A reputação

Foto de Fancy Crave - unsplash

A reputação é reconhecida como um mecanismo de controlo social omnipresente, eficiente e extraordinariamente importante nas relações sociais, com elevado ênfase na produção da credibilidade que os nossos comportamentos produzem nas interações sociais com os outros indivíduos, grupos e as comunidades. É o nosso património mais útil para gerir as expectativas que permitem a construção ou degradação de um bem social essencial, a confiança.

Abraham Lincoln (1808-1865), afirmou que “O caráter é como uma árvore e a reputação como sua sombra. A sombra é o que nós pensamos dela; a árvore é a coisa real.”

Pretendemos naturalmente que as características de cada individuo que se cruza connosco sejam previsíveis, exemplares, consistentes e em harmonia com os valores e princípios que reconhecemos como os mais adequados para a evolução e o bem-estar da sociedade onde nos inserimos.

O caráter (a árvore da citação de Lincoln) é o traço comportamental do outro que promove a nossa confiança pela coerência das suas atitudes. No caráter idealizado identificamos bem a idoneidade sustentada nos valores e princípios, a estabilidade comportamental perante os desafios e as dificuldades das circunstâncias inesperadas, o que permite a produção dos padrões ideais desejados pela sociedade.

O que nos faz criar as expectativas em relação ao comportamento de alguém, grupo ou comunidade, é a nossa capacidade de projetar cenários sustentados na nossa maior ou menor confiança, que conceptualmente construímos em função do caráter de cada pessoa, atuando em grupo ou comunidade, em interação connosco ou com outrem, quando a observamos nos contextos onde acontecem as dinâmicas sociais alicerçadas em leis, normas, valores e princípios aceites pela maioria.

A natureza das expectativas que criamos sobre os outros é sempre da nossa responsabilidade, consequentemente a reputação atribuída aos mesmos deverá ser também validada por nós, logo saber distinguir o trigo do joio é uma das mais importantes competências que devemos desenvolver desde muito cedo nas crianças e jovens. O que se observa habitualmente é que pela nossa passividade deixamo-nos ficar em zonas de conforto e outros fazem essas escolhas, por exemplo, quando simplesmente declinamos o uso dos nossos direitos.

A dinâmica das relações sociais cria e recria de forma permanente a ordem social sempre alicerçada nas opiniões e avaliações dinâmicas da multidão que influenciará as escolhas, a seleção, a eleição de indivíduos, marcas, empresas, associações, comunidade e consagrará novas ordens sociais (como a sombra da árvore de Lincoln que muda de posição em função da luz que incide sobre a mesma), ao produzir um valor patrimonial intangível - a reputação - suficientemente robusta para satisfazer (ou talvez não) as expectativas individuais e coletivas.

O Reputation Institute (www.reputationinstitute.com) por exemplo, desenvolveu instrumentos de análise da reputação de empresas que nos permitem identificar as que estão melhor cotadas em termos de reputação (www.reputationinstitute.com/global-reptrak-100). Para o consumidor é algo fundamental, o mais interessante é a velocidade como tudo muda, criando grande pressão nas empresas pelo que esta avaliação dá significado ao esforço de cada empresário para defender a sua reputação.

As redes sociais e as soluções tecnológicas colocam o poder das multidões a ajudar-nos com soluções de recomendação como a recolha de opiniões da TripAdvisor, do Booking, a atribuição de estrelas aos condutores da Uber, a seleção de sítios do Foursquare, etc, etc. A reputação tem novos instrumentos para se fazer sentir e mesmo a política não foge a esta nova tendência veja-se o caso do Partido de la Red (www.partidodelared.org).

No que diz respeito individualmente às pessoas, o assunto é bem mais complexo, as métricas são menos exatas, o número de Gostos nas redes sociais confundem mais do que esclarecem, tal é o número de perfis falsos e a venda de informações pessoais presentes nas bases de dados. Torna-se mais seguro recorrer à velha e recomendada intuição individual baseada na relação social pessoal e simples mesmo com o risco associado à ausência de valores exatos e mensuráveis. A intuição é o reduto onde o ser humano ainda comanda e o algoritmo e a inteligência artificial ainda não chegaram em pleno.

Como já vimos a reputação é um importante marco patrimonial na relação, reconhecimento e selecção social, contudo, é dos mais instáveis e frágeis por estar sustentado em pilares intangíveis como a estima, a confiança, o reconhecimento público e a capacidade de sentir e compreender o outro, que não são permanentes, não têm base genética, nem social, mas pode ser condicionada por estas, por exemplo, nos problemas no acesso a cuidados de saúde e ao conhecimento.

Os políticos, os consultores, os empresários, comentadores, artistas, desportistas, figuras públicas e opinion makers em geral, têm nos dias de hoje um desafio extraordinário, manter a sua reputação em bom estado para serem recomendados, num mundo com a verdade capturada nas redes sociais e confundida com a mentira, tornando populistas os media, onde habitualmente a multidão age em histerias coletivas de haters que pouco se interessa verdadeiramente por alguma coisa, criam-se assim espaço a extremistas sustentados por maiorias sem expressão, uma praga que tornará a nossa inteligência coletiva anestesiada e refém. 

Assim, é necessário que cada um procure manter bem estruturado o seu caráter, tal como uma árvore com fortes raízes como por exemplo a verdade, a criatividade, a resiliência, o conhecimento, a empatia, o bom humor, a ousadia, a curiosidade e a autoestima, para que a sombra (reputação) produzida seja suficiente para criar e manter a confiança coletiva que nos permita evoluir como comunidade.

Para terminar, destaco a autoestima que, segundo Naval Ravikant, citado por Timothy Ferriss (2017), nos diz "A autoestima é a reputação que criamos de nós próprios"É a avaliação permanente que cada pessoa realiza de si próprio e lhe permite ter uma opinião sobre as suas competências, capacidades e o seu valor social. É fundamental para a nossa autoconfiança pois permite-nos analisar, arriscar, inovar, criar, adaptar e produzir nos diferentes contextos em que realizamos as nossas dinâmicas sociais. Precisamos de boa saúde mental e melhor conhecimento para o conseguir. Somente assim existirão condições para a evoluirmos como indivíduos.
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