segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Abicando 2018, arribando 2019



No plano internacional, 2018 confirmou o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, com fortes contradições entre as potências imperialistas. A situação nacional, apesar de alguns avanços quanto à recuperação de direitos e de rendimentos para os portugueses - alcançados mesmo contra a vontade do PS - a persistência do Governo minoritário do PS em opções e políticas que não rompem com décadas de política de direita mantém e agrava problemas que marcam a vida económica e social do País.

Na Região, quer no Governo, quer nas Autarquias, agravou-se a desilusão para tantas pessoas que, em lugar de uma prometida mudança, assistem ao prolongamento dos compromissos com os interesses do grande capital e à submissão do interesse regional à vontade dos senhorios destas ilhas.

O desafio maior que se coloca à Região em 2019 é o da necessária rutura com a política de direita, independentemente de ser realizada pelo PSD de Miguel Albuquerque ou pelo PS de Emanuel Câmara e do seu procurador Paulo Cafôfo, e a da construção de uma alternativa política.

Alguns factos relevantes de 2018

Desenhado por Daria Voskoboeva
Em jeito de balanço do ano pretérito, gostaria de salientar alguns factos e personalidades que, na minha opinião, nele mais se destacaram, não propriamente pelo seu valor intrínseco, mas pelo “irritante” que em mim provocaram . Começaria com o nosso incontornável Marcelo que, cada vez mais, pretende “estar em todas”, imiscuindo-se em áreas como as da contagem do tempo de serviço dos professores, que são da exclusiva competência do governo.

Por outro lado, embalados por algum alívio e alguns indicadores económicos positivos, todos querem tudo já. Greves e ameaças por todo o lado. Os sectores que se mostraram mais “cordatos” e que, inclusivamente, fizeram acordos com Passos Coelho, são os primeiros a exigir do atual governo tudo e já e ao mesmo tempo para todos. Não esqueço que Passos Coelho chegou ao poder pela mão da esquerda. Acho que a riqueza criada deve ser repartida por todos os que contribuíram para a sua criação e não apenas por alguns. Também considero que se continua num registo em que os lucros são para os privados e os prejuízos para os contribuintes: para os “buracos” dos bancos há sempre milhares de milhões, enquanto, alegadamente, não há dinheiro para a “contagem integral do tempo de serviço”. Acho que Costa deveria assumir as incontornáveis reivindicações de inegável justiça de TODOS os sectores, não cedendo aqui e ali apenas aos “mais barulhentos”. Deveria indexar a sua satisfação a um futuro razoável e ao crescimento económico do país. Essa seria a forma “honesta” de resolver a questão. Esquerda deve ser sinónimo de honestidade e de bom-senso. Todos os sectores devem ser atendidos, a todos deverá ser dada alguma coisa. Dar a uns e não dar a outros, criará o caos. Os Bolsonaros espreitam.

A direita, afastada do poder e sem estratégia, a tudo recorre para desestabilizar a ação do governo e está na génese duma série de fenómenos estranhos, tais como: sindicatos que nasceram do nada, como o STOP dos professores e o “novo” dos enfermeiros. A Ordem dos Enfermeiros, que deveria estar resguardada como repositório da ética e deontologia duma classe, assume funções sindicais, capitaneada pela sua bastonária, aceitando patrocínios anónimos, sabe-se lá de quem, com o intuito de eternizar uma greve cirúrgica. Apesar da justeza das reivindicações dos enfermeiros, que têm sistematicamente vindo a ser desconsiderados, a desproporção entre a forma de luta utilizada e os seus efeitos,que afetam sobretudo os mais frágeis de nós, os que não têm outro recurso para além do SNS, é esmagadora.

Caso os preteridos operadores privados de saúde, ou quaisquer outros, prejudicados pela nova Lei de Bases da saúde, pretendam perturbar o SNS e por consequência o governo, não imagino uma forma mais eficaz do que subsidiar os grevistas, para que as greves em “sectores chave” se eternizem. Esta metodologia utilizada pelos enfermeiros, abre uma caixa de Pandora, pois no caso duma empresa querer prejudicar outra, ou uma organização querer “vergar” outra e ter dinheiro para o fazer, poderá duma forma perfeitamente anónima fomentar uma greve,e sem assumir qualquer responsabilidade utilizar este método de crowdfunding, que permite esconder os seus reais objetivos e quem efetivamente “está por detrás” do financiamento.

As oposições, desde a oposição tabloide “à Correio da Manhã” de Cristas, a Rio, perdido no seu labirinto,têm uma eficácia nula e em nada contribuem para um melhor governo.

Por cá o regime atingiu o paroxismo.Os PPD’s estão a jogar com as reservas das reservas, estão mais “ariscos”, multiplicam a malcriação, a ameaça e a arruaça, e, na falta de ideias e de competência vão buscar velhas práticas e velhas glórias. Reabilita-se a “santa aliança” com a Igreja. De braço dado, até já promovem missas do parto. A todos querem “tapar os olhos” com fatia ou com migalha, prometendo “amanhãs que cantam”. Esta gente está apavorada com a perda do poder, porque para a maioria deles “estar” na política é um modo de vida. Excetuam-se aqueles mais ativos que saltam entre a política e os grupos empresariais, conforme as necessidades da conjuntura.

Para o ano de 2019, o que desejo e espero é que o PPD perca as eleições para que o 25 de Abril chegue finalmente à Madeira, para que as pessoas percam o medo de falar e até de pensar. Apesar de toda a propaganda do GR, ao fim de 44 anos temos os piores indicadores do país EM TODAS AS ÁREAS. Estes são factos, não são opiniões. Espero que se acabe com a lógica dos “inimigos externos” e se possa em harmonia colaborar com o Governo da República para resolver as nossas justas reivindicações. Espero que a “gestão danosa da coisa pública” comece a ser penalizada.

Rumo à capital dos cruzeiros

     Neste dia tão especial para a Madeira e os madeirenses, muitos dos que nos visitam querem descobrir a que se deve a fama da Madeira no seu cartaz principal turístico, a passagem de ano. Dois aliciantes se destacam, naturalmente o fogo de artifício mas também os navios de cruzeiro que se apinham no porto ou fundeiam ao largo. Numa breve visita pelas redes sociais e blogosfera, salienta-se o regresso de Luís Filipe Jardim à escrita no seu blogue sobre navios de cruzeiro, a sua paixão. A primeira boa notícia para 2019.

Replicamos com autorização.
Para uma visita ao original:
http://cruzeirosmadeira.blogspot.com/2018/12/rumo-capital-dos-cruzeiros.html
31 de Dezembro de 2015. Foto de Luís Filipe Jardim.

     Já fazem rumo à Madeira. A 31 de dezembro, o Funchal é a capital mundial dos cruzeiros.

Não há outra data ou evento que junte tantos navios de cruzeiro numa cidade, como a noite de S. Silvestre na baía do Funchal.

O Aidanova é o primeiro e o maior desta festa de paquetes. Seguem-se o Balmoral, da Fred Olsen, que vai atracar no cais norte e o Ventura, da P&O Cruises, que ficará na pontinha, com o paquete da Aida. Ao largo, e logo pela manhã, o Queen Victoria, da Cunard, e o Columbus, da CMV. Pela tarde chega o Marella Dream, da Marella Cruises, que irá atracar após a saída do Balmoral. O mais antigo paquete desta concentração, o Marco Polo, da CMV, chega ao fim da tarde, atracando na manhã do dia 1. Mein Schiff 1, da TUI, e Aida Stella, da Aida, chegam pela noite de 31 de Dezembro e após fogo de artifício devem atracar no molhe da pontinha. O Zenith, da Pullmantur, chegará também à noite permanecendo fundeado até ao fim da tarde do primeiro dia do ano.

31 de Dezembro de 1999. Foto de Luís Filipe Jardim.
     10 navios de cruzeiro na baía do Funchal, naquele que deverá dos melhores fins de ano de sempre, em passageiros e tripulantes, bordo, atendendo às dimensões dos navios.

Popa do paquete Funchal apontada à cidade que lhe dá nome . Foto de Luís Filipe Jardim/ Revista Cruzeiros. 

domingo, 30 de dezembro de 2018

A antinomia das autonomias


Com alguma frequência, instala-se uma troca de opiniões sobre a dialética que envolve o assunto em epígrafe, curiosamente (ou, se calhar, nem tanto) mais com a esquerda (alguma dela disfarçada) que com a direita…

AUTONOMIA! AUTONOMIA!

Abrem a boca com a palavra, mesmo sem saberem muito bem o que quer dizer e o que se pretende/ia com a sua prática (o que pretendem sabem eles bem, pois é para a defesa dos seus próprios interesses, e o ‘povo’ que se lixe…).

No pós-25 de Abril, foi esta a ‘bandeira’, mais do que a das setinhas, que fez cegar os olhos a quem via os proveitos de uma vida de trabalho e de sacrifício irem parar sempre aos cofres alheios.

Gorado que foi o arroubo inconsequente da independência – que permitiu (e ainda permite) os maiores desmandos por parte de alguns que (quase) todos sabem quem são, e que continuam a pavonear-se pelos ‘mentideiros’ da ilha, em vez de pagarem pelos crimes que cometeram –, a auto-recém-criada elite política percebeu que a Madeira era uma ‘mina’ pronta a ser explorada… por eles, ávidos!

Não é preciso mergulhar nos livros de História (muito menos nos encomendados pelo ‘aparelho’) para perceber o que se passou (e ainda passa) nos últimos 44/45 anos na Madeira. Basta ir aos arquivos disponíveis e ver/ler o percurso de algumas figurinhas pretensamente notáveis da Região: quem cria cabritos e cabras não tem, de algum lado lhe vem!!!

AUTONOMIA! AUTONOMIA!

Regularmente, ouvem-se os gritos histéricos de uns quantos ‘apparatchiki’, e de alguns outros que servem de caixa de ressonância, principalmente em épocas de ‘vacas magras’, quando a teta não dá para todos.

Infelizmente, há outros que, embora com intentos diversos, seguem a mesma cartilha, talvez pensando que o nobre objectivo deve ser prosseguido, não obstante estar a ser deturpado, corrompido, descaracterizado…

Parecem não se aperceber que, ‘à sombra’ das reivindicações, se passeiam interesses mais ou menos obscuros, mas todos com o mesmo interesse e objectivo: locupletarem-se mais e mais, não olhando a meios nem a formas.

Um território desde muito cedo entregue aos ingleses passou a ser também sugado por uma turba de poucas dúzias que ‘saca’ o mais possível e de todas as maneiras e feitios.

AUTONOMIA! AUTONOMIA!

Gritam enraivecidos, e entretanto ficam à espera, exigem mesmo!, que o Estado pague os desmandos de uns quantos, que se repetem (os desmandos e os quantos) ciclicamente.
A coberto de válidas pretensões, tudo vem por arrasto, como se os prevaricadores tivessem ficado totalmente isentados de responsabilidades e, como a um filho traquina, tudo lhes fosse perdoado.

Um filho a quem se dá uma mesada, sem qualquer controlo de como a gasta, e que pede sempre mais e mais, e que quando não tem endivida-se noutro lado, à espera que o progenitor pague.

Um filho que tem as suas próprias fontes de rendimento, que não presta contas delas, que está sempre de mão estendida a pedir complementos e que faz birra e se enfurece quando não os recebe…

AUTONOMIA! AUTONOMIA!

Foi palavra de ordem durante diversos anos e perante várias situações, principalmente quando convinha acicatar os ânimos dos ilhéus contra os continentais, mais que não fosse para mascarar as trafulhices que por cá se montavam (e se montam, de novo).

Uns, néscios, seguem o ‘chefe’ e abanam alegremente a cabeça a cada arroto seu; outros, querendo chegar a ‘chefe’, fazem por ignorar a estultícia e mantêm vivo o argumento tolo, pois nunca se sabe quando será de novo útil…


E ainda existem uns terceiros, pendentes de vários poderes, escravos de múltiplas vontades, que se arvoram em personalidades isentas, equidistandes (pela impossibilidade do vazio que alegremente apregoam) de ideologias e ideários, mas que mais não são do que reflexo do poder instituído e suas marionetas.

E depois, os cubanos, os que lá estão e os que vivem cá (certamente pelo favor de algumas mentes iluminadas e generosas), é que não percebem nada desta merda e querem é o mal dos insulares…

(Também) por isso, aqui fica:

Significado de autonomia
n.f.

1. Circunstância ou característica de autónomo; liberdade, emancipação ou independência;
2. Capacidade ou mestria para controlar a sua própria vida, usando os seus próprios recursos, desejos e/ou princípios;
3. Garantia ou permissão atribuída a um país de se governar seguindo a sua própria legislação e as suas normas;
4. Designação atribuída ao direito ao livre arbítrio (liberdade de escolha) - que permite ao indivíduo estar preparado ou habilitado para tomar suas próprias decisões;
5. Designação atribuída à longitude que um veículo movido a motor é capaz de percorrer, usando o consumo absoluto do combustível que possui e sem ter de reabastecer no caminho;
6. Período de tempo durante o qual uma bateria é capaz de abastecer (um equipamento) de energia, sem apresentar necessidade de ser recarregada.
7. (Filosofia: Kant) Habilidade atribuída ao ser humano de se autogovernar seguindo os próprias normas e paradigmas de conduta moral, sem que se verifique a interferência de visões ou fenómenos exteriores (emoções, repressões, entre outros).
(Etm. do grego: autonomía; pelo francês: autonomie)

Já agora:

Significado de antinomia
n.f.

1. (Filosofia) na tradição cética ou em doutrinas influenciadas pelo ceticismo, tal como o kantismo, contradição entre duas proposições filosóficas igualmente críveis, lógicas ou coerentes, mas que chegam a conclusões diametralmente opostas, demonstrando os limites cognitivos ou as contradições inerentes ao intelecto humano.
2. (Por extensão) contradição entre quaisquer princípios, doutrinas ou prescrições.
3. (Por extensão) posição ou disposição totalmente contrária; oposição.
4. (Jurídico – termo) contradição real ou aparente entre leis, ou entre disposições de uma mesma lei, o que dificulta sua interpretação.
(Etim. gr. antinomia 'id.', pelo lat. antinomĭa, ae 'id.')

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A revolta na chácara

Tinha razão George Orwell, no Triunfo dos Porcos quando sentenciou, «Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros». Porém, os nossos tempos trouxeram neste Natal uma revolta na chácara onde os protagonistas são ovelhas e carneiros e os respetivos pastores, com destaque para um «bom pastor» ao jeito do Evangelho. Então é ver que «há ovelhas e carneiros todos iguais, mas uns são mais iguais do que outros». Ora, as ovelhas e os carneiros estão bem para a época, as lapinhas abundam por todo o lado e coisa que não falta é pastoreio, com vacas, burros, ovelhas e carneiros e pastores. Um quadro inspirativo para o lóbi do pastoreio e os «bons pastores» que a política entre nós alberga.

Vai daí os políticos revestidos de ciosos «bons pastores» do povo, saltando por cima de todos os estudos científicos e contra as opiniões generalizadas dos vários especialistas na matéria, prometeram pasto em abundância onde não deve existir pasto, por causa das muitas razões sobejamente divulgadas. Mas obriga a deriva eleiçoeira, que é preciso satisfazer a vontade do lóbi da carneirada que não se contenta com os espaços entre médios, mas sempre o cume daquela serra. Assim, não dá e é preciso de uma vez por todas definir onde se pode pastar e onde não se pode. Por mim descansem, eu contento-me com a marginal da Avenida do Mar e até quando me permitirem vou ao fim da pontinha. Não falta pasto para deliciar a vista.

No meio desta guerra o  problema não são as pobres ovelhas e carneiros, mas os lobos de cinco unhas, que não perdem uma em nome da santa propaganda cega, para satisfazer privilégios e manias de corporativismos que ainda dominam isto tudo. Eles estão entre animais, mas estão também entre as pessoas, na caridade, nas empresas, nas escolas, na saúde, nos bombeiros e em tudo o que faz mexer a sociedade, porque aí estão alguns muito bem instalados, a levar para casa chorudos volumes em salários à conta do erário público. É intolerável que meia dúzia de energúmenos em qualquer setor social se sinta no direito de chupar tudo o que entende à conta dos interesses gerais.

Aos políticos exigimos responsabilidade, não se armando em papais natais presenteando este ou aquele grupo com os bens gerais que são de todos nós. Não pode um grupo, mesmo que bem intencionado, levar adiante a satisfação das suas intenções, se isso prejudica trabalho comum, se viola estudos científicos e opiniões generalizadas de especialistas na matéria contra o rebuçado que se quer dar a chupar a alguns.

Nós cidadãos devemos estar atentos e escrutinar tais vontades. Os eleitos estão onde estão para governar em nome do interesse comum, não em nome deste ou daquele grupo, mesmo que aponte para uma luz imediata bem interessante, mas que deve ser recusada se para  futuro de todos aponta a desgraça de trevas permanentes.

O Santo Natal do Senhor trouxe uma revolta na chácara, que não sabemos bem onde nos leva, porque eleições em 2019 assim obrigam. Pelo meu singelo provir de entendimento já vi o retrato que nos espera, governação à vista, promessas absurdas e palavreado rasca para enganar os incautos. Só espero que mais esta revolta faça esclarecer os eleitores, e estes vejam bem em quem e como colocam o seu voto.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Matar a fome, com vergonha

Eliminar a fome e má nutrição não é um assunto específico dos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos a fome atinge mais de 12% da população enquanto a média global relativa aos nossos concidadãos atingidos pela vergonha da fome e má nutrição se revela ligeiramente inferior. No entanto, fala-se de fome e de desperdício alimentar como se cada um destes temas fosse exclusivo em relação a geografias macroeconómicas. Uma enorme nuvem de ideias erradas disfarça a incompetência, falta de vontade e hipocrisia tão típicas nos assuntos da agenda internacional do desenvolvimento. É verdade que em certas latitudes as condições de vida fazem exacerbar os impactos ou diminuir as capacidades de enfrentar as causas da fome, mas, também é certo que, muitas delas, ultrapassam as possibilidades e boas vontades que se possam reunir.

Não há como explicar o paradoxo associado à agricultura que, sendo o sector que mais emprego gera a nível planetário, aceite que 500 milhões de agricultores não consigam prever ou ter acesso a informação adequada sobre a disponibilidade de água para sua atividade. Em pleno século XXI, 80% da produção agrícola mundial depende da chuva e os agricultores não dispõem de informação adequada e atempada para suportar as suas produções, defender-se das situações meteorológicas extremas ou das tendências associadas às alterações climáticas. As perdas na produção e as associadas ao desperdício do que se produz e processa são mais que suficientes para matar a fome neste planeta, quer aos 815 milhões que já a sentem quer aos mais de 2 biliões que a eles se juntarão até 2050. Haja vergonha e a fome morre.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Os Bons, os Maus e os Vilões

 
A Região Autónoma da Madeira, desde há muitos anos, fruto da inacção do poder central e autonómico, do “deslumbramento” de povo por obras “inúteis”, da criação artificial de empregos e de amizades coloridas de grupos familiares e dependentes que se perpetuam e reproduzem (*vide artigos meus anteriores), parece um verdadeiro “Farwest”. Foi em 2018 (e anteriores), como deverá ser em 2019, com um duelo à OK Corral no Outono. Tendo-me sido pedida uma revisão do ano de 2018 e uma previsão para 2019, elegi três (3) práticas regionais como personagens deste 2018 e faço futurologia às mesmas: Ao mesmo tempo, uma homenagem a um belo filme de Sérgio Leone. Apreciem o link no fim deste artigo. E como dizia Raul Solnado, " e se faz favor, sejam felizes".

Daí, 




Em 2018, 
Corrupção, peculato, fraude, todas estas são características que existem por todo o lado. É lamentavelmente a forma como a natureza humana funciona, quer queiramos ou não. O que economias bem-sucedidas fazem é mantê-las no mínimo. Ninguém alguma vez conseguiu eliminar qualquer dessas coisas,  Alan Greenspan
Os Bons, Os espíritos livres, 
Existem na Madeira, ainda, um conjunto de espíritos livres, que num esforço glório, continuam a olhar, a criticar e a levantar questões morais, éticas, politicas  á ”res publicae” existente na RAM. Um sistema de praticas muito pouco transparentes, de um governo “renovado de quase 50 anos”, aliado a uma comunicação social (uma mais, outra menos ) situacionista. A isto juntamos grupos empresariais regionais e privados-dependentes, que usam e abusam de trafulhices, "compadrices", criando um “espirit de corps”, verdadeiramente coeso, na  manutenção, de um “status quo” doentio, que faz um povo e uma região afundarem-se na mediocridade. È duro falar, é duro passar as ideias. Mas, é para isso que lá estão  e se fazem ouvir. São “Sherifes”, que têm como arma a caneta ( ou o teclado ). São diferentes, pensam diferente.  Podem ser uma reserva, a cavalaria que chega no ultimo momento. Obrigado.
Em Roma, / tudo se compra, Juvenal
Os Maus, Les outres, 
Nada fazem e tudo querem. Enganam, deturpam, alienam, são autistas, mantêm o povo á distância, não olham a meios para obterem o que pretendem, usando a coação, a pressão,  o suborno, o trafico de influências, o compadrio. São parasitas. Usam e abusam do que não é deles, olham os bens públicos como seus, destroem quem pensa diferente e elegem, “as amizades”, o desengano, o deixa andar, como o melhor dos mundos. São assim e deixam-nos ser assim ( quem manda ). São a apologia do “laisser faire, laisser niente”, do admirável homem nulo, dos laços familiares, tentando perpetuar-se no tempo. Como na era feudal, os baronetes, os barões, os “comerciantes e burgueses”, os condes, os marqueses, os duques, as altezas, perpetuam-se, sucedem-se, imperam e do povo…. não reza a história (a deles ).
A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios, Barão de Montesquieu
Os Vilões, A prática governativa regional, 
Existem muitos vilões na RAM, uns são mesmo maus e outros assim, assim. Consoante o nosso estado e o nosso espírito, os nossos olhares e nossos bolsos, não existe dia, semana ou mês que não sejamos bombardeados por obscuridades, asneirices, tontices ( vamos manter este nível ). È exasperante. O Governo que tudo deixa aos maus fazer e continuamente os favorece e que aos nossos bolsos sempre aparece (rima!!!! ), é o vilão-mor desta história. É uma praga esta prática, é uma praga este (des)governo, que nos desgoverna quase á 50 anos. São chatos e aborrecidos. São …. vilões.




Para 2019, 
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto, Rui Barbosa
Os Bons, Os Espíritos Livres
Que continuem e que sejam ouvidos. Que se mantenham e se tornem escolhos para o (des)governo, e que nunca as balas se lhes acabem.
A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa, Jô Soares
Os Maus, Les outres, 
Não me parece que desapareçam, mas faço votos que diminuam acentuadamente. Já estão em morte cerebral e como parasitas que são, se o hospedeiro morrer, desaparecem. Mas atenção, se um novo hospedeiro se mostrar, pode acontecer que o instinto de sobrevivência destas espécies, os mantenha ligados. 
Todo o homem é prevaricador, excepto Bonturo; / por dinheiro, de um não se faz um sim, Dante Alighieri
Os Vilões, A prática Governativa Regional, 
Fazendo votos que desapareça definitivamente e não seja substituída por outra igual ou pior ( minha opinião, pior não pode acontecer ). Que umas rajadas de tiros no “Saloon” eleitoral, faça os chatos, imprudentes, irresponsáveis e medíocres desaparecerem. Sejam enterrados, porque deles não rezará a história.. Ou então, que alguém os ilumine e os faça ver a Luz. Ámen.

Votos de Boas Festas e Excelente 2019 ... bons "filmes" !


"aero-presentear-se"


A melhor forma de não falhar no Natal é auto-presentear, neste caso é aero-presentear ... se. A "Up in the Sky" é empresa de comunicação em suporte digital sediada em Schiphol-oost que acompanha a aviação comercial e os aeroportos sob uma perspectiva de passageiro frequente, de profissional ligado à aviação ou de entusiasta/ spotter. De momento, o seu site é exclusivamente holandês mas com qualquer tradutor embutido no browser poderá acompanhar as informações que publicam regularmente. Pode ter interesse para os Spotters madeirenses.

Com base no movimentado Schiphol, a equipa de dez editores e colunistas regulares e ainda os seus fotógrafos (spotters) deram desde logo nas vistas por ser a única na área com uma APP. O site Up in the Sky é visitado por pessoas com paixão pela aviação e por viajar, o passa palavra tem sido fantástico, sobretudo por reportarem como usufruir do que há de melhor na aviação no que diz respeito ao serviço e às regalias. Apesar do obstáculo da língua, não quis deixar de escrever sobre o assunto até porque há um pormenor que pode interessar aos spotters madeirenses ou fãs da aviação.

Deste trabalho diário, nasceu a ideia de recolher as melhores imagens num livro conjugando-as com um texto bilingue (holandês-inglês) para dar a conhecer o Aeroporto de Amesterdão - Schiphol. O livro "Schiphol.jpg" respira através de uns fotógrafos privilegiados por estarem a todo momento nos acontecimentos, eventos e bastidores do aeroporto de Amesterdão. Quando se denunciaram sobre na intenção de fazer um livro a cooperação aumentou, não só por parte do aeroporto mas também das várias empresas sediadas em Schiphol, puderam vaguear pelos bastidores mais do que nunca.



Quem conhece a dimensão de Schiphol pode calcular o desafio que foi escolher imagens e textos para 192 páginas que contaram com o pedido do novo director executivo de Schiphol, Dick Benschop, para escrever o prefácio. Testemunho de crédito e confiança num grupo que nasceu como "carolas da aviação". Desde a primeira semana do passado mês que o livro está disponível, custa 45€ e no caso da Madeira conta com mais 10€ de portes de envio. Pode ser adquirido à livraria BOL ou no site do próprio livro Schiphol.jpg. Para quem me lê esta publicação na Gnose desde a Holanda informo que não há custo de envio no país e se for encomendado antes das 15:00 no dia seguinte está na sua casa. O pagamento pode ser feito via iDeal (grátis), PayPal (+ 4%) e cartão de crédito (+ 4%). Desfrutem ...


quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Comboio do Monte - Cronologia ilustrada



17 de Fevereiro de 1887 - Concessão de um "elevador" atribuída a António Joaquim Marques (de Lisboa). Raoul Mesnier du Ponsard nomeado engenheiro responsável pela obra.

 24 de Julho de 1890 - Transferência de concessão para o Capitão Manuel Alexandre de Sousa (da Madeira).

1890 (3º trimestre) - Criação da Companhia do Caminho de Ferro do Monte.

22 de Janeiro de  1891 - Aprovação do projecto de construção das infraestruturas.

a partir de Fevereiro de 1891 - Construção da estação do Pombal e início do assentamento da via férrea, de bitola métrica, que usou o sistema de cremalheira "Ringenbach".

1893 - Construção da locomotiva Nº1, na fábrica alemã Maschinen Fabrik Esslingen, de Emil Kessler, com a numeração 2568.

13 de Abril de 1893 - Chegada ao Funchal procedente da Alemanha, a barca dinamarquesa “Concordia” com material para o Caminho de Ferro do Monte, onde se incluem a primeira locomotiva e carruagem.

16 de Julho de 1893 - Inauguração do troço entre a estação do Pombal e o apeadeiro da Levada de Santa Luzia.

29 de Agosto de 1893 - A coordenação das obras do Caminho de Ferro do Monte passa do Capitão Manuel Alexandre de Sousa, para os engenheiros civis Aníbal Trigo e Adriano Trigo.
Comboio na estação do Pombal (fotos Museu Vicentes)
1894 - Construção da locomotiva Nº2 com a numeração de fábrica 2654.

Julho de 1894 - Navio a vapor alemão “Zeus” transporta para o Funchal a segunda locomotiva e carruagem.
Comboios na estação do Pombal (foto Museu Vicentes)
5 de Agosto de 1894 - Início das viagens entre o Pombal e o Atalhinho (Monte).

14 de Agosto de 1894 - Avaria da locomotiva Nº 1 sendo posteriormente reparada.

Abril de 1896 - Início das obras de assentamento da via do Caminho de Ferro Americano. Sistema de carros de 2 eixos, traccionados por 3 mulas,  que circulam sobre via férrea de bitola de 2 pés (61 cm) embutida no pavimento.

3 de Junho de 1896 - Inauguração do Caminho de Ferro Americano.
Carros Americanos na antiga Praça da Constituição - actual Largo da Restauração (fotos Museu Vicentes)
20 de Agosto de 1900 - Manoel Bettencourt Sardinha arremata em hasta pública o material da Companhia do Caminho de Ferro Americano, que passava por dificuldades financeiras.

22 a 24 de Julho de 1901 - O Rei D. Carlos I visitou a Madeira e fez questão de viajar no Comboio do Monte.
Comitiva real a bordo do comboio com destino ao Monte (foto colecção particular)
7 de Abril de 1902 - A Companhia do Caminho de Ferro do Monte toma posse do material da Companhia do Caminho de Ferro Americano, sendo o serviço retomado a partir de 5 de Junho.

1903 - Construção da locomotiva Nº3 com a numeração de fábrica 3254.

21 de Março de 1904 - Inauguração do Monte Palace Hotel
Vista da linha entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia (foto Museu Vicentes)
12 de Julho de 1910 - Decidido prolongamento da linha até ao Terreiro da Luta.

1911 - Construção da ponte e da estação do Monte e ainda do Restaurante Chalet Esplanada no Terreiro da Luta.

1912 - Construção da locomotiva Nº4 com a numeração de fábrica 3668.

24 de Junho de 1912 - Inauguração do troço Monte - Terreiro da Luta. O términus da linha ficava situado a 850 metros de altitude e a uma distância de 3.850 metros da estação do Pombal.
Comboio na ponte do Monte (foto Museu Vicentes)
Vista da estação do Monte (foto Museu Vicentes)
Vista do terminus da linha no Terreiro da Luta (foto Museu Vicentes)
 28 de Julho de 1914 - Início da I Grande Guerra. Suspensão do fluxo de turismo para a ilha da Madeira.

1915 - Termina o serviço da Companhia do Caminho de Ferro Americano. A via foi removida no ano seguinte.

11 de Novembro de 1918 - Final da I Grande Guerra. Retoma gradual do turismo.
Vistas do local do acidente (fotos Museu Vicentes)

10 de Setembro de 1919 - 18h00 - explosão da caldeira da locomotiva Nº4 entre a Levada de Santa Luzia e o Livramento. Este acidente deveu-se a um defeito de fabrico da caldeira desta locomotiva, que não aguentou o excesso de pressão do vapor. No comboio seguiam 56 passageiros. Em consequência da explosão morreram o maquinista, o fogueiro e 2 passageiros.

11 de Setembro de 1919 a 1 de Fevereiro de 1920 - Suspenso o serviço de comboios para o Monte em consequência do acidente.

1925 - Construção da locomotiva Nº5, na fábrica suiça Schweizerrische Locomotiv & Maschinen Fabrik - Winterthur, com a numeração 3122.
Locomotiva Nº3 nas proximidades do Monte e locomotiva Nº5 na estação do Pombal (fotos Museu Vicentes)
1926 - Inauguração do Grand Hotel Belmonte (actual Colégio Infante Dom Henrique).

11 de Janeiro de 1932 - 14h45 - descarrilamento no sentido descendente, logo abaixo do Terreiro da Luta, com a locomotiva Nº6. O acidente deveu-se ao facto de se ter partido uma das alavancas do freio, indo a locomotiva parar ao fundo da ribanceira, ficando irremediavelmente destruída. A locomotiva Nº6 foi construída nas oficinas da estação do Pombal, utilizando o chassis da locomotiva Nº4 conjuntamente com peças suplentes existente no stock da companhia. Por sua vez a carruagem ficou imobilizada a 4 metros da linha segura por um pinheiro. Deste acidente resultaram 1 morto (maquinista) e três feridos.
Locomotiva Nº6 na zona da Levada de Santa Luzia (foto Museu Vicentes)
1938 - Fim do serviço comercial do Caminho de Ferro do Monte.

1 de Setembro de 1939 - Início da II Grande Guerra. Suspensão do fluxo de turismo para a ilha da Madeira e toda uma série de restrições económicas.

29 de Março de 1943 - Terminou oficialmente o serviço do Caminho de Ferro do Monte.

13 de Maio de 1943 - Venda das instalações e material circulante, arrematados em hasta pública por Francisco Alves de Sousa (do Porto) pela quantia de 1.500.150$00.

17 de Maio de 1943 - Última viagem do comboio, organizada por Francisco Alves de Sousa, tendo como passageiros família e amigos. Entre os convidados destacava-se o famoso arquitecto Cottinelli Telmo. A viagem deste comboio com a locomotiva Nº5, partiu do Pombal às 11h00 com destino ao Terreiro da Luta. Depois de uma paragem para admirar a paisagem, o comboio desceu até ao Grand Hotel Belmonte onde foi celebrado um grande almoço.
Última viagem do comboio (foto Museu Vicentes)
Maio e Junho de 1943 - Remoção do material da via férrea (balastro, travessas, cremalheira e carris). Todo o material circulante e demais componentes metálicos foram exportados para sucata.

2 de Setembro de 1945 - Final da II Grande Guerra.

1953 - Calcetamento do pavimento do que é actualmente a Rua do Comboio.


Principais tipos de material circulante usado no Caminho de Ferro do Monte (desenhos de Eugénio Santos)


Bibliografia:
BLOCH, Nils, (2003), Portugal Pa Skinner, Mariager (Danmark), Skinne Boger, 372 p.
CALDEIRA, Abel Marques, (1964), O Funchal no Primeiro Quartel do Século XX, Funchal, Empresa Madeirense Editora, 200 p.

HARRER, Heinrich, (1984), Gaisbergergbahn, Die Salzburger Zahnradbahn, Wien, Verlag Josef Otto Slezak, 96 p.
PEREIRA, Eduardo C. N., (1989), Ilhas de Zargo, Volumes I e II, 4ª. Edição, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 784 p. e 887 p.
PORTUGAL, CP - Comboios de, (2006), Os Caminhos-de-Ferro Portugueses 1856-2006, Lisboa, CP - Comboios de Portugal, 238 p.
SILVA, José Ribeiro da, e Manuel Ribeiro, (2009), Os Comboios em Portugal - Volume V, Lisboa, Terramar, 280 p.
SILVA, Padre Fernando Augusto da, e Carlos Azevedo Menezes, (1920), Elucidário Madeirense - Volumes I, II e III - 1ª. Edição

SUMARES, Jorge, Álvaro Vieira Simões e Iolanda Silva, (1983), Transportes na Madeira, Funchal, Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 242 p. 

Agradecimentos:
António Fournier e Manuel Sirgado Sousa

Texto redigido segundo o Acordo Ortográfico de 1945
Eugénio Santos - Dezembro 2018

Meu reino por um jantar partidário.


Há gente que vai aos jantares partidários todos. Desde os da Esquerda aos da Direita. São aqueles preços sedutores, quase dados e que, mesmo assim, os partidos acabam por pagar tudo de uma ou de outra maneira. Os jantares, que deviam pressupor uma afluência voluntária dos militantes unidos em prol dum ideal e objectivos e caminhos comuns, tornaram-se uma caça ao número de comensais. Os infiltrados tiram fotos dos ângulos mais desfavoráveis. Os publicistas da casa tiram fotografias de ângulos mais fechados e favoráveis (principalmente se a sala estiver mal composta). A Comunicação Social passa por lá. Para gravar 20 segundos de declarações do presidente. O tempo aqui é relativo e proporcional ao peso político do partido que nesse dia janta. Todos os dirigentes se comprimem e acotovelam para aparecer no plano fechado durante as declarações do presidente. Há uns tipos que só aparece sempre meia cara (o que até pode corresponder à realidade do empenho do dito senhor). Enche-se um pavilhão, um restaurante, vêm autocarros, viaturas particulares, de toda a ilha... comer e beber de borla e tirar umas fotografias. Para quê? Qual foi a última vez que um destes comensais, (dos que vêm no autocarro), manifestou uma qualquer dúvida numa assembleia ou conselho do partido? Qual foi a última vez que um desses comensais assumiu uma posição pelo seu núcleo habitacional, pela sua freguesia, pelo seu concelho, pela sua cidade? Quantas vezes o partido o apoiou e perguntou o que ele precisava? O que são os partidos hoje? Para que servem? O que servem? Quem servem? Como funciona um país cuja filosofia política assenta nesta realidade? Que futuro terá? Por alguma razão o descontentamento alastra pelo mundo. Está a chegar-nos à porta. É inevitável. São pessoas que se sentem marginalizadas. sem representação, que não são ouvidas nem tidas em conta, que pagam os seus impostos e vêm a vida a dificultar-se a cada dia, são os profissionais sem condições nos sectores que deviam assegurar os mínimos previstos na Constituição para os cidadãos, são os que sentem a desigualdade do peso da Justiça e da Lei.

O movimento, seja ele de colete ou "sans culottes" é fruto dum prolongado silêncio forçado que se esbate. É a realidade que se aproxima a passos largos, trazendo a justiça popular, a desordem, o caos, a re-formatação de todos os valores e de todos os princípios. Não pensemos que está distante porque não está. A França cedeu. A Espanha, por medo, aumentou logo em 100 Euros o salário mínimo. Na realidade, apenas ganharam algum tempo, pouco. As populações estão mais informadas, a exigência subiu e os partidos fingiram que não estavam a ver. Ponho a responsabilidade nos partidos políticos e na sua prepotência, na sua arrogância, no seu afastamento dos cidadãos, em toda a corrupção que instalaram em todos os sectores. Justiça, Saúde, Educação, Habitação, indústria, Agricultura, Pescas, Estado Social, ...

Precisamos de estar atentos às pessoas com valor e de estar ainda mais atentos às pessoas com preço. Senão, mais uma vez, pagarão os dos costume - Nós.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

M&M&M - Movimento Minions na Madeira

Se a Madeira tiver um movimento de indignação amarelo
só poderá ser de Minions.


Os movimentos de coletes amarelos brotam naturalmente da classe média, agastados com um "clube de elites" que vagueia sempre pelo poder para abusar  das decisões e retirar dividendos do Orçamento. Depois surgem os extremistas que se aproveitam do afluir massivo de cidadãos por uma causa para transparecer de que estão a crescer. Os mais agastados e injustiçados aderem, a agressividade dá expressão a sua indignação. Convertem-se nem que seja por horas, o suficiente para ser notícia.

Nunca chega a ocasião da melhoria das condições de vida dos que mais contribuem para os orçamentos e, estes, estão cada vez mais pobres a sustentar toda gente. Já se fala em mais uma crise, dessas de abusos e ganância dos poderosos que atiram a toalha ao chão para que o povo pague. Surgirá o desplante de que os parcos recursos mal geridos é que fazem a crise, ou seja, quem recebe orientações (o trabalhador) é o culpado.  Os que provocam a crise raramente vão presos ou se tornam pobres mas o povo vê a sua vida dilacerada perdendo muitos anos de trabalho porque os poderosos decidem, unilateralmente, a forma de lhes "roubar" os rendimentos, ou os bens, para pagar a crise.  Esta gente abusa e mina a democracia, não a indignação dos lesados.

Quando se passa imenso tempo com tangas, inevitabilidades, crises e sem consumar benefícios da Governação para a população é de suspeitar e de se indignar. A permanência dos mesmos é sintoma de algo de errado, a democracia é para gente civilizada numa dialéctica de ideias e argumentos e não pode ser entendido como um emprego para toda a vida usando mentiras e artificialismos para tudo justificar. A democracia concede apoio aos partidos, para estes nunca chega nem as suas próprias contas estão em ordem. Sem suporte financeiro esquemático as suas instituições acabariam por encerrar mas ... querem gerir o dinheiro de todos. Mandam abrir empresas mas eles não optam por esse caminho deixando o poder, no máximo acedem a uma percentagem nalguma com garantia de acesso ao Orçamento Regional através de uma S.A. Bom mesmo é mexer nos fundos.

A Madeira enferma mais do que outros desta situação e só não teve um movimento do tipo coletes amarelos porque o seu povo é cobarde ou tem que ser cobarde. Se tem que ser para sobreviver então isto tem pelo menos uma ditadura, a da palavra, suportada pela ideia de que o poder é posse das elites prevaricadoras e não conferido pelo povo. Durante muito tempo e até à presente data se usou artifícios para manietar o raciocínio e as atitudes do povo usando, sobretudo, o seu próprio dinheiro através do Orçamento Regional.

Há várias ideias erradas neste contexto da democracia regional. O Orçamento Regional é dinheiro de todos e, o Governo Regional, não tem uma especial atenção de caridade por usá-lo numa pequena parte no povo e o resto para os amigos. A sua obrigação é total com o povo eleitor. O dinheiro é do povo que deve sugerir onde aplicá-lo com a devida ponderação através dos seus representantes, esses da rambóia no Parlamento. As maiorias absolutas estão a revelar-se completamente inúteis para o progresso do povo e da Madeira, são antes a garantia de financiamento das elites. Agora que se vêem na iminência de perder poder estão zangados com todos e descarregam as suas vísceras, o que comprova a ideia de posse da democracia, da razão, de tudo. É preciso uma reciclagem, de preferência na oposição caso contrário não descem à humildade.

É curioso que o Orçamento Regional tem a preocupação de manter muitos empresários do regime ligados à máquina, se esta falha acontecerá como nos clubes de futebol regionais, se não é tudo oferecido e pago, caem. Não temos economia para dedicar parte significativa do Orçamento Regional para sustentar caprichos de ricos como o Campo de Golfe do Santo da Serra. Parece uma opinião desajustada mas pergunto, porque nada se mantém viável sem o Orçamento Regional? Se é importante para o turismo porque não tem um sucesso natural? Não se passaram anos suficiente para tornar o negócio maduro?

Para além de um povo domado pelas necessidades, por isso estamos cada vez mais pobres,  os esquemas em concursos que beneficiam a facturação dos mesmos, cada vez mais por ajuste directo, tem por obrigação estar disponível para fazer política, fazer chegar uma doação, uma oferta de Natal, a compra de bens a entidades que fazem parte no "esquema" de poder. Ainda veremos mais cabazes neste Natal? Assim se dá importância às empresas na Democracia e é por esta razão que alguns candidatos mais depressa se lembram de um empresário para ganhar eleições do que do povo que vota.

Tudo isto funciona para calar, vergar, e sentir necessidade de participar na Máfia no Bom Sentido por objectivo político e não por serviço ao povo e a região. Grande parte do orçamento serve para suportar delírios e não para elevar os rendimentos das pessoas para que a economia funcione sem dependência do Governo Regional. 

No dia em que o povo deixar de ter medo num clima de justiça e que o seu ganha pão não seja alvo dos medíocres da democracia, estaremos a ter uma economia mais saudável e uma melhor democracia. Esta "coisa" que vivemos só permite que o poder económico alimentado pelo Orçamento Regional (nosso dinheiro) disponha da democracia comprando partidos e políticos, para que estes últimos criem cenários surrealistas de sua conveniência para manter o poder a todo custo. Criando uma comunidade falsa nas redes sociais para simular um grande povão apoiante que nunca aparece (de forma livre e espontânea) na prática a apoiá-los. No permanente denegrir da imagem das pessoas que dizem a verdade e são leais ao povo. Pela compra de votos usando as necessidades extremas do mesmo. Um sem fim de atitudes doentias, também alimentado por ambiciosos sem escrúpulos que se deixem vender. São a vergonha da democracia.

Precisamos de liberdade e ponderação na nossa Democracia, está doente por culpa da canalha que por lá reside e que aprendeu mal a lição dos seus líderes, outros abjectos.

Cuidado com as subtilezas que culpam sempre o povo e não claramente os Governos:

Somos nós que usamos o Orçamento Regional para fazer política?



Comecem a dar força a gente decente se os partidos colapsaram, caso contrário levarão a pior parte e ainda serão gozados:



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O pensamento rasteiro mata a riqueza da pluralidade

O estado de inveja acontece nas coisas mais corriqueiras da vida. As relações profissionais estão cheias desta realidade. As famílias alimentam-se deste sentimento como do pão para a boca. As religiões ou as igrejas também vivem esta miséria com a mesma frequência que pronunciam orações. E dos invejosos digo o mesmo que disse Ambrose Bierce, são uns cobardes. E cobarde para este autor era alguém que, numa situação perigosa, pensa com as pernas.

Os rancores que muitas vezes as pessoas expressam umas contra as outras estão associados à inveja. Se quisermos, os invejosos são os nossos inimigos. Mas sobre os inimigos Oscar Wilde ensinou que a melhor resposta consiste em perdoar-lhes sempre, porque nada os aborrece tanto.

A inveja não pode ter qualquer base de inteligência porque a inteligência é um dado essencial do ser pessoa e do ser Homem. Porque é muito mais fácil a uma sociedade ou às autoridades lidarem com a inteligência, por mais perversa que ela seja, do que com a estupidez, que é muito mais difícil, pois tudo o que se diga aos estúpidos entra-lhes por um ouvido e sai pelo outro.

Não é fácil de modo nenhum conviver com as diversas situações onde a inveja comande as atitudes das pessoas, porque facilmente tudo se reduz a estupidez e a pior coisa do mundo é ter que aturar estúpidos invejosos.

Na nossa terra existem dois modos de ser gente que se acha no direito de dizer e fazer tudo o que lhes apetece, com o prejuízo que isso implica para os seus semelhantes, que eles não consideram adversários ou os outros que merecem apreço, mas inimigos só porque discordam e são diferentes na idiossincrasia que natureza lhes deu ou não comungam dos mesmos ideais partidários/sociais/religiosos/doutrinários... Trata-se estes dois modos de ser, da cambada de anónimos e alguns eleitos pelo povo, que assumem cargos de relevância ao serviço da causa pública.

Os primeiros sob a capa do anonimato, cobardemente, entendem, que perante esse poder, o boato, a calúnia e tudo o que seja inverdade sobre outrem e sobre as instituições, pode ser dito ou levado à prática, porque a capa negra do anonimato os protege. Esta imunidade advém do ser pusilânime e da falta de coragem. E com isto diz-se tudo o que der na real gana, sob a arma do anonimato, até que o respeito se torna palavra vã e com isso pouco importa que o bom-nome dos adversários se enterre na lama. Tudo o resto são favas contadas. É pena que muita gente faça desta conduta uma forma de vida em sociedade. Nenhuma trela se deve dar a esta gente.

Os segundos são ainda mais preocupantes. Ora do alto dos palanques ora ao discorrer da pena (hoje será melhor dizer do teclado), aclamam o que entendem poder dizer sobre todos, são eleitos, têm o voto do povo assegurado, para lhes garantir tal imunidade. Têm poder. Coisa que a maioria não sabe o que é… Essa condição «divina» dá-lhes autoridade para ofender, chamar nomes ascorosos e classificar indignamente.

Este grupo é o mais repugnante de todos por duas razões: primeira, porque, simplesmente, deviam honrar o cargo que a eleição lhes conferiu, que deve ser tomado sempre como um serviço para todos, mesmo até para os que se considerou adversários num determinado momento. Segunda, estes cargos, tomados por eleição, devem ser exercidos com um sentido de missão pelo bem comum, com atenção muito especial por todos os que nessa pessoa tenham votado e também pelos outros que eventualmente tenham votado em sentido contrário. É assim a Democracia.

Então é vê-los diante das coisas da vida qual sabichões de tudo, acusando, analisando e propalando tiradas ao vento mesmo que não tenha base na verdade que viram, sentiram e pensaram… Bastou que alguns lhe «dissessem», «mostrassem» ou «entregassem». Mas, se reclamamos, que vem num contexto, num tempo e com uma razão concreta, isso nada importa, porque se deseja ficar bem, agradar e conseguir intentos pessoais.
Basta aos que nos «dizem» a mesma comunhão de ideias e a mesma cor partidária. Assim, mostram que são os únicos e que, por isso, podem com a sua divina autoridade proclamar as regras morais para os outros.

Estes senhores do sistema instalado, consideram os outros uns mentecaptos, mesmo que pensem, não têm direito a opinar, pensam diferente, por isso, não se faça tarde para chamar-lhes nomes, classificá-los de arrogantes, «donos da verdade», sabichões de coisa nenhuma, etc.

Por fim, fica-nos o que ensinou Erasmo, que os parvos sempre acham admirável aquilo que menos entendem. Também sabemos que de parvos nada reza a história do mundo.