sábado, 20 de outubro de 2018

TAPanoaldo

Imagem "Negócios"
Num momento de liquidar tudo por ordem da Troika, sem pudor na venda dos símbolos nacionais ou de zelar por aquilo que dava de receitas para o Estado, tivemos um Governo Liberal em Portugal que acedeu de mãos atadas aos caprichos dos folha de excell a par da falta de criatividade para contrapor. Alguns empregaram-se nas empresas que venderam, assim de relance lembro-me da EDP. Eram as primeiras mostras de uma era de insensibilidade mas também de insanidade.

No fim da Primavera de  2015 e por perto dos 400 milhões de euros, Passos Coelho, avançou com privatização da TAP num processo pouco transparente, típico dos momentos de aflição.Muita pressa, muitos erros, muita pressão e cunhas. As acções do Estado Português, maioritário na composição da TAP, foram vendidas a Gateway que passou a deter 61% do Capital Social a par da Parpública com 34% (outra cara do Estado) e de outros 5% nas mãos dos funcionários da companhia, por força de ferozes negociações durante os momentos de greve onde se manifestavam contra a privatização.

Em Outubro do mesmo ano e com uma privatização ainda fresca mas consumada, um novo Governo toma posse. António Costa leva o seu PS a governar viabilizado, pela primeira vez, por uma maioria parlamentar de esquerdas, com Bloco e PCP. As primeiras ideias vão para a necessidade de reverter, na medida do possível, algumas privatizações. A TAP foi das mais visadas pelo levantamento popular enquanto símbolo nacional mas, dinheiro era coisa que o Estado não tinha perante tantos problemas financeiros. É desta incapacidade financeira que nasce a melhor solução possível para o Estado.


Em Fevereiro de 2016, o governo de Costa consegue uma reversão, sem indemnizações, que muito contou com a boa fé dos accionistas maioritários. Costa pagou à Gateway, consórcio com a maioria do capital, 1,9 milhões de Euros. A partir daí, a estrutura accionista (e consequentemente a distribuição quadros) ficou determinada pelos 50% em posse do Estado Português através do aumento da participação da Parpública, do consórcio Gateway com 45%, mantendo-se a participação dos funcionários nos 5%. A gestão mantinha-se indicada pelos privados e assim, no início deste ano, Fernando Pinto cede o lugar a Antonoaldo Neves que acompanhava a empresa há dois anos. Na sua entrada, o novo CEO determina os seus 4 princípios de gestão na TAP:
  1. Trabalhar de forma mais fluída.
  2. Definir pelouros claros, porque alguém tem de ser responsável pelos objectivos que se pretendem atingir. Este modelo permite avançar a uma velocidade mais rápida da implementação de decisões.
  3. Dedicar tempo à equipa. Antonoaldo Neves pretende dedicar, ao longo de cada mês, 15% a 20% do seu tempo com os gestores que estão directamente sob a sua alçada.
  4. Ter uma estrutura funcional que respeite a estrutura organizacional que se materializa numa comissão executiva composta por três pessoas, as quais têm um mandato para tomar as decisões-chave da empresa.
Paralelamente, pelo início da Primavera de 2015 elege-se na Madeira o Governo de Miguel Albuquerque, contemporâneo a este processo, perfeitamente ligado so partido do Governo de então, sintonizado pelas convicções do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho.

Provavelmente, desconhecendo a eliminação de Serviço Público através da liberalização (feita por Jardim), coisa que se viu na Assembleia Legislativa Regional por altura da Comissão de Inquérito a Antonoaldo Neves, associa à realidade da TAP de gestão privada o seu modelo de Subsídio Social de Mobilidade (SSM). Fazendo muita fé da posse dos conhecimentos para decidir, pretendiam a introdução de novos conceitos tendo por base uma "evolução" no modelo dos Açores. Implementada a solução e após longos meses de debate já ninguém consegue defender o SSM que vigora na Madeira. É burocrático, foi uma oportunidade para o aumento das tarifas aéreas, penaliza as famílias que adiantam o valor total da passagem já de si encarecida, não há nada de social nisto se não puderem adiantar o dinheiro, antes porém é uma medida que beneficia os ricos.

O que está em causa é o profissionalismo, por isso decidi fazer este paralelismo justamente com a TAP. A má escolha dos elementos que lideraram o processo na nossa Secretaria do Turismo é evidente, pela falta de domínio e percepção da verdadeira situação da Madeira no que toca ao serviço de transporte aéreo para a Região para poder decidir. Quando se surpreenderam com os resultados, as tarifas e despesas a galopar, a burocracia a ser criticada e a apresentar buracos no orçamento nacional, quiseram alterar mas como não foi em tempo útil para disfarçar, e salvar a pele, surgiram as  "culpas a Lisboa" que, em abono da verdade, parece gostar de pagar a despesa mas manter o governo de Albuquerque em lume brando.

Contudo, está ali um facto, se o Governo da República tivesse má vontade não pagava nem mais um cêntimo para além do acordado para o SSM, outro problema surgiria pela falha em quase o dobro no valor previsto para custear o subsídio, parava o SSM. Enquanto isso, temos os crimes que estão lesar o estado por expedientes, sobretudo com algumas agências de viagens. Por último a suspeita de que o governo de Costa aproveita-se dos erros da Madeira para meter liquidez na TAP porque agora, com a nova estrutura accionista, os riscos para o Estado aumentaram.

Com este cenário, o Governo da Madeira atira-se à TAP, aos seus gestores e conduz-nos ao bode expiatório. Depois dos excessos verbais pornográficos, encenamos na Assembleia Legislativa Regional. Estamos a maquilhar os erros e não a resolver. O topete do Governo Regional é muito alto o que conduz a uma falta de humildade atroz, não quer assumir que errou e é assim que isto normalmente só se resolve com outro Governo de outra côr. Até porque acredito piamente que continuam a existir na TAP os mesmos elementos que acederam a dialogar com o Estado Português para baixar a sua participação social mas, como vêem tanto orgulho, julgo que brincam com os nossos deputados e o Governo por saberem que têm o jogo ganho, inclusive estão dispostos a aconselhar "assessorias".

A TAP e seus gestores fazem o seu trabalho dentro da conjuntura que se apresenta, existem para facturar e dar lucro, pagar despesas e pagar dividendos a quem investiu na TAP. Nós por cá, temos um governo de convencidos e com muito orgulho, que nunca erram e "humildemente" insistem no erro através de uma Assembleia Legislativa Regional, que falhou a fiscalização do Governo, a servir de encenação na peça "Os malvados da TAP" porque são profissionais. Uma emboscada onde 1 de 9 deu para a toda a Assembleia e até geria os trabalhos. Seguir os 4 princípios de Antonoaldo na TAP faria muito bem ao Presidente do Governo. Temos muito que falar sobre como se escolhem as pessoas para Governar ou serem Deputados na Madeira. É aí que reside o nosso problema, falta de GNOSE.

Há uns bons anos atrás, as revistas da TAP traziam uma marca de combustíveis que dizia assim na sua publicidade: "Só os melhores combustíveis na Terra têm um lugar no céu".

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