Saúde na Madeira: uma nau sem rumo?



Ao constatar parte da entrevista concedida pelo Dr. Miguel Ferreira, publicada pelo Diário de Notícias da Madeira, no último Domingo, verifiquei aquilo que há muito se passa relativamente ao estado de Saúde da Região Autónoma da Madeira (RAM) e que para mim não é novidade; sempre considerei o Dr. Miguel Ferreira uma das pessoas mais capazes para a gestão da Saúde da RAM que não envolva serviços privados de saúde parasitas.

Constato que os resultados alcançados pela regionalização da pasta da Saúde é prova de que não estamos preparados para fazer essa gestão em nome do interesse público, Quando se constata uma população empobrecida, sem dinheiro ou seguros para fazer face às suas despesa de saúde, a política vigente considera necessário alimentar a máquina do serviço privado de saúde RAM – sempre com os mesmos intervenientes e, futuramente, com os filhos destes.

A meritocracia de alguns, sustentada pelo sistema enviesado e em avaliações feitas por agentes da atual política da RAM, são um logro (palavra do momento). Desta forma, não é preciso ser gestor para verificar que esses serviços são manifestamente mais caros, muitos de qualidade duvidosa porque ninguém (exterior) controla o funcionamento do serviço público de saúde, quando muito, o serviço privado.

Se no serviço privado não existem serviços hierarquizados onde se premeia a experiência e o mérito - porque a Medicina necessita de constante atualização e validação por pares externos à região - no serviço público, com esta governação, esta situação deixou de existir em vários serviços hospitalares porque a saúde está politizada, presa a interesses políticos claros e financeiros obscuros.

É da maior importância que a população da Madeira comece a preocupar-se com isto, unindo-se em torno de um ou vários objetivos comuns que deverão passar por alguns dos itens que abaixo explano:
  1. As nomeações para as várias direcções de serviço deverão deixar de ser por nomeação política (onde estão por detrás grupos económicos que vivem à custa do dinheiro público e enriquecem à custa do mesmo) e deverá ser feita por votação interpares;
  2. Deverá haver uma separação total dos profissionais do serviço público de saúde do privado, passando pelo incentivo salarial franco dos vários profissionais e outros;
  3. O privado poderá cooperar com o Serviço Público se este último não tiver a capacidade de conseguir dar resposta, em tempo útil, por falha pontual de profissionais ou avaria de equipamento (que não seja constante!);
  4. Existir uma avaliação externa idónea, preferencialmente exterior ao país (por um país membro da União Europeia) de forma rotativa;
  5. Deverão as formações, pagas pelo Serviço Público de Saúde, promover a formação no exterior dos vários profissionais médicos e não médicos, passando por não privilegiar os mesmos profissionais de sempre – existem formações pagas a esses profissionais cujo critério de selecção é blindado, são sempre os mesmos contemplados com essas “benesses”.
  6. A formação médica e outras na RAM deverá ser primeiramente efectuada por profissionais doutorados porque são estes que têm a habilitação académica para garantir a qualidade dessa formação;
  7. Investimento em equipamentos de Saúde para acabar com a falácia de que o privado é mais barato. Isso é mentira, os países que optaram pela privatização da saúde estão a voltar atrás, por más experiências passadas;
  8. Criação de Departamentos mais extensos com profissionais dedicados apenas a essas áreas, nomeadamente na Oncologia. A dispersão de serviços tem enorme impacto na vida desses doentes.
  9. Ao invés de se mostrarem estatísticas enviesadas para emitir-se bons resultados - falaciosos e politizados - que se permita que uma entidade externa à RAM faça esse mesmo tratamento estatístico. Penso que estes pontos não agradam a quase todos os partidos políticos da RAM porque existem vários interesses comuns a não “tocar”!?

Penso assim, porque o silêncio dos vários intervenientes políticos sobre esta matéria na RAM é ensurdecedor. Termino afirmando que é vergonhoso que uma região pobre e ultraperiférica da Europa destrua um hospital que poderia ser ampliado com financiamento dinheiro europeu a 85% (como fazem os países ricos europeus) para ter a megalomania de fazer uma instalação nova que não estará pronta nos próximos 10 anos; isto serve apenas para onerar indevidamente com os mesmos grupos económicos patentes na RAM, para prejuízo da esmagadora maioria da população e fazer com que se rentabilize o hospital privado à custa do dinheiro público (dinheiro retirado da mesa das famílias).

Para onde vamos?


Leitura sugerida
Créditos ao Diário de Notícias


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1 comentários:

  1. O SRS/RAM o actual modelo é anacronico...faliu..."não serve o contribuinte, logo não presta"...o contribuinte não pode fazer parte de um modelo para o qual contribui, e em simultâneo ser financiador de uma privada por incapacidade de resposta do SESARAM...

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