavalgar em direcção ao futuro. E atenção, a pressão externa tem muito que se lhe diga, enquanto a Educação não constituir interesse primeiro da população e enquanto os estabelecimentos assumirem um papel muito próximo de armazém ou guarda de crianças e jovens em função dos horários laborais. É a reorganização da própria sociedade que está em causa.

O sistema está bloqueado e, no caso da Madeira, a continuar assim, naturalmente, aumentará a distância entre o conhecimento e o quadro de indigência que se vive. Em quarenta e três anos, ao sistema político não foi possível estabelecer uma estratégia portadora de futuro, eu diria visionária, mesmo depois de terem passado e vivido a fase do aparecimento galopante da tecnologia. Conduziram o carro sempre com o pé no travão, sempre com os olhos, ora vendados, ora nos retrovisores, jamais olhando para a verdadeira estrada do sucesso. Uns, deslumbrados por estarem ao volante da máquina, outros, por notória incompetência, outros, ainda, convencidos que a escola de ontem 
sempre foi melhor que as "modernices". 

O desencontro entre o sistema, as crianças e o conhecimento está instalado. E cada dia que se passa o problema agudiza-se. Por mais que se escreva e diga, continuam sem compreender que o "mundo pula e avança...", todos os dias e a todo o momento. Oh Gedeão (1906/1997), ilumina-os com a "Pedra Filosofal".

Há dias, à saída de uma escola, perguntei, sacramentalmente, ao meu neto: então, que tal foi a manhã? Resposta célere: "igual aos outros dias e não aprendi nada. Estive sentado a ouvir". Enquanto assim for, enquanto não existir coragem, enquanto ninguém souber para onde caminha com esta teimosia, enquanto estiverem entretidos em passar, apenas, uma imagem política de "governantes amigos dos professores" (!), jamais teremos, Dr. Eduardo Sá, uma "Escola Amiga das Crianças". Como me dizia pessoa muito próxima, é preciso que os responsáveis políticos assumam que, de vez em quando, é preciso ler umas coisinhas! Não basta apregoar a "sala de aulas do futuro" ou, amiudadas vezes, falar da robotização!
Ilustração: Google Imagens.
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