A raiva vai fazer o Natal ser amarelo

1. A revolta dos coletes amarelos em França, marca a agenda destes dias. O Natal vai ser amarelo. Porque todos os problemas que nos acompanham o ano inteiro estão aí bem presentes, sem solução e alguns ainda se agravam mais.

2. As razões que justificam as revoltas são as razões de todos nós. A única de diferença, é que na França não fizeram como nós, saíram para rua e dizem não. Nós, mais acanhados e habituados a sermos «comidos» há muito tempo, ficamos pelo «pagar e calar», basta que fique um «troquinho para matar a fome», dizemos uns aos outros.

3. Vamos às razões que animam a revolta nestes dias. À cabeça relaciona-se com a raiva contra os políticos e contra a elite que domina a vida das sociedades. Estes famosos, mas escondidos, donos disto tudo, que impõem aos governos nacionais impostos desmesurados sobre os combustíveis e outros bens essenciais para vida quotidiana. Daí a reivindicação da subida dos salários, redução de impostos e o fim dos privilégios para a classe política, com uma forte exigência de que se leve a efeito a modalidade das consultas populares relativamente a assuntos que impliquem mudanças cruciais nos hábitos e comportamentos da sociedade em geral. Quem não concorda com isto?

4. Estes desejos são legítimos e estão perfeitamente de acordo com a vontade popular em geral. Caso estas reivindicações não encontrem resposta dos governos ou estes se manifestem totalmente insensíveis à vontade popular, vamos cimentar ainda mais o caminho dos extremismos. Os eleitores nutrem simpatias pelos grupos e políticos com discursos extremistas e fascistas. Em França muitos preveem uma votação ainda maior nas eleições de 2019 na extrema direita de Marine Le Pen, para o Parlamento Europeu. Entre nós não estaremos longe da mesma vontade e dos mesmos anseios…

5. Outra ideia que anda pelo ar e que faz palpitar a revolta prende-se com a confusão do Bréxit. Dizem que fazem bem fizeram os ingleses, que adivinharam vir a caminho uma intervenção da burocracia europeia ainda mais direta sobre os estados soberanos. Eles sabem que a União Europeia pretende «massacrar» ainda mais os Estados, por isso anteciparam-se e fugiram antes. Esta ideia sobre a União Europeia é grave e manifesta uma clara repulsa dos povos europeus em relação às políticas massacrantes, levadas a cabo sem escrúpulos contra vida das sociedades europeias, privilegiando os grandes grupos económicos e financeiros que dominam o mundo. Nós já sabemos bem o que isto significa e como dói!

6. Outro aspeto está relacionado com as alterações climáticas. Os governos parece quererem passar a fatura aos mais pobres, esquecendo as grandes fortunas e os que têm mais recursos. É mais que certo que as alterações climáticas, deverão ser uma tragédia de consequências incalculáveis para a humanidade, mas não podem ser um álibi, para explorar e fazer sofrer ainda mais os indefesos, as populações em geram.

7. A revolta dos povos e as consequentes manifestações nas ruas são a expressão da raiva que neste momento alimenta os povos em geral. As pessoas estão cheias de raiva contra a irresponsabilidade dos seus representantes, que não se olham, encheram-se de vaidades, vivem para o dinheiro, perderam a noção do bem comum e da justiça. As pessoas estão enraivecidas contra a incompetência que as rodeia, estão cheias da fuga aos impostos dos privilegiados e das artimanhas que inventam para ganhar dinheiro fácil, que depois deverá ser reposto com impostos sobre a sociedade em geral. Quem não sabe disto?

8. Este Natal vai ser amarelo outra vez, porque estamos todos amarelos de raiva e a revolta comanda os nossos dias que se seguem, porque a dignidade continua esquecida. Alguns - os mesmos privilegiados - acham que podem tudo e que os povos que os sustentam tudo suportam, como se fossem todos incautos, cegos, surdos e mudos. É verdade, que o povo esquece e até perdoa, mas sabe o que quer e como quer.
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