quinta-feira, 30 de maio de 2019

SWAPS de Miguel Calado

Os contratos SWAPS subscritos por Pedro Calado e Miguel Albuquerque que lesaram a CMF em quase um milhão de euros, apresentam três problemas:

Primeiro, sobre a legitimidade de um município contratar este tipo de produtos, cujo grau de imprevisibilidade assemelha-se a uma aposta de casino, num incumprimento absoluto das regras da Contratação Pública foi cumprida que deveria conduzir à nulidade da operação.

Em segundo lugar, sobre a falta de competência dos visados em assinar unilateralmente este produto financeiro à revelia dos órgãos com essa autoridade, nomeadamente a Câmara Municipal e Assembleia Municipal, o que em si é passível de constituir matéria de foro criminal.

Em terceiro lugar, politicamente expõe mais uma vez a fraudulenta gestão financeira do PSD que, apesar do acumular de factos que vão sendo tornados públicos, continua a ser branqueada por várias entidades, como comprova o perdão de responsabilidades aos infractores por parte do Tribunal de Contas e a passividade do Ministério Público em deduzir acusação a crimes públicos.

A perder ficam, mais uma vez, os contribuintes que acabam com a factura na mão para pagar, sem que seja feita justiça. O único SWAP que deve ser contratado, é o SWAP de governo em Setembro próximo.

É preciso refletir bem nisto, a Câmara Municipal do Funchal recuperou o seu nome na praça junto da banca, é inegável que pôde contrair um empréstimo com as suas contas, pelo contrário, o Governo Regional bateu a todas as portas (bancos) mas as suas contas não foram credíveis e as mesmas caras que afundaram a CMF não eram de confiança, dai a vontade de contratar a Orey de forma milionária para engenharia financeira e negociação. Acabou por ser o Governo de António Costa a dar o Estado Português como garantia para que 355 milhões de euros fossem emprestados à Região para amortizar dívida. A arrogância do GR foi tal que inscreveu na nota de imprensa que o “Governo da República encontra-se autorizado a conceder a garantia do Estado à operação” como que se o necessitado fosse o Estado Português. No futuro teremos a situação financeira da CMF replicada no GR.


terça-feira, 28 de maio de 2019

Forças de Operações Especiais na Madeira


Decorreu no passado domingo, no cais do Funchal, a abertura oficial do Exercício de Forças de Operações Especiais “SOFEC19”, a primeira edição de um exercício que se espera vir a ter continuidade no futuro e que engloba Forças de diversos países e organismos.


Tendo por ponto de partida um cenário de ameaça na ilha do Porto Santo, o exercício tem duas vertentes principais, a de competição entre equipas, através da avaliação da execução de diversos exercícios e a de partilha de experiências e conhecimentos entre os diversos organismos que, sendo todos da área das Operações de Forças Especiais, têm diferentes áreas de maior proficiência e como tal, só têm ganhar com este tipo de partilha operacional.

elemento do GNFOS romeno com a bandeira portuguesa no capacete
Apesar da abertura oficial ter sido no Domingo, a projecção de forças para a Madeira, iniciou-se na passada quinta-feira, através de aparelhos C-295 da Força Aérea Portuguesa.

projecção das forças participantes para a Madeira, na passada quinta-feira. Mais fotos AQUI

Tal como numa situação real, a projecção de forças é feita inicialmente para uma zona relativamente próxima à ameaça mas considerada segura, onde os elementos operacionais possam organizar uma base de preparação para a missão propriamente dita e que será decidida e executada em função do evoluir das situações e após decisão política, tal como sucedido em situações reais, como por exemplo a evacuação dos Portugueses aquando do golpe de estado na Guiné e outras similares…

A infiltração das forças operacionais para a zona de operações propriamente dita (Porto Santo) decorreu esta madrugada, por meios marítimos mas nos dias anteriores, o tempo foi aproveitado para diversos exercícios e competições entre as forças integrantes.

O Gnose teve oportunidade de acompanhar alguns desses exercícios, que decorreram na passada segunda-feira nas ruínas do antigo complexo turístico da Matur e ouvir a opinião de alguns dos elementos.

No exercício participam elementos das Forças de Operações Especiais das Forças Armadas e Forças de Segurança portuguesas (GNR) e de forças estrangeiras do Brasil e França (como observadores), Espanha, Roménia e Timor-Leste e tem como objectivo avaliar e desenvolver a interoperabilidade das Forças de Operações Especiais participantes, em ambiente terrestre, naval e aéreo, em aspectos comuns como o resgate médico, fuga e evasão, extracção e resgate, reconhecimento especial e ação direta.


No decorrer das operações na Matur, pudemos acompanhar exercícios diversos em rappel, incluindo rappel invertido, com entrada pelas janelas da antiga piscina, enquanto que no interior do complexo decorriam treinos de progressão e operação em ambiente urbano, utilizando técnicas específicas.

Nestes casos, em que a equipa em progressão era constituída por elementos de diferentes forças/países, era visível, no final, a troca de impressões e técnicas entre os diferentes membros das equipas, analisando o que tinha corrido menos bem e a forma como as situações eram abordadas nas suas unidades, comparando experiências e modi operandi.

A participação dos elementos do GNFOS (Grupo de Operações de Especiais da Marinha Romena) chamou particularmente à atenção, por ser uma força que habitualmente não participa em exercícios conjuntos com Portugal mas, após uma colaboração em 2016, agora foi a vez dos Romenos virem a Portugal, estando ainda prevista uma outra participação conjunta em exercícios ainda este ano, numa clara intenção de incrementar a troca de experiências entre estas forças, que, tal como referiu o capitão responsável pelo grupo romeno, é benéfica para as forças do seu país pela troca de experiências e conhecimentos com outras forças e lhes permite igualmente partilhar as suas próprias técnicas, já que, como ele frisou, estas forças, estão preparadas para actuar em todo o tipo de terreno mas há sempre conhecimentos importantes a recolher na actuação com as restantes forças.
Capitão das forças romenas, falando à comunicação social
Nesse aspecto, a escolha do arquipélago da Madeira permitiu, sem dúvida, que os exercícios a efectuar cobrisse facilmente uma vasta gama de terrenos e situações numa área bastante pequena.

elemento das forças timorenses iniciando o rappel...
Quanto à participação dos elementos Timorenses, acaba por ser a continuidade da actual colaboração técnico-militar entre os dois países.

Mais do que simples jogos de guerra, estes treinos são fundamentais para o desempenho de missões que, muitas vezes passam completamente despercebidas do grande público (aliás, neste tipo de operações reais, a publicidade e a vinda a público de detalhes é sem dúvida mau sinal), entre as quais se contam missões em teatros tão díspares como o Afeganistão ou a luta anti-droga em alto-mar….
Da próxima vez que for noticiada uma apreensão de droga em alto-mar pela PJ, pense que, muito provavelmente a Marinha e o DAE (Destacamento de Acções Especiais dos Fuzileiros) foram os responsáveis pela execução operacional da mesma…
O patrulha Oceânico P362 - NRP Sines marcou presença na Região pela primeira vez a fim de transportar e acompanhar a progressão da infiltração das forças de operações especiais, na passada madrugada, uma operação que decorreu em condições de mar "pouco amigável"
Entretanto, o exercício prossegue até o próximo dia 31 de Maio, na ilha de Porto Santo, que para efeitos de exercício é considerado território hostil e onde as forças foram infiltradas esta madrugada, por meios navais.
Lá, decorrerão as missões com vista à prossecução dos objectivos definidos e que contarão com a colaboração de outras forças, como por exemplo, os para-quedistas…

Poderão acompanhar o dia-a-dia do exercício através das excelentes imagens fotográficas e vídeo partilhadas, juntamente com informação diversa na página do SOFEC19, AQUI

Poderão aceder a uma galeria mais completa de fotos obtidas aquando do exercício na Matur, no blog Planes&Stuff..., AQUI



Rui Sousa, Madeira Spotters
Blog Planes&Stuff...

O ódio falseia sempre o acesso à verdade


Em 20 de maio de 1940, os primeiros prisioneiros chegam ao campo de concentração em Auschwitz, na Polónia ocupada pelos nazis...
O racismo e o ódio a qualquer etnia específica são sempre condenáveis, e falham sempre o alvo da vontade de chegar à origem mais profunda dos problemas e questões.
Da mesma maneira que eu abomino e critico o modo racista e condenável como o estado de Israel se comporta para com o povo palestiniano, abomino e critico o antissemitismo.
As perseguições das quais o povo judeu foi vítima ao longo da História, culminando no acto de puro Mal inumano e horrendo do holocausto nazi, constituiu uma das mais negras páginas da História Humana, e tal não pode ser negado, ou relativizado.
Os mesmos militarismo e nacionalismo que motivaram o fascismo nazi alemão são consentâneos ao militarismo e nacionalismo israelita que motivam o comportamento vergonhoso do exército israelita face aos civis palestinianos, e aos militarismos e nacionalismos que por esse mundo fora motivam actos abomináveis; como os actos de genocídio e de repressão na China (talvez o mais totalitário e genocida dos estados actualmente existentes no planeta), a repressão antidemocrática do ditador Putin na Rússia, a repressão da emigração e de outros movimentos sociais na América de Trump, na Europa, na Arábia Saudita, etc, etc.
Portanto, o que há a condenar em todos estes fenómenos liberticidas, racistas e repressivos são o MILITARISMO e o NACIONALISMO em si, não, nunca, etnias ou povos em si mesmos; condenar tanto o nazismo, como o nacionalismo militarista israelita sim, mas nunca condenar em si os povos alemão e judeu.
O antissemitismo sempre esteve ligado a absurdas e simplistas teorias da conspiração. Nos séculos XVIII e XIX, circulavam panfletos escritos por reaccionários ultra-católicos acusando os judeus de comerem carne humana e beberem sangue em suas cerimónias religiosas. Em 1904 os serviços secretos czaristas russos inventam "Os Protocolos dos Sábios de Sião" com o objectivo documentado de estimular o antissemitismo na Rússia e no Mundo; e conseguiram. Inspirados em tal documento falso, grupos de extrema direita, e de extrema esquerda, ao longo do século XX aí foram beber para inventar fantásticas conspirações judaicas ao serviço quer do capitalismo, quer do bolchevismo comunista, consoante o interesse ideológico dos inventores.
Contemporaneamente, grupos neonazis inventaram a conspiração dos Rothchild, tão ridícula como as anteriores, e ela agora é propalada nas redes sociais por grupos e pessoas que, muitas vezes ignoram que, sem saberem, estão a propagar ideias neonazis; sendo que alguns são mesmo neonazis, não assumidos como tal (que também os há) ...
Assim, visões a preto e branco totais, extremismos ideológicos, confusões entre árvores e inteiras florestas, são sempre campos férteis para a instalação do ódio, e para a colaboração acrítica com sistemas totalitários muito perigosos.
Como estudioso de História, e das linhagens e aspectos esotéricos no seu seio, considero minha missão esclarecer os perigos que visões conspirativas simplistas e etnocêntricas originam nas mentes individuais e colectivas.
Não se deixem enganar pelos fascismos (também os há na extrema esquerda...), o universo é um local imensamente vasto e complexo, explicações simplistas nunca são verdade.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Olhar sobre as Europeias


Está de parabéns, tem um balão de oxigénio, a sua vantagem na Madeira 37,15% (6.928 votos) é praticamente igual à do PS em relação ao PSD a nível nacional, uma completa inversão da situação. O PS na Madeira obteve 25,81%, 25.657 votos.

Está de parabéns o Rui Coelho pela reorganização do PSD-M, capaz de conciliar a custo, enquanto José Prada vai fazendo confusões estéreis. É o verdadeiro secretário-geral.

Observemos a evolução dos votos do PSD-M em Regionais e o comparativo com estas Europeias. Ter em conta que a percentagem relaciona-se sobre quem foi votar, por isso é mais correcto se suportar pelo número de votos. De 2007 até estas Europeias, o PSD-M tem vindo a perder muitos votos, quase dois terços.

Regionais 2007: 64,20% 90.339 votos
Regionais 2011: 48,56% 71.556 votos
Regionais 2015: 44,35% 56.569 votos

Europeias: 37,15% 36.928 votos

Confirma-se que a abstenção cresce mas ainda assim beneficia o PSD-M porque a oposição não sabe cativar os que desistem de votar no PSD-M para o seu lado. O PSD vai ganhando com aqueles que decidem ir votar, certamente os dependentes. O PSD-M vai desistindo da maioria absoluta mas aposta forte em prosseguir no poder em coligação com o CDS. Em Santa Cruz ocuparam parte da ausência da JPP e o PS não aproveitou. Se o PSD e o CDS repetirem a percentagem nas Regionais formarão uma coligação com uma maioria absoluta superior à do PSD em 2015.

As Europeias para o PS Madeira foi um tiro no pé. A candidata era fraquinha, a estratégia foi má numa ideia tola de que queriam apresentar alguém desconhecido e sem antecedentes ... era tão desconhecida, quase estrangeira, que passou o tempo omissa, a patinar sobre o que dizer. Os lugares são para exercer não para fazer estágio pago. Estão a ofender gente muito melhor que só não tem oportunidade. Sempre a mesma ofensa dos que manipulam a democracia. O eleitorado pergunta ... é disto que têm para governar? Na primeira oportunidade para dar indicações ao eleitorado fazem isto? Devem nos achar pouco exigentes? A RTP-M até conseguiu debater Europa sem candidatas. Deram ideia de imposição de Lisboa e aí está o resultado. Nesta oportunidade o PS deveria ter provado que tem quadros, uma opção combativa e afirmativa pelos conhecimentos europeus para bater, em discussão, a sua adversária que passeou os galões da experiência. Andaram a fazer campanha de Regionais e não Europeias. O PS vai continuar em Londres e Jersey ou vai palmilhar a Madeira toda? Nada disso está feito. O PS não perdeu só eleições, não dá o mote para ter seguidores e cansou muitos à espera por uma luz, um recuo nos lóbis, um rasgo de visão e inteligência. Só tivemos teimosia de um aprendiz que se acha líder político mas é um errante. Há gente sem cargos para ostentar com muito mais experiência e competência. É problemático falar com gente sem experiência, lembra a canção de Rui Veloso ... "Contigo aprendi uma grande lição, não se ama alguém que não ouve a mesma canção". Uma pergunta final, estão à espera de ganhar eleições só com o eleitorado do PS? Vão tarde para cativar os PSD desavindos. Confirma-se que os eleitores preferem uma Renovação Original do que uma cópia mal amanhada e ainda mais medíocre. A Confiança está a perder argumentos com quem quer mudar. Ou faz um corte radical com o sistema com iniciativas fracturantes na praxis ou então espere pelo pior. Aliás, estas eleições disseram que os erros de Cafôfo são maiores do que os de Albuquerque, ou então que este último se organiza melhor.
Leitura recomendada: Serviço de Despertar.

Creio que o CDS-M julga que a sua estratégia passa despercebida, vem aí mais sofrimento se não se libertar dos mesmos, da repetição dos erros, dos encobrimentos, das coligações e dos lóbis. Parece que insistem até alcançar alguns objectivos que sirvam a um pequeno grupo e não ao serviço do eleitor. Não defendem povo algum, estão numa ardilosa postura para o sucesso pessoal por mais que invoquem tudo. Têm a mesma natureza do CDS no continente, populista, falso moralista e de ambição desmedida para o tamanho da perna que tem para dar o passo. Ainda assim, podem ser "danoninho" suficiente para o PSD-M, só por posicionamento político, não por estratégia.

Absteve-se das Europeias e ganhou a experiência de como tudo se acerta na sua ausência. É um partido já com medo de crescer e que anda no quanto baste para que nenhuma sombra aflija o núcleo duro de sempre. Acabará perdendo deputados nas Regionais e passará pela mesma experiência do PCP Regional, muita luta sem crescimento porque não sabe crescer. Certinho, fiscalizador, moderado mas, se não está implantado no resto da ilha, se houver um dissabor em Santa Cruz, como fica? É preciso crescer, é como no futebol, se joga para o empate, perde. No entanto, se o CDS continuar a desiludir pode lhe cair nas mãos um eleitorado sem nenhum esforço, a ver vamos ...
O JPP tem de deixar de ser "saloio", perdoem-me o termo, perceber que é o aliado mais forte da oposição e isso consegue-se com a incorporação de know-how. Já o faz, a trechos, mas ainda não atingiu o estatuto de provedor do povo. Quando estiver plenamente sintonizado poderá colmatar a falta de implantação em toda a ilha indo ao encontro do que aflige as pessoas onde quer que estejam. É uma forma de crescer ...

Com as devidas dimensões observadas, o BE está a crescer, inversamente proporcional à situação do PSD-M. Das Europeias de 2014 para estas de 2019 cresceu 63.46% na Madeira. Parece ser de forma sustentável e não um efeito da Marisa Matias. Existem novas incorporações a mobilizar, a fazer contactos e a mudar a aparência do Bloco pela positiva. Se o CDS está para o PSD como a JPP pode estar para Cafôfo, é líquido que o eleitorado repare no Bloco de Esquerda para crescer e não embarcar numa coligação dócil. Descartadas as possibilidades e com o exemplo do continente, o eleitorado pode estar a contar com um osso duro de roer numa negociação. O Bloco está a construir uma imagem de que o eleitorado que vote nele não sairá defraudado com coligações acertadas pelas suas costas ou que vai trair a natureza ou desejos do voto: mudar realmente alguma coisa.

Trabalha para um eleitorado certo, tem novos líderes a crescer e a ganhar confiança mas mantém o sistema, a abordagem, convém inovar para concretizar a renovação do eleitorado, caso contrário, o Bloco de Esquerda poderá muito bem canibalizar o PCP com um discurso moderno e directo para atingir a atenção e consideração das pessoas. O PS trouxe-nos uma austeridade dourada, pagamos mais impostos mas não existe a crispação dos tempos de Passos Coelho. O Bloco de Esquerda está a ensaiar o mesmo mas com o discurso de esquerda, suavizando o radical com proximidade humana perante os problemas dos eleitores. Há caminho a fazer.

A abstenção, motivada pelo descrédito nos Governantes que por sua vez se derrama sobre a política e que chega à democracia em eleições, fecha o ciclo e só beneficia os Governantes. Que rica represália esta dos eleitores. A sua manifestação de desagrado é manter tudo igual? É cada vez mais insuportável que se queixem nas redes sociais quando são cúmplices e fala-baratos. Só vão acordar tarde com um segundo resgate na Região? Acham que os milhões estão a cair do céu? Não há qualquer pragmatismo mas sim muita soberba (e sobretudo língua) nesta forma de castigar os políticos. A democracia e as eleições têm sempre solução, puxe pela cabeça. Segmente os seus objectivos se não pode alcançar tudo de uma vez mas vote.

Porque não foi votar o português?
- Política e Políticos desacreditados?
- Cansaço por continuo defraudar das expectativas?
- Não esqueceu a violência da austeridade imposta por Bruxelas?
- Não sente a Europa a melhorar a sua vida?
- Esquece-se dos contributos financeiros da U.E?
- Está farto dessas dotações financeiras servirem para tudo menos para elevar a sua qualidade de vida e os rendimentos?
- Porque contribui demasiado para o retorno que tem?
- Porque os serviços do Estado estão a degradar-se e a solução é sempre a privada em negócios obscuros dos políticos?

Eleições Europeias 2019

As reações a qualquer eleição é o que aprecio mais e retenho apenas alguns (poucos) comentários e comentadores. Porém, as reações às eleições para O Parlamento Europeu são as mais interessantes de se apreciar. As de 2019 vão deixar para a história um conjunto de reações cómicas, bem reveladoras de gente que não sabe estar na hora da vitória e na hora da derrota. Vejamos o que se viu e ouviu.

Uma coisa, é que valem pouco. Ideia propalada pela maioria dos políticos o ano inteiro e quando as perdem. Esta também pode ser uma das principais causas da elevada abstenção. A Europa fica longe. Dizem que dá dinheiro, eu nunca vi nenhum, a não ser convertido em vias rápidas e outras coisas em betão que dizem ser feito com dinheiro europeu.

Adiante... Outra coisa, que frequentemente se ouve é que estas eleições, podem servir para mostrar cartão vermelho, amarelo ou roxo ou preto... Aos governos nacionais ou regionais. às vezes falha como se viu nestas eleições, nenhum cartão para o Governo da República e nenhum cartão para o Governo Regional. Antes uma coça valente na principal oposição.

Enfim, outra coisa ainda, nas eleições europeias os resultados são nacionais. Na hora de contar os votos os perdedores empurram para o resultado nacional. E existindo, como é óbvio, vencedores, as vitórias passam a ser locais. A alegria do vencedor regional foi bem patente. No fim, saíram todos vencedores. Porque o perdedor regional elege a sua candidata à boleia do resultado nacional positivo. O ganhador regional esteve à beira de não eleger a sua candidata à conta de ser perdedor nacional. Por isso, nestas eleições, foi interessante de se ver, o perdedor regional, consolando-se com a vitória nacional. O ganhador, aflito com a derrota nacional. Confuso, mas é a realidade...

Mais uma vez achei por demais engraçadas as reações dos vários líderes regionais. Uns retemperaram o folgo e devem ter-se convencido que as próximas batalhas eleitorais estão no papo. Outros nem admitiram a derrota, porque no elan de que as eleições são «nacionais» para o Parlamento Europeu, podem cantar vitória à conta do resultado nacional. Um bom guarda chuva para continuar a anunciar vitória antecipadas.

Não podia ser de outra forma quem há muito anda a apregoar que isto seriam favas contadas, porque o povo andava farto do partido que o «engana» há muito tempo. Mas as anunciadas «derrotas e vitórias retumbantes», estão a sair furadas para uns e para outros. Por isso, não basta escolher gente, não basta fazer de conta, não basta sorrir, não basta falar quando deve estar calado e calado quando devia falar. As pessoas merecem respeito e não admitem que sejam tomadas por tolas nem muito menos por instrumentos que se usa e abusa em campanhas eleitorais e na hora do voto.

Muitos não estão para isto e mandam à fava os politiqueiros que andam mancomunados com os grandes grupos económicos para servir interesses pessoais e de grupo. O povo pensa, não queremos igual ou a outra face, queremos diferente para melhor. Para mais do mesmo basta assim. Portanto, precisamos de credibilidade. Precisamos de gente competente, gente séria que não embarque nos interesses mesquinhos, que seja humilde e que trate as pessoas com a qualidade devida. Todos contam e cada voto representa uma pessoa, uma vontade, um desejo que devem ser respeitados absolutamente. Não há outro caminho para combater o desinteresse e a abstenção.

Mais uma vez até passar o momento, muitos estão a diabolizar os abstencionistas e a fazer as piores conjeturas sobre a elevada demissão dos reles portugueses que escolheram a praia em vez de ir às urnas nestas eleições europeias. O que desejam além disto, se a arrogância e o convencimento petulante das possíveis alternativas desconsidera a inteligência e a vontade dos eleitores? O que queriam além da preferência entre a ida à praia e o ir votar, perante os discursos populistas, a maledicência e a falta de transparência dos políticos que se instalam nas cadeiras de veludos nos parlamentos? O que esperam quando as pessoas candidatas são resultado de recompensas dos amigalhaços e não disfarçam nada quanto ao requintado tacho que irão ter? O que esperam senão a indiferença dos votantes quando sabemos que são descartados os melhores, os competentes e os experientes, só porque sim ou não estão totalmente vergados às estridentes lideranças?

A abstenção é uma posição. Devem ser respeitados os abstencionistas. Eis a meu ver a regra número um, esclarecer ao máximo para que não se mantenham em estado de demissão e tentar apresentar todas as vantagens que há em ir votar e todas as desvantagens que virão ficando em casa.

Assim, abstenção quando muito elevada, como tem sido o caso nestas e em outras eleições, deve requerer debate, reflexão e exigir que se experimente todas as formas possíveis para combatê-la. Não compreendo muito que se possa fazer tanta coisa via eletrónica hoje, e os serviços do nosso Estado até têm sido bem exemplares nesta vanguarda, chegada a hora de votar, continuamos como se vivêssemos ainda sem avanços tecnológicos nenhuns.

Para terminar, obviamente, que não se espera que os eleitos sejam anjos, mas nada nos tira a exigência de que devem ser humildades, respeitosos e irrepreensíveis na consciência da luta pelo bem comum. 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Bora lá votar


A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações, Churchill
As eleições e o Parlamento Europeu
Domingo vota-se. Para as Europeias, como sabemos. Não existem votos continentais ou de ilhas. Todos são do País. Sendo todos os atos eleitorais este ano ( 3 na Região ) importantes, reconheçamos que o de Setembro, as Regionais, será aquele, quer em termos reais ou práticos, o mais importante para o futuro da desta. Por ordem inversa, o ato eleitoral do próximo Domingo, as Europeias, será o menos importante. Não só para a Região, como para todo o País. Eu explico.

Dada a ordem em que estes atos eleitorais se vão realizar, o resultado de domingo, será estudado a nível nacional, como ponto de partida para as eleições nacionais de Outubro, enquanto aqui na Madeira, dado o pântano, em que PSD-M e sucessivos (des)GR´s trouxeram para vida pública ( e não só ) da Região, será visto como um exame ao PSD-M. Obterá o PSD-M, um medíocre, um suficiente ou um bom? Ou vai chumbar já e em grande e os exames finais de Setembro só servirão para passar o atestado definitivo de chumbo? Ou, lagarto, lagarto, lagarto, será que ainda vai à oral (coisa que não acredito) ? 

Então, porque acho estas eleições de menor importância para o País e Região ? Vamos ser práticos e sobretudo realistas. Portugal elege 21  eurodeputados. Isto num universo de 751 !!!!,  incluo aqui os britânicos, que estão num entra, sai talvez daqui a 5 meses ( Patético para todas as partes, “europeus” continentais e britânicos ). Nem 3% são. Fazem diferença lá ? Só aqui, no burgo e comunicação social local, nacional. Aliás, como todos os outros, de outros países  (menos alemães, claro)


Desçamos à Terra. O Parlamento Europeu, não é uma assembleia de fracos, mas é uma assembleia de inúteis. Espalhados por Bruxelas, Estrasburgo e Luxemburgo os eurodeputados são viajantes. Três (3) dias lá, no Parlamento !!!! (em que local ?) , dois (2) a viajar e dois (2) no burgo, a olharem para as “realidades locais”. Sejam portugueses, espanhóis, franceses ( ganham menos de subsidio transporte, coitados ), belgas (aspas idem) …… Cláudia Aguiar é um bom exemplo. Fez tudo pela Madeira (atenção, não por Portugal): lutou, viajou, pertenceu, escreveu, leu, fez/deu palpites, trouxe, bateu o pé, ajudou, ……. (já me perdi, confesso), a Madeira.  Mas lá no fundo, sabe ela e todos nós, que a única coisa prática, real que fez foi….viajar. De resto, boiou, foi na onda. Orou pouco e obrou ainda menos. Não só ela, mas quase todos os outros, acreditem. Menos os …..alemães. Ali, naquele bloco teutónico, houve partidos, mas sobretudo existiu bloco para o país para o qual foram eleitos. Já agora os Polacos. Já agora os Britânicos. Os Estónios. Os Checos. Os Eslovacos. E mais uns poucos.
Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada, Bismarck
Razão têm os britânicos, quando dizem que a EU é a burocracia em movimento. E o PE demonstra isso. São turistas os eurodeputados e tratam-se como turistas, de primeira. Esta Europa, imposta aos povos, quer mostrar “democracia”. Por isso Inventou o PE. Mas atenção, quem de facto manda na EU, não são os eleitos pelos povos, são os ungidos pelos governos e lóbis europeus  (por isso Durão foi Presidente e já agora Juncker, do GIN e paraíso fiscal Luxemburguez). São os directórios, aquelas cabeças pensantes, que acham que os povos podem votar em eleições locais, nacionais, mas que nada percebem de Europa. Os ungidos é que sabem, daí não existirem referendos e quando existem, são repetidos “ad nauseaum” até se obterem os resultados politicamente correctos pretendidos.No Parlamento Europeu e na UE, fala-se o "eurêz" e age-se em "eurêz". Por isso, é que ninguém percebe patavina do que lá se diz e faz. E ninguém combate pelo "eurêz". 

Manda quem pode, obedece quem deve, dizia Salazar. Na Europa, sejamos realistas, Obedecemos. Por isso, é que para aqueles senhores, Champagne …. só de França e vinho do Porto ou Madeira, até do Chile ou da China. A nossa plataforma marítima é de todos, mas a francesa, escocesa, ... são apenas deles. Por isso troca-se o nosso leite açoreano, pelo espanhol de má memória, ou francês de pior ainda.

Então porque votar ? Em Portugal como nos outros países, a única finalidade real, prática das eleições Europeias, é de enviar mensagens aos Governos nacionais. Por exemplo, no continente mostrar se estamos agradados ou não com a solução governativa actual. Na Madeira para mostrar ao PSD-M, que o tempo da “outra senhora” já lá foi. E que tic-tac-tic-tac ….. Setembro é já quase ali. Votemos então e em consciência. Pessoalmente, não votarei PSD, nem em nenhum partido ou grupúsculo, que retire a possibilidade de eleição real de eurodeputados, noutros, do arco que considero "elegível". E por mim "elegíveis" são todos aqueles representados na Assembleia da República e/ou Regional, excepto PSD.Cruzes.

Ignorância histórica, ignorância cultural, desvalorização dos valores da Nação
Portugal existe oficialmente desde há 840 anos. Fez hoje ( data em que escrevo este artigo ) 23 de Maio, 840 anos que o Papa Alexandre III, com a bula “Manifestis Probatum” reconheceu Portugal como Reino e D. Afonso Henriques como seu legitimo Rei. Alguém da nossa putativa “classe dirigente e politica” fez menção a isto ? Ignorantes.


Observação pessoal e uma demonstração de interesses.
Sou opositor a um estado Europa ( federal, ….. ). Defendo, outrossim, uma Europa das Nações, não uma Europa de nações. Não precisamos de um estado europeu, mas de uma Europa de valores europeus comuns. Que respeite, mas também que se dê ao respeito. Não imposta, mas disposta. Isso consegue-se social e economicamente. Nunca politicamente. Porque, lá no fundo, antes de sermos europeus, agrande maioria de nós são patriotas. Onde me encontro, ninguém quer ir para um exército europeu defender a europa, mas vão, quase, todos alistar-se no exército francês, para defender a França. O resto …

Notas breves
Nota 1 – Miguel Albuquerque disse que Berardo é um “bode expiatório”. Fica bem a lealdade de MA a quem lhe custeou a vida e que ele, depois como presidente da CMF tentou ajudar. Mas também é prova que MA está a mais. Este mundo já não é o dele. Está alienado.


Uma ideia. Que tal uma comissão na ALRM, sobre o quanto custou ao erário público Madeirense, as alarvidades cometidas nos apoios que se concederam  (fiscais, monetários e não só ) à Fundação Berardo ? Um exemplo: Que a Fundação Berardo apoiava os estudantes madeirenses, todos sabemos. Mas poucos sabem, que o GR apoiava, economicamente a totalidade desses apoios, através de excepções fiscais, subsídios ......Uma conta de soma nula para a Fundação. E já agora, talvez também lá pudéssemos, na tal comissão ,perceber como a Caixa Funchalense foi perdida a favor de uns. Horácio Roque já morreu, mas Jardim e Berardo ainda estão aí, "vivinhos da silva". 

Nota 2 – Miguel de Sousa e a TVI. Num artigo no DN-M queixa-se de perseguição aos empresários madeirenses !!!! e toma uns poucos, pelo todo. Este “empresário” do nada, apenas do partido, que “empresária” boys, multifacetado, multitarefa, cervejeiro coloca Berardo e Jardim Gonçalves ( do BCP ) na mesma frase. Não tem vergonha.  Jardim Gonçalves é criticado pela reforma que tem  (em comparação com as irrisórias que recebemos. Mas sabiam que a Madeira é a região do País com reformas mais elevadas per capita ? Do funcionalismo e dirigismo PSD-M ?). Mas Berardo é criticado por ter gozado (e deixaram-no ) com 11 milhões de pessoas. Berardo, amealhou e governou-se à custa de outros (até uma facada nas costas, deu ao seu compatriota madeirense, Jardim Gonçalves ).

Se não existissem más pessoas, não haveria bons advogados, Dickens
Miguel de Sousa é um simplório. Fica bem ao pé de Berardo. São patéticos, são piratas, são uma vergonha. Este simplório, nem sabe que Jardim Gonçalves  mudou a Banca portuguesa. Pensou diferente fez um banco distinto, muitíssimo mais competitivo e eficiente que os demais. Diferente, dinâmico.Tão competitivo, diferente e eficiente que muitos dos espanhóis !!!  foram ali  buscar ideias (Santtander, Sabadell, La Caixa ...). Champalimaud  e Jardim Gonçalves  fogram ímpares na história bancária portuguesa.
Mas Berardo vai sempre ser conhecido, como um novo Alves dos Reis. Uma Dona Branca pseudo intelectual. Como ela, também trabalha com quadros. Um trafulha, um “chico esperto”, sem consciência e sem vergonha. Miguel de Sousa serve-o bem como “chaperon”, porque os tiques são parecidos.

Nota 3 – A RTP- M fez de novo um frete. Já se sabia. Agora sabemos o que vai ser até Setembro, em debates eleitorais. Num debate sobre europeias, nenhuma candidata. Mas teve duas personagens ( PSD e PS ) num palco e na plateia, aquilo parecia um mini-comício do PSD-M. O CDS, BE e PCP não existem na Madeira ? Ou para a RTP-M vale o PSD-M e vá lá agora também o PS-M. O resto é paisagem ?

Nota 4 – o Fisco madeirense abriu concurso para 20 inspectores. A maior parte são do partido, Sinais do tempo e para mim um bom sinal porque muitos daqueles personagens já estão a pensar no mundo pós-eleitoral de Setembro. Mas risível, risível, é ter-se uma apanhada pelo Fisco e arguida da justiça portuguesa ( fundos comunitários ) a tentar entrar para inspectora  …. do Fisco.  Falo de Patrícia Dantas. Imagine-se.  Ter-se alguém daquele calibre e apenas com competência familiar e de cartão, depois de dar cabo de tantas empresas\entidades regionais, a inspeccionar quem nunca a inspeccionou ou a inspeccionar quem a levou em … colinho. Seria lindo, seria. Hardcore, a mais, não é ?
Nada é mais certo neste mundo do que a morte e os impostos, Benjamin Franklin
Nota 5 – Acabamos estas notas com Miguel Albuquerque, de novo. Agora o Tribunal de Contas, concluiu que a CMF em 2008 foi lesada em 1 milhão de euros, com contratos swap aprovados e assinados por MA e os disfuncionais do costume.  Das duas muitas; ou MA não sabia o que estava a assinar, ou por “swaps” pensava em “swing” ou então, estava a “leste” e assinou de truz. E é assim, com continuas asneiras, chamadas de atenção, multas, ….. que MA chegou à Quinta Vigia. Um prémio de apetência para asneiras.

Por isso, ali onde passa o tempo e sede do (des)GR, a  Quinta Vigia, já devia ter o nome original, Quinta das Angustias. Até quando Miguel ? até quando é que as tuas asneiras e as do predecessor vão ser pesadelos para nós ? E quanto nos vão custar ? Porque para MA e quejandos, vão ser apenas aborrecimentos e “não me lembros" em quaisquer comissões de inquéritos, judiciais ou policiais. "Ahahahaha Era só que faltava .... ". Muitos.....

( e a novela ainda não acabou, porque as cenas dos próximos capítulos, já estão a sair )


quarta-feira, 22 de maio de 2019

Chico Buarque


É com redobrada alegria que recebemos a notícia que músico e escritor Chico Buarque foi o vencedor do Prémio Camões 2019. Tanto a pessoa merece, a música merece e a escrita também. Disseram que a eleição de Bolsonaro fez chorar Chico Buarque, mas ao mundo que nos rodeia sem vergonha, há muito que perdeu a antiga nobreza de corar (de vergonha).

Os prémios, mesmo que se apresentem sem conotação política nenhuma. O deste ano está cheio dela e arrasta uma mensagem política muito grande, leva uma mensagem ao pre
sidente do Brasil, Bolsonaro e todos os que o rodeiam com o rol de disparates que andam a fazer contra os valores democráticos, a cultura e a educação.

Não vamos com esta leitura desmerecer o mérito de Chico Buarque, a sua elevada escrita e beleza da sua música. É um senhor que sabe estar, um apaixonado pelo seu Brasil, pela música e pela escrita que deixa ao mundo. Vale o seu cantar. Mas valem igualmente o pensar o mundo e a vida traduzidos no «dom da palavra» que anuncia o amor, a felicidade e o bem estar para a humanidade inteira. Vejamos o desejo mesmo que muitas das mudanças tragam às vezes o pior da humanidade: «As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem», disse.

Nisto deve estar a mensagem crucial para a política, não só a do Brasil, mas do mundo inteiro, por isso, deixo aqui: a «homenagem ao Malandro» (o album «A ópera do Malandro» também deve ser ouvido com atenção):
«Eu fui fazer um samba em homenagem
À nata da malandragem, que conheço de outros carnavais
Eu fui à Lapa e perdi a viagem
Que aquela tal malandragem não existe mais
Agora já não é normal, o que dá de malandro
Regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal
Mas o malandro para valer, não espalha
Aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal
Dizem as más línguas que ele até trabalha
Mora lá longe chacoalha, no trem da central».

Fiquei contente com este prémio para o Chico Buarque (Francisco Buarque de Hollanda), não só por ele e pela sua obra, mas também pela mensagem que envia ao Brasil e ao desarranjo do mundo inteiro que presenciamos neste tempo que nos é dado viver.

Um mal-estar social

O sociólogo Pierre Bourdieu publicou, em 1998, um texto intitulado «Hoje a precariedade está em toda a parte». Nele, o autor já então perspetivara diversos processos de natureza neoliberal que implicariam a agudização de impactos sociais devastadores, que agora estão mais do que confirmados. Ao definir a precariedade como um novo modo de dominação, Pierre Bourdeu integrava na compreensão daquele fenómeno uma amplitude que estava muito para lá das áreas laborais, com uma vertiginosa generalização extensiva a todos os sectores da vida social dos indivíduos. (Cf. P. Bourdieu, Contrafogos. Oeiras: Celta, 1998.)

O disseminar da precariedade em larga escala fez com que aquela realidade ganhasse uma dinâmica viral. Essa capacidade de difusão da precariedade assentou em mecanismos estruturais em consequência de processos significativos e continuados de desregulação dos direitos do trabalho, tanto no que se refere às lógicas da contratação laboral, quer das formas de proteção social.


Muito para além dos programas e ações políticas que provocaram, e continuam a provocar, a desregulação dos direitos laborais e a brutal desproteção dos trabalhadores, criaram-se condições de vida precárias. Dessa instabilidade laboral, nas suas múltiplas e distintas configurações, resultaram dimensões existenciais débeis e instabilidades ontológicas. A precariedade impregnou não só o funcionamento das economias, como afetou a coesão das sociedades.

Com a precariedade intensificaram-se desigualdades sociais. Emergiram desigualdades de recursos, nomeadamente, dos rendimentos, da escolaridade, no acesso à saúde e nos apoios sociais. Realizaram-se desigualdades existenciais, nas formas de reconhecimento social, nas expressões discriminatórias quanto aos direitos à cidadania plena, nos direitos a uma vida digna. Geraram-se desigualdades vitais, vidas precárias, afetando a qualidade de vida, envolvendo a saúde física e mental, limitando a esperança de vida das populações.

O trabalho precário é um fenómeno com consequências humanas e sociais devastadoras.


É neste clima de esvaziamento de aspirações e de expectativas que se realizarão, nos próximos dias, as eleições para o Parlamento Europeu.

Será possível que os múltiplos sintomas de mal-estar social que caracterizam vários países da Europa não tenham reflexo direto nestas eleições para o Parlamento Europeu?

domingo, 19 de maio de 2019

O sistema educativo é muito mais que pianos e xilofones!

Não me deixa irritado, longe disso, mas deixa-me preocupado quando alguém mascara a realidade, ainda por cima deixando pontas soltas, pensando que outros, como alguém referiu, "são parvos ou andam a tirar documentos para estúpidos". Isto a propósito do "Estado da Educação na Madeira", onde o secretário regional tentou, em vão, desfazer (!) "três equívocos recorrentes" derivadas de "percepções incorrectas sobre o abandono escolar, o rendimento dos alunos e o número de licenciados (...)". Face a alguns dados estatísticos apresentados, em função de uma Região Autónoma, dotada de órgãos de governo próprio, com um poder político ininterrupto há 43 anos (estabilidade, dizem), com um número de alunos limitado em função do universo da população, questiona-se, como são possíveis tantas e significativas fragilidades? Como justificar o desencanto?


Uma intervenção que, no essencial, não trouxe rigorosamente nada de novo, no sentido de perceber-se uma ideia, pelo menos uma, mesmo que genérica, para o sector educativo. Fez-me lembrar a velhinha história da mãe de um recruta que, no dia do juramento de bandeira, levando o filho o passo trocado, aos seus olhos, todos os outros do pelotão marchavam de forma incorrecta! Reforcei ainda mais esta ideia, quando li o seu pedido por uma "avaliação rigorosa ao sistema educativo da Madeira". Todos os outros, professores, universitários, investigadores, pensadores e autores, aos olhos do político é que marcham de forma errada. Aliás, obviamente, não era crível que viesse testemunhar as fragilidades, porque o exercício de uma certa política favorece a cegueira, o que impede ser verdadeiro e visionário, eu sei, mas seria honesto que justificasse, politicamente, as suas opções, mesmo com "o passo trocado" aos olhos de outros, relativamente ao que se espera de um processo educativo integrado, desde as políticas de família até ao sistema organizacional, curricular, programático e pedagógico.

O que tem acontecido, isso sim, pegando nas suas próprias palavras, que se voltam contra si, têm sido sucessivos "equívocos recorrentes" de uma hierarquia política que se especializou em processos burocráticos, que o digam os professores, castradora da liberdade e do pensamento crítico, com tiques e atitudes de quero, posso e mando, facilmente provado através da perseguição e da imposição da subserviência, quando, no quadro do sistema, alguns tentam fazer mais e melhor. O que resta deste sistema é a centralização, a maximização e a padronização, algumas das características definidoras da Sociedade Industrial, atributos absolutamente desencontrados do tempo que estamos a viver.

Hoje, infelizmente, continua a não ser possível falar-se de estabelecimentos de aprendizagem. Fala-se de estabelecimentos de ensino. E isso faz toda a diferença, na mentalidade e na forma como se aborda a Educação, como deve ser pensada e gizada para este tempo de conflito entre o velho e o novo. É por isso que assistimos a posicionamentos "esquizofrénicos", pois ora falam de robotização esquecendo outros patamares primeiros, ora de "salas do futuro" (para poucos) esquecendo-se da paulatina transformação da arquitectura dos edifícios escolares, ora falam de uma inexplicável opção pelos "manuais digitais". Neste caso, tendencialmente, pretendem deixar o manual em papel para dar lugar à utilização do "tablet". Ora, se a internet está aí para quê o manual? O "tablet" deve servir para muitas outras coisas e não para replicar os manuais com alguns enfeites que pouco adiantam! 

Por outro lado, intencionalmente, porque não sabem ou porque não desejam, passam ao lado de uma actuação a montante, no sentido da mudança de mentalidade no seio das famílias, contornam a pobreza estrutural que se reflecte na escola e não ligam pevide, também, a uma nova organização da sociedade. O sistema para ser eficaz não pode estar desligado dos outros sistemas. Tem de interagir. A abordagem tem de ser transversal e integrada. E neste processo até se esquecem da autonomia dos estabelecimentos, porque denotam medo em facultar aos professores a capacidade de se organizarem de forma diferenciada. Preferem a uniformização à necessária variabilidade; preferem o controlo à inovação.

Ora, o sistema é muito mais que taxas e estatísticas. Não sobrevive com máscaras nem com leituras estatísticas onde cada um extrai e enaltece, embora de forma pobre, o que lhe interessa em um determinado momento. Aos políticos pedem-se ideias portadoras de futuro, pede-se pensamento estrutural, pede-se que sejam prospectivos e pede-se que saibam para onde caminham. O sistema está esgotado e quando seria espectável, da parte do presidente do governo, uma posição marcando a diferença, eis que, ainda ontem, veio dizer que "não está aqui para brincar à política nem aos partidos" porque "não há tempo para politicadas (...)". Pois é, senhor Presidente, é exactamente isso que há muito acontece, politiquices e "politicadas". O sistema, saiba, é muito mais que pianos e xilofones!
Ilustração: Google Imagens.