sábado, 4 de janeiro de 2020

As palmadas do Papa Francisco

1. Onde muitos viram uma anormalidade, eu não vi nada disso. Vi uma reação normal de uma pessoa perfeitamente normal. Todos nós reagimos a qualquer toque inesperado, ou com um tremendo susto ou com repulsa ou com uma reação de resposta idêntica àquela que tive o Papa. Tudo isto é o mais normal do mundo.

2. No entanto, extraordinário tem sido, o fato de muitos acharem que o Papa está fora do âmbito da humanidade, por isso, lhe chamam de santidade, nada mais errado. A idolatria papal felizmente tem acabado com o Papa Francisco. É um como nós, tem reações boas e más, perde a paciência e pode algumas vezes estar longe da misericórdia quando reage e melhor ainda pede desculpas porque reconhece as falhas. Um exemplo para muitos que na Igreja sob a vestimenta clerical acham que podem tudo sem justificar nada, por exemplo, gastar o dinheiro do povo sem lhe dar conhecimento ou justificação plausível, andar sempre atrasado, brigar frequentemente com as pessoas, acusar e humilhar as pessoas…

3. Outro dado relevante do vídeo da reação do Papa à sra que o puxou com uma certa violência, se ter tornado viral na Internet, prende-se com o fato do Papa ter feito uma alocução sobre como tratar bem as mulheres e apelou ao fim  da violência doméstica que tantas vítimas tem feito por esse mundo fora. Vai daí que este foi o mote para os meios velozes de comunicação atuais se aproveitarem deste momento menos feliz do Papa para demonstrar que até o Papa perde a paciência com as mulheres. Um aproveitamento soez e muito mau para que o fim deste flagelo da violência doméstica venha a ser definitivamente eliminado.

4. No meio de tudo isto fica outro dado também muito importante. Face ao impato e às proporções que a reação papal estava a ter, o Papa humildemente no Angelus perante a multidão reunida na Praça de São Pedro pediu perdão pelo sucedido. O pontífice disse que deu um «mau exemplo». «Muitas vezes perdemos a paciência, inclusive eu, e peço desculpas pelo mau exemplo de ontem».

5. Porém, eis um exemplo, que deve também ser viral e que devia tocar os corações do mundo inteiro. Com este gesto o Papa demonstra que não é deus e que não está acima das contingências idiossincráticas da condição humana. A sua grandeza manifesta-se assim na humildade do reconhecimento dos erros, no pedido de desculpas ou e no pedido de perdão. Tudo tão humano, tudo tão excelentemente normal! 

6. O conjunto de tudo isto, só engrandece o Papa e para mim ficou mais uma vez a lição que vem contribuir para o fim definitivo das ideias idolátricas que sempre pairam na cabeça de muita gente em relação aos Papas e até ao clero em geral. Enfim, ninguém é de ferro nem ninguém está ao nível de Deus, mas todos iguais a toda a gente, tenha a função e a missão que tiver. Todos humanos, todos homens e mulheres, na marcha da vida em busca da felicidade. Continuemos, pois confiantes em jubilosa esperança.

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